Ideias para Debate

Sunday, July 31, 2005

Para que não se diga que não se sabe

Para que não se diga que não se sabe, aqui vai uma crónica de Luis Fernando Veríssimo:

L.F. Verissimo
O Globo On Line
Data : Domingo, 31 de julho de 2005





A redenção de Judith Miller


Não faltam motivos para pedir o empixamento do presidente. Não do Lula, do Bush. Um memorando sobre o clima pró-guerra em Washington preparado para uma reunião do gabinete inglês em 2003 e publicado agora diz com todas as letras que o governo Bush estava “arranjando” informações para justificar uma invasão do Iraque. O arranjo incluía dados sobre armas de destruição em massa que não existiam e referências a uma compra pelo Iraque de urânio da África que não houve. Quem disse que não houve a compra foi o próprio encarregado pelo governo Bush de verificá-la, Joseph Wilson, que não só a negou como depois escreveu um artigo denunciando o fato quando o governo, mesmo assim, encampou a informação falsa. Para se vingar, a Casa Branca, através do principal estrategista político de Bush, Karl Rove, tentou desacreditar Wilson, passando para o colunista conservador Robert Novak que ele era mandado pela mulher, uma agente da CIA. Novak publicou a inconfidência com o nome da mulher e cometeu um crime, pois é proibido revelar a identidade de agentes da CIA. Não foi processado por isto, estranhamente. Processados foram dois repórteres, da revista “Time” e do “New York Times”, que tocaram no mesmo assunto e se viram intimados por um juiz a revelar a origem da informação. O repórter da “Time” dedou Karl Rove. Investiga-se a responsabilidade de Rove no episódio e Bush ainda não deu sinal do que irá fazer com um (para todos os efeitos legais americanos) delator dentro da Casa Branca, com acesso a todos os segredos de Estado. Assim, uma fofoca e um legalismo ameaçam a confiança no presidente mais do que sua responsabilidade pela morte de quase 2 mil soldados americanos e dezenas de milhares de civis iraquianos, até agora, numa guerra arranjada.


Mas tudo isto é só um preâmbulo para comentar o curioso caso de Judith Miller, a repórter do “New York Times”. Ao contrário do seu colega da “Time”, Judith se recusou a nomear sua fonte e foi presa. Ela foi muito criticada porque na fase da preparação para a guerra se tornou quase que uma porta-voz de Ahmed Chalabi, o escroque que produziu muitas das falsas razões para os americanos atacarem o Iraque. O próprio “New York Times” reconheceu depois, oficialmente, que tinha sido manipulado por Chalabi e seu grupo. Miller, uma veterana do jornal e vencedora de um Prêmio Pulitzer, nunca foi punida, mas sua reputação no meio jornalístico sofreu e ela era apontada como exemplo da submissão de boa parte da imprensa americana ao clima guerreiro fabricado pelo governo Bush, na época do arranjo. Agora, preservando a sua fonte e protegendo o direito do jornalista à confidência total, Judith Miller é a heroína da classe. Não ficará muito tempo na cadeia — apenas o suficiente para se redimir.

Friday, July 29, 2005

Poema

Nesta altura do debate creio que tem cabimento colocar aqui um poema, que li no chuinga.i :

Saldo Negativo

Dói muito mais arrancar um cabelo a um europeu
que amputar uma perna, a frio, a um africano.
Passa mais fome um francês com três refeições por dia
que um sudanês com um rato por semana.
É muito mais doente um alemão com gripe
que um indiano com lepra.
Sofre muito mais uma americana com caspa
que uma iraquiana sem leite para os filhos.
É mais perverso cancelar o cartão de crédito a um belga
que roubar o pão da boca a um tailandês.
É muito mais grave deitar um papel para o chão na Suíça
que queimar uma floresta inteira no Brasil.
É muito mais intolerável o shador de uma muçulmana
que o drama de mil desempregados em Espanha.
É mais obscena a falta de papel higiénico num lar sueco
que a de água potável em dez aldeias do Sudão.
É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda
que a de insulina nas Honduras.
É mais revoltante um português sem telemóvel
que um moçambicano sem livros para estudar.
É mais triste uma laranjeira seca num colonato hebreu
que a demolição de um lar na Palestina.
Traumatiza mais a falta de uma Barbie a uma menina inglesa
que a visão do assassínio dos pais a um menino ugandês
e isto não são versos; isto são débitos
numa conta sem provisão do ocidente.

de Fernando Correia Pina

Com este post inauguro-me na complexa tecnologia de fazer links. Se resultar isso deve-se às pacientes lições doTeixeira .
Se não resultar, deve-se à minha incapacidade total para estas coisas.

Wednesday, July 27, 2005

Mais uma contribuição

Do Nelson Maximiano veio mais uma contribuição para o debate:


Um sistema em caos ou o triunfo do terrorismo?

Permitam-me que me intrometa por instantes no debate. Penso que todas as partes
concordam que o racismo é um problema que se engrandece neste momento. As
causas do problema me parecem identificadas, ou pelo menos se assumem como
identificadas. A avaliação destas causas é que me parece enviesada. Quero crer
que há um bias na analise quando se diz que o problema do terrorismo é do mundo
Arabe. Não creio, mesmo porque esta não é a unica sociedade da qual a história
nos apresenta exemplos de terrorismo.

A história é fundamental para uma percepção mais clara do problema. Porque
existiram exemplos de actos terroristas (de origem não Arabe!)?
Como se obteve alguma margem de sucesso no combate a estes exemplos? Estou
consciente de que a gravidade e caracteristicas do terrorismo "made in Arabias"
são impares. Mas o ponto que pretendo defender é que mesmo que a solução seja
necessariamente militar, ela terá que ser altamente re-organizada. Diria mesmo
organizada. Porque não me parece que haja um sistema estruturado e organizado
para combater o terrorismo. Se houvesse o alerta no combate ao terrorismo seria
mais eficiente, os passos tomados pelos terroristas seriam previsiveis e
controlados. A situação que ocorre actualmente é um conjunto restrito de
potencias (USA e UK basicamente) que levanta voz, mundos e fundos criando uma
situação de tensão e pânico que só ajuda os terroristas.
Concordo com quem advoga que um combate bem sucedido ao terrorismo passa por percebermos como funciona (não a cabeça dos terroristas) mas sim a máquina terrorista, por se formar gente altamente especializada nesta materia, gente que viva e conviva com terroristas, que conheça profundamente o sistema. Tudo isto, mais do que tempo e dinheiro custa o orgulho Americano e Britanico, o custo será
transformar o desprezo e arrogancia em humildade e respeito, a unica forma de
derrotarmos este "sistema" é dando-lhe o devido respeito, estudando
profundamente o seu modo de funcionamento e atacando pela raiz do problema "a
motivação, a crença e a fé". É preciso descredibilizar o terrorismo não dando
motivos para que este ganhe adeptos entre os praticantes da religião islamica,
isso so é possivel se a politica de combate ao terrorismo for suficientemente
organizada. E com organizada pretendo sublinhar a gestão, o controle, a
implementacao e a avaliacao.

Será necessario GERIR A CRISE nas sociedades islamicas. Isso nunca será feito
com a manutenção da actual arrogancia. A gestão da crise passa pela
pacificação do ambiente. Se o problema do terrorismo está nas sociedades
islamicas então que se resolva o problema das sociedades islamicas. Combater o
terrorismo militarmente sim! Combater as sociedades islamicas e seus lideres
militarmente é um erro fatal.

É fundamental CONTROLAR A TODO O CUSTO AS ACTIVIDADES TERRORISTAS. Usando
sistemas de informação, espionagem, e, acima de tudo, integrando nas equipas de
controle elementos profundamente conhecedores da "cultura de terror" do
extremismo islamico. É preciso compreender como pensam os dirigentes dos
pequenos ou grandes grupos de terroristas, como agem estes grupos para
infuenciar emigrantes islamitas a integrar a sua causa, como infiltram os seus
membros nas sociedades ocidentais.

É preciso criar um sistema de controle eficaz e altamente preparado e
financiado.

É necessario implementar ou executar ofensivas (não apenas militares e
economicas) mas tambem do ponto de vista ideológico. Investir no isolamento dos
grupos terroristas, na separação entre o islamismo e o extremismo islamico, na
aniquilição ideologica, economica e só depois militar destes grupos. Ou seja, é
preciso cortar a fonte de "replacement" das unidades terroristas, cortar os
meios financeiros que alimentam estas unidades e fazem com que os seus
executantes (ou suas familias) se tornem milionários. É preciso cortar as
fontes de armamento e treino militar. Ou seja, é preciso de forma organizada
enfraquecer e isolar o "sistema".

E é fundamental avaliar todos os passos supracitados e readaptá-los ao que
julgo será a resposta ou reacção destes grupos extremistas ou terroristas.

Em suma é preciso criar um sistema organizado de combate ao terrorismo
organizado. Sem pânico, sem arrogâncias e sem desprezo. É fundamental
trasformar o actual “sistema em caos” num verdadeiro sistema de combate ao
terrorismo, aos grupos extermistas, mas não ao islamismo em si. Isso seria um
terrivel erro.

PS: As minhas condolências à familia do brasileiro Jean Charles de Menezes que
foi vitima do “sistema em caos”, do sistema desorganizado e mal preparado.



Resposta longa

O Sérgio Gomes continua o diálogo com o Elisio Macamo, com o texto que se segue:

O Que o Ocidente pode Fazer – Resposta ao Elísio Macamo

Tem sido bastante excitante trocar ideas com o Elisio Macamo. Cada vez que vejo uma reação dele ignoro todo o resto só pra tentar perceber o alcance das suas frases que confesso terem um sentido profundo de quem sabe o que diz. Não tem sido tarefa fácil mas tenho procurado dar o meu melhor tentando assumir um posicionamento imparcial e tentando evitar que as minhas paixões e os meus ódios influenciem o resultado da abstração. Julgo ter dito muito sobre este tema neste blog (o único sitio pra onde escrevo), mas o Elisio foi levantando algumas questões que exigem que eu alongue mais esta reação (comaprativamente aos comentários no fundo do texto) na expectativa de cobrir o essencial do debate.

O Elisio tem insistido na necessidade de nós não termos que racionalizar demasiado sobre o Terrorismo e as suas motivações. Contrariamente, acho que o nosso papel deve ser também o de procurar encontrar racionalidade mesmo em situações aparentemente irracionais. Só assim se podem encontrar e sugerir soluções sustentáveis.

Segundo, O Elisio diz não perceber que responsabilidades nós temos (resto do mundo) sobre a incoerência do mundo Árabe. Eu acho que temos responsbilidades perante nós mesmos e perante as sociedades que esperam algo de nós. Recordo-me agora de um seu pronunciamento, perante uma audiência formada por uma maioria aspirante a diplomata Moçambicano, no qual ao te referires ao Ocidentes dizias que deviamos criar um pensamento Moçambicano que vise potenciar-nos de um conhecimento crítico sobre as instituições ou entidades estatais ocidentais. Isso serve também em relação aos terroristas e às sociedades que lhes produzem. E mais, temos de facto que perceber como funcionam e como definem os seus interesses porque só isso nos poderá dotar da capacidade de antecipação dos seus actos. Por enquanto, o Ocidente é alvo mas nada impede que esses actos se possam alastrar. É minha convicção que a compreensão do fenomeno do Terrorismo não pode ser feita por simplificação mas sim a partir de uma abordagem holistica do assunto.

Diz o Elisio que não sabe o que se deve esperar do Ocidente para evitar conotações de conivência. Ora, receio que seja dos poucos que não querem ver a questão. Há muito que o Ocidente pode fazer mas duma forma resumida:

  • Espera-se que o Ocidente representado e liderado por Bush e Blair se demita da auto-mandatada missão de impor o modelo político ocidental nestes países. Até que os valores ocidentais podem ser merecedores de admiração nestes cantos mas, a imposição não é a melhor forma de os fazer presentes. Eles devem ser vendidos não por via da sua dimensão negativa (conflito) mas sim pelas suas qualidades que são tantas e talvez nem precisassem de um trabalho profundo de marketing;

  • Espera-se não que o Ocidente se demita de criticar mas que o faça com o mesmo peso e medida. Que critique também os actos que Israel comete sobre os Palestinianos de igual forma que o faz em relação à incapacidade da Autoridade Palestiniana exercer controle sobre os grupos armados. É mportate referir que os palestinianos (com poucos recursos) têm recebido demasiada pressão do Ocidente enquanto que o Israel (com mais recursos) tem apenas recebido carinhos. Talvez isso seja uma dádiva para compensar o que os Judeus passaram nas mãos do Ocidente durante o holocausto (a propósito, onde estava a razão Ocidental?);

  • Espera-se que a politica do Ocidente em relação a esta região seja de facto guiada pela promoção dos valores supremos da humanidade como seja o respeito pela dignidade humana, não porque as pessoas, grupos e insttituções desta região não respeitam os valores humanos mas simplesmente porque o pacote das liberdades fundamentais do Ocidente é mais alargado do que aquilo que se promove e defende nesta região. O que acontece, porem, é que o Ocidente tem se guiado sob a bandeira da promoção desses valores mas que na verdade tem dado primasia aos interesses económicos e político estratégicos às vezes chocando com os princípios que mais defende. O acesso aos campos petrolíferos do Golfo assume saliência nesse aspecto;

  • Espera-se que o Ocidente seja consistente na sua luta contra os “inimigos da liberdade” ( a nova disignação da “luta contra o Terrorismo”, aparentemente para lhe dar mais expansão). Neste particular questiona-se as razões para a diabolização do Iraque e do Irão por um lado, e por outro, o apadrinhamento do Egipto e da Arábia Saudida. Será que que Sadam Hussein era mais Autoritário que Mubarak? Ou porque Sadam tinha cortado o cordão umbilical com os EUA e disposto a abraçar projectos que ameaçavam os interesses estratégicos Americanos?(recordar que Sadam até ja havia iniciado com o uso do Euro como moeda pra compra do petróleo Iraquiano). É verdade que havia atropelos de direitos humanos no Iraque, mas só por essa consideração Mubarak não fica atrás e a consistencia implicaria que o mesmo que foi feito com Sadam fosse feito com Mubarak. Mas assim não foi porque consideraram-se outras variantes superiores à questão dos direito humanos – os interesses economicos e politico-estratégicos;

  • Espera-se que os Americanos expliquem o excepcionalismo do Israel. Questiona-se, aqui, o porquê de Israel ser permitido desenvolver um sistema nuclear para fins civís e ao Irão ser-lhe negado o mesmo direito?

Tratam-se de questões macro que o Ocidente avalia sempre em prejuízo dos povos desta região. Uma abordagem equilibrada destes assuntos pode promover simpatias em beneficio do Ocidente. É importante dizer que as únicas simpatias que o Ocidente (Bush Blair) goza são por parte das lideranças comprometidas com a vontade de se manter cada vez mais tempo no poder mesmo que isso seja em prejuízo da satisfação de seus povos. Grande parte de populares nesta região estão “pouco se lixando” com a agenda que o o Ocidente pretende promover nesta região. Este desinteresse acompanhado pela rejeição, não se deve necessariamente pela inqualidade dos valores mas principalmente pelo método selectivo que se está usando para a sua promoção. É assim que o Ocidente, sem o pretender, acaba criando condições férteis para o surgimento e desenvolvimento do ódio contra as suas Instituições e os seus valores. É isso que motiva o surgimento de redes de grupos que acham que a única forma de demonstrar o seu despreso pelo Ocidente e seus aliados regionais é o fatalismo.

Os valores, ou seja a razão ocidental é de utilidade incontestável quando a questão é a escolha entre esses valores e o caos. É por isso que grande parte de África os consome, embora com deficiências mas com pouco questionamento. Já o Médio Oriente e particularmente as sociedades Árabe-Islamicas têem uma civilização, que já foi das maiores do mundo, a preservar. Têem referências alternativas sobre como gerir eficientemente a sociedade, como manter a ordem, que são totalmente ignoradas pelo Ocidente na sua cruzada pela universalização dos seus valores. Isso provoca ressentimentos e faz com que alguns grupos mais radicais se mobilizem para defender aquilo que percebem estar a ser atacado e destruído. Reparo que esta luta não é recente, ela é secular só que tomou nos últimos tempos contornos alarmantes também pela intrasigência do Ocidente em reconhecer o óbvio – que a sua política nesta região aumenta o ódio contra si.

A abordagem do Ocidente em relação a esta região não deve ser do tipo soma zero mas sim uma abordagem que reconheça a possibilidade do melhoramento do que existe conforme os tempos em que vivemos. Isto nunca pode ser feito a partir de Washington e Londres por pessoas que transportam subjectividades em relação a esta região e aos povos (de referir que Daniel Pipe é um dos conselheiros da Administração Bush para a região). É preciso vender o bom do Ocidente buscando-se alianças com os povos e não com as lideranças, através da adopção de políticas coerentes e consistentes para a região como um todo. Nada de dois pesos e duas medidas.

Só para terminar gostaria de chamar atenção para o facto de os próprios actores que pretendem exportar o modelo democrático liberal para esta região reconhecerem que ele não é funcional para os seus interesses porque na verdade existe alternativa que é permanentemente bloqueada em alguns países desta região. Se se acredita tanto na possibilidade de triunfo do modelo porque não foi permitida a realização da segunda volta das eleições Argelinas de 1991 que já estavam praticamente ganhas por um grupo com legitimidade popular? Porque os militares na Turquia estão sempre em alerta como guardiões do secularismo? (precisa de guardas?) Porque é que se faz vista grossa à falta de liberdade em processos eleitorais no Egipto? Porque é que não pedem que a Arabia Saudita se liberalize? Como explicam que perante um moderado, que pudesse estar disponivel para liberalizar, e um radical, que não fará nenhum compromisso, os Iranianos tivessem preferido o radical? (note que as eleições foram consideradas justas no Irão). Pretendo dizer que a exportação do modelo liberal para esta região e consequente realização de eleições livres e justas traria Islamitas para o poder na Argélia, no Egypto, na Arábia Saudita (ja estão lá, mas poderia trazer não amigos do Ocidente) e em toda a região não teriamos um governo defensor do secularismo no poder. Bush e Blair pelo menos têem conhecimento disto; não é, como se deve imaginar, do seu interesse que isso aconteça, daí que fazem vista grossa já que isso permite que governos amigos continuem no poder. Onde está a razão ocidental nisto?

“What About”

Misr

Estão a ganhar !

Quando vejo uma pessoa inteligente e culta, como é o Elisio Macamo, a considerar Bush e Blair como não tão más companhias, o meu primeiro pensamento é: os terroristas estão a ganhar. Estão a conseguir que abdiquemos dos nossos valores e embarquemos em políticas monstruosas para os combater.
Elisio Macamo fala muito de inocentes. Mas não me parece que inclua as centenas de milhares de civis que foram mortos no Iraque desde que os tais Bush e Blair, utilizando mentiras grosseiras, invadiram o país.
E quem diz o Iraque diz o Afganistão, onde os abomináveis talibans parecem ter sido substituidos por outros abomináveis indivíduos, só que estes aliados dos americanos.
Há algumas dezenas de anos um Secretário de Estado (Ministro dos Negócios Estrangeiros) americano, chamado Allen Dulles, dividia os ditadores no mundo entre os "filhos da puta" e os "nossos filhos da puta". E, ficou sempre claro, que neste últimos ninguém toca.
Elisio Macamo fala do irracionalismo dos fanáticos religiosos islamicos, em contraposição ao esclarecido liberalismo ocidental.
Só que as últimas eleições americanas mostraram a força política do irracionalismo religioso cristão, que foi quem elegeu George Bush. Foi o "Bible Belt" quem elegeu Bush, não foram as zonas costeiras esclarecidas. Bush foi eleito pelos fulanos que acham que Darwin era maluco e que a verdade sobre a origem do homem é que Deus o criou do barro e, a seguir, lhe retirou uma costela para fabricar Eva. Gente que não deixa, sequer, que Darwin seja ensinado nas escolas.
Bush foi eleito, e faz o que faz, por uma mistura de cristãos fanáticos com traficantes de petróleo.
São muito mais as semelhanças com os terroristas da Al Qaeda do que as diferenças. De resto ninguém se deu ao trabalho de explicar o relacionamento da família Bush com a família Bin Laden, claramente denunciado no filme sobre os atentados na América.
Sobre a noção de "inocentes" voltarei um dia destes ao blog. É um assunto dramaticamente quente nos dias que correm.

Machado

Tuesday, July 26, 2005

Terrorismo, ainda

O Sérgio Gomes junta-se ao debate sobre esta questão:


Sobre as Soluções para o Terrorismo

Permitam-me que manifeste a minha satisfação pelo facto do blog estar a fornecer algo que em circulos académicos Moçambicanos tem sido de exclusiva competência de poucos senão de único e, portanto sem deixar espaço suficiente para diferentes interpretações e/ou debate. Está de parabéns este blog. A minha satisfação é reforçada pelo facto deste momento o blog nos estar a presenciar (consciente ou inconscientemente) com dois pensamentos actuais no debate sobre o Médio Oriente e Terrorismo. De facto o posicionamento do Elísio Macamo assume as mesmas feições daquele defendido pelo expoente Daniel Pipe, e, duma forma menos visivel, por Bernard Lewis, segundo o qual não é possivel acomodar os Islamitas. O único que se pode fazer com eles é combatê-los e derrotá-los porque caso contrário eles irão continuar a combater os valores ocidentais ou, nas palavras do próprio Elisio ao comentar o texto do Abdul, “Mesmo se o Ocidente fizesse hoje as concessões exigidas pelos integristas, o terrorismo não iria parar”. Foi este e continua a ser este o discurso que alimenta as acções do governo Bush no Afeganistão e duma forma mais complexa no Iraque. O outro posicionamento, neste blog defendido pelo Machado da Graça, está mais virado para aquilo que o Eduard Said defendia e os seus seguidores continuam a defender. De acordo com este grupo, os actos terroristas não são mais do que uma reação dos povos (particularmente islamicos) às tendências expansionistas ocidentais e também reacção ao sofrimento infrigido aos povos Muçulmanos com participação directa ou conivência do Ocidente. Ora, os dois campos tem seus fortes e fracos e o conteúdo daquilo que são as defesas e os ataques de cada campo forma o dito Political Islam que descreve a forma como diferentes actores, contra ou a favor do Islão, usam esta religião para a prossecussão de objectivos politicos. Portanto, à partida, não se trata de um conflito civilizacional, como pretendeu Huntington (num dos seus piores), mas sim de um conflito entre interpretações e do uso que se faz dessas interpretações do Islão.

Interessante neste assunto é o tipo de solução que se avança e neste caso, as soluções sugeridas tanto pelo Elisio como pelo Machado são evidentes manifestos do extremo que cada um deles ocupa no debate sobre a questão do Terrorismo. Gostaria, no entanto, de tecer alguns comentários sobre as soluções que cada um deles nos sugere.

O Elisio avança como possivel solução para o problema a necessidade do “triunfo do secularismo sobre a fé”. Não percebo ou melhor, pretendo não perceber. Assumo que o Ocidente serve de exemplo para esta sugestão que o Elisio nos oferece. Será que no Ocidente o secularismo triunfou sobre a fé ou é uma questão de coabitação pacifica entre ambos dominios, numa clara execução da maxima “ a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”? Eu acho que o Ocidente oferece-nos não necessariamente o triunfo do secular sobre a fé mas sim a coabitação pacifica entre ambos e em pior das hipóteses uma submissão, embora simbólica, do secular sob a fé. Por exemplo, os Presidentes Americanos fazem o seu juramento com a mão sobre a Biblia (e não sobre a Constituição), a Rainha da Inglaterra é também chefe máxima da Igreja mas, há uma clara separação entre os assuntos de César e aqueles de Deus porque o próprio cristianismo assim o permite.
Contudo, o Islão visto pelos islamitas (estão incluidos os moderados e os radicais), é um código de vida, regendo as relações não só entre o individuo e Allah mas também as relações entre os governados e os governantes. No Islão visto como um codigo de vida capaz de fornecer todas as respostas aos desafios da humanidade, não existe a distinção entre o privado e o público. Dai que, dificilmente possamos falar do triunfo do secularismo sobre a fé numa sociedade maioritariamente Islâmica. Cá pra mim, mais do que tentar-se desenhar, ou redesenhar, a sociedade Islâmica à luz do Ocidente, é preciso reconhecer-se que estas sociedades também podem produzir formas sustentaveis de coabitação.
Quem disse que todas as sociedades devem ter democracias liberais do tipo ocidental? O facto de se considerar o Ocidente como modelo retira a possibilidade de se considerar, por exemplo, a Revolução Islamica Iraniana como um sistema democrático, logicamente não liberal, mas que pode ser melhorado no seu aspecto humanitário. O que o Elisio nos sugere como solução requer a negação total de uma forma de gestão surgida no Médio Oriente (Irão) e a sua substituição por um modelo de gestão do tipo ocidental. Pra quem conhece o Médio Oriente o triunfo natural do secular sobre a fé é uma impossibilidade. Tal só se pode equacionar com recurso à imposição, o que tornaria o próprio sistema bastante insustentavel.

O Machado por seu turno, nos propõe que, “o que é preciso é desmotivar os terroristas. É retirar-lhes as razões da luta e a vontade de lutar”. Isso implica, necessariamente, identificar as causas da luta, identificar porque é que os povos desta região insurgem-se. Ora, a identificação das causas já foi feita pelo Ocidente e recordo ter trazido um texto, neste blog no contexto dos ataques de Londres, no qual explicava quais os factores que o Ocidente assume como causas do Terrorismo. A pobreza é vista como o maior móbil do Terrorismo pelo Ocidente. Isso é bom para Bush e Blair porque legitima o seu papel de salvadores na região. Contudo, a exclusão politica e a repressão contam tambem como grandes focos para emergência e difusão de uma ideologia anti-sistémica exigindo mudanças radicais e motivando a violência colectiva. Porque o Ocidente, para além doutras acções, apoia os Estados repressivos nesta região, então é assumido como alvo preferido dos Islamitas radicais. Portanto, é sim preciso identificar as causas do terrorismo, como o Machado sugere, mas não duma forma parcelada de acordo com os interesses estratégicos de quem identifica. Esta identificação exige uma abordagem holistica porque só assim se podem traçar soluções sustentáveis e conducentes à desmotivação dos terroristas.

Num outro desenvolvimeno, o Machado diz que “no Ocidente a influência da igreja foi diminuindo à medida que crescia a economia e a ciência” assumindo neste caso que um maior crescimento económico e elevção do capital humano poderá reduzir a influência da religião na sociedade. Contudo, a experiencia manda dizer que o nível de crescimento económico nesta região determina quem promove o Islamismo na Sociedade. Sendo que, quanto maior for o crescimento e a renda do Estado, o Estado promove o Islamismo (Islamism from above) e quanto menor for o crescimento e por conseguinte menores rendas de Estado, são grupos clandestinos e fora do contrlole do Estado que promovem o Islamismo (Islamism from below). Como diz o Elisio, a Arabia Saudita, donde brota a maioria dos terroristas, “já teve tempo de se civilizar com o bônus do petróleo”. Contudo, e assumindo eu que o ‘civilizar’ do Elisio deve ser entendido como ‘modernizar’, o pais fez grandes investimentos na promoção do Islamismo, ou seja do Wahhabismo, uma dotrina Islâmica que defende, dentre outras coisas, que o poder na Arábia Saudita deve ser exercido pela familia Real em clara contradição com os pronunciamentos segundo os quais o poder deve ser exercido pelos mais sábios ou mais capacitados. Isso quer dizer que grande parte da renda (25% do PIB fica nas mãos da familia Real) que muito bem teria feito à causa da modernização, foi aplicada tendo em consideração a necessidade de manutenção do poder através de construção de Mesquitas, não só na Arábia Saudita mas em todo o mundo, bem como o pagamento aos Imams que difundem tal ideia.
Já no Egipto e Argélia (com uma renda relativamente baixa), a promoção do Islamismo é feita por movimentos clandestinos (Muslim Brotherhood) que não poucas vezes acabam degenerando-se em grupos terroristas.

Um dos grandes problema que se tem ao se abordar a questão do Terrorismo é que nem o político e muito menos o académico podem dizer algo quando a questão é Salvacão. Portanto, quando a pessoa que se suicida aparentemente em cumprimento de uma obrigação religiosa, acredita que ao cometer tal acto está a criar condições para que a sua alma fique eternamente no paraiso. O desespero e a baixa expectativa na sociedade fazem com que as pessoas usem mecanismos ilegitimos para responder a causas legitimas (Palestina, agora Iraque, exclusão politica, repressão etc). O reconhecimento dessas causas é o ponto de partida para as soluções que não podem ser “pre fabricadas” independentemente das causas identificadas.

Perguntas sobre o terrorismo

O Manuel Ferrer entra no debate sobre o terrorismo com uma série de perguntas. Provocatórias, diria eu, sem atribuir conotação positiva ou negativa a esta palavra. O texto é retirado do seu blog Homem ao Mar.
Façam vocês o vosso juizo:

Tenho uma proposta a fazer. Melhor, não é bem uma proposta. É mais uma espécie de jogo de perguntas e de respostas. O assunto é melindroso e pode até ferir sensibilidades. Vou botar uma argola vermelhinha neste post. Vai ficar original e talvez as críticas se fiquem pela fugaz saudação, o sorriso complacente ou o encolher de ombros e se evitem assim outras expressões envolvendo familiares. Preparados?
Ora aqui vai:
#1 - Quando os Ingleses dividiram o Médio-Oriente dando riqueza a uns seus aliados e pedras a todos os outros, estes deveriam :
a)Cantar o God save the Queen
b)Rezar e boca calada
c)Emigrar
d)Inscrever-se no British Council e aprender Inglês fluente
e)Lutar por aquilo que era deles
#2 - Quando os Israelitas, armados com as mais modernas armas por ingleses e franceses, expulsaram das suas casas e das suas terras três milhões de palestinianos amontoando-os em campos de refugiados no Líbano, estes deveriam:
a)Investir as suas poupanças nos Bancos Suiços
b)Constituir-se em partidos políticos de caráter parlamentar
c)Escrever às embaixadas ocidentais a expor a sua situação
d)Reemigrar
e)Lutar contra aqueles que os martirizavam
#3 - Quando a ONU condenou Israel, dezenas de vezes, pela usurpação de terra palestina; Quando a ONU ordenou a Israel a devolução da terra, da água e dos bens palestinos de que se tinha apoderado "manu militari", os palestinos e seus aliados árabes deveriam:
a)Ter-se voltado para Meca e pedido a Alá que intercedesse por eles junto do governo de Israel
b)Enviar delegações às feiras comerciais de produtos artesanais
c)Fazer um peditório à porta das Sinagogas mais próximas
d)Pedir ao invasor uns passes especiais a permitir que as palestinianas grávidas tivessem acesso ao hospital
e)Organizarem-se para fazer frente ao invasor
#4 - Quando, os Ingleses e Americanos colocaram no poder, na maioria dos chamados Estados Árabes, umas famílias de iluminados, devidamente apoiados na melhor ortodoxia muçulmana e na mais bem treinada polícia política, garantindo assim, duma só penada, que o poder estivesse bem entregue e que os investimentos do dinheiro do petóleo seriam, realizados, em primeiro lugar, nos bancos e nas empresas anglo-americanas,os súbditos deveriam:
a)Emigrar
b)Criar Associações Recreativas e Culturais de apoio às famílias no poder
c)Ler e reler o Corão a tentar vislumbrar onde é que estava a justificação para tanta injustiça
d)Aliar-se à clique dirigente esperando uma esmola piedosa do muito que lhes sobra
e)Revoltar-se contra os respectivos Governos e contra quem os suporta
#5 - Quando os Americanos armaram o regime de Sadam e o ajudaram na sua louca guerra contra o regime do Irão que tinha acabado de se erguer de dezenas de anos de ditadura do aliado americano Xá da Pérsia; Quando armaram Sadam com as armas químicas que usou amplamente contra o exército do Irão e também contra outro espinho cravado na bota de um dos aliados principais dos americanos, e falo da Turquia e no povo Curdo, os iraquianos deveriam:
a)Gravar na memória as vantagens de ter aliados especialistas em armamento químico
b)Destruir completamente o perigoso regime do Irão e reinstalar o Xá no poder
c)Promover a produção local de armas químicas
d)Inscrever-se na Guarda Republicana de Sadam
e)Organizar a luta clandestina contra Sadam e seus aliados
#6 - Quando os Americanos organizaram o grande embuste das WMD e tiveram o empenhado apoio de Ingleses, Polacos, Portugueses, Italianos, Australianos, Austríacos, etc., e justificaram assim a invasão do Iraque; Quando bombardearam com as mais modernas bombas de fragmentação, de perfuração, de blindagem de urânio, de controlo GPS, de retardamento, de baixa, média e grande altitude, todos os alvos possíveis, militares e sociais, culturais e organizacionais, Quando as bombas caíram aos milhares sobre zonas militares e zonas civis, universidades e escolas, hospitais e embaixadas; Quando, apesar da ausência de resposta militar do regime de Sadam, os bombardeamentos continuaram de dia e de noite; Quando a caça aos soldados no meio do deserto se transformou num verdadeiro tiro aos patos; Quando a humilhação de todos os países árabes se tornou evidente; quando, só o regime fantoche da Arábia Sáudita, deu mostras de compreender e apoiar os americanos;Quando até o Papa João Paulo II condenava os preparativos para a guerra e o seu início, os árabes deviam:
a)Escrever a Kofi Anam a pedir ajuda
b)Poupar gasolina e aumentar as exportações
c)Aumentar os depósitos a prazo na banca americana e os investimentos no NYSE
d)Nada fazer
e)Espalhar a capacidade organizativa para levar a luta do seu território ao território dos inimigos e fazê-los também sofrer o horror da guerra
#7 - Quando, milhares de prisioneiros são conservados em condições que violam todas as regras civilizacionais, em barcos prisões, em bases militares americanas espalhadas pelo mundo, sem quaisquer direitos de defesa e vítimas de toda a espécie de brutalidades, como em Abu Grahib; Quando não têm direito a um julgamento nem a serem sequer identificados; Quando, afinal estão civil e militarmente mortos, sem culpa formada e ou limite temporal de prisão; O que restará às suas famílias fazer? E aos seus amigos? Aos amigos das suas famílias? Aos que os amaram?
a)Não se esquecerem de lhes enviar um folar pela Pásqua
b)Preparar-lhes um curso de inglês por correspondência
c)Esquecerem-se deles
d)Constituirem advogado
e)Tudo fazerem para difundir uma sangrenta vingança contra tudo quanto seja ocidental, cristão, judeu e americano. Custe muito ou custe pouco.

Espero sinceramente que tenham conseguido chegar ao fim do jogo. Não era para ser simpático ou próprio para salões bem-pensantes.
Está um bocado arrebenta, isso está.
Cheira a petróleo que tresanda.
Mas, aqui na barca, a própria prancha está ali a dar-nos ideias. A propor justiça.
Aliás, a justiça começa exactamente onde acaba a prancha!

P.S.- As respostas certas podem ser lidas, todos os dias, em rigoroso exclusivo, nas primeiras páginas dos melhores diários de todo o Mundo e na aberturta dos melhores tele-jornais mediante um acordo firmado entre o Homem ao Mar! e esses orgãos de comunicação social. Palavra!

Manuel Ferrer

Sunday, July 24, 2005

Ainda o terrorismo

Tenho pedido aos visitantes do blog que não coloquem longos textos como comentários. Mandem-mos por email e eu coiloco-os como posts. Têm muito mais visibilidade.

Por exemplo, o Elisio Macamo respondeu ao meu texto com um longo comentário. Aconselho que vão lá ler esse comentário e depois voltem aqui.


Pois continuo a discordar da posição do Macamo. É claro que não quero atentados em Maputo nem, de resto, em mais lado nenhum do mundo. Só divergimos na forma de actuar para que esses atentados não ocorram.
Talvez mais do que qualquer outra guerra, esta tem que ser vencida através da política. Para dizer a verdade nem sequer sei bem o que significa uma solução militar para ela. Será que os britânicos devem bombardear com mísseis o bairro de Londres de onde sairam os terroristas que fizeram o atentado sangrento no metropolitano?
Isto não quer dizer que os estados não se defendam, com os meios que lhes são próprios, contra os atentados. Quer dizer é que só isso não chega. Só isso pode ir adiando o inevitável, mas não o impede.
O que é preciso é desmotivar os terroristas. É retirar-lhes as razões da luta e a vontade de lutar.
Ora a invasão do Iraque provocou o efeito oposto. De país que não apoiava o terrorismo o Iraque transformou-se numa imensa escola de treino para os fanáticos da guerra santa.
As opções de Bush e Blair só aumentaram a raiva dos fundamentalistas. São essas opções que alimentam o terrorismo.
Volto a dizer que o verdadeiro combate ao terrorismo tem que ser feito dentro da cabeça dos terroristas. E não é com balas ou bombas, é com ideias, é com desenvolvimento económico.
No ocidente a influência da igreja foi diminuindo à medida que crescia a economia e a ciência. Penso que nos países islamicos pode acontecer um processo semelhante. Mais dificil e penoso porque os meios de destruição são hoje muito mais poderosos, mas uma das formas de se fazer a modernização necessária.
Os cientistas mais necessários para ganhar esta guerra não são os que descobrem armas poderosas, são os cientistas das áreas sociais (de que o próprio Macamo é um ilustre representante).
Infelizmente parece que no ocidente poucos são os que estudam o Islão e, portanto, pouco se sabe sobre como combater o fundamentalismo a partir de dentro. Li em algum lado que a CIA não tinha praticamente ninguém conhecedor da cultura islâmica.
E os erros que essa ignorância provoca são dos grandes atiçadores das chamas do terrorismo.

Machado

Terrorismo

O Elisio Macamo colocou um comentário ao texto do Abdul Mutualo em que contesta a utilidade de se procurarem razões para o terrorismo, dizendo que a principal razão é que ele é hoje uma forma de vida para muita gente. E que mesmo os que se deixam matar junto com as suas vítimas o fazem para garantir quantias significativas que os seus familiares irão receber.
Segundo Macamo " o terrorismo deixou de ser um assunto que poderia ter solução política há vários anos".

Ora eu discordo destas posições do Macamo e tenho medo que elas nos remetam para as de George Bush, segundo o qual a solução é meramente militar e de segurança e se resolve invadindo países e matando e torturando pessoas.
A morte, há poucos dias, de um pobre brasileiro, no metro de Londres, assassinado por um polícia demasiado nervoso, mostra onde se pode chegar por esse caminho.

Ao contrário do meu amigo Macamo eu acho que textos como o do Abdul nos ajudam a entender o que se passa na cabeça dos terroristas. E acho também que é precisamente dentro da cabeça dos terroristas que o combate deve ser feito.
E, nesse combate, penso que as mesquitas e madraças devem ter um papel fundamental.
Recordo que, quando dos atentados de Madrid, o sheik Aminudin publicou um texto em que, com base em argumentos islâmicos, condenava o terrorismo. Não sendo eu um conhecedor dos textos islamicos, pareceu-me, no entanto, argumentação sólida e, além do mais, cheia de bom senso.
Ora eu creio que esse é um dos caminhos a seguir: explicar aos jovens que o Islão não impõe, nem sequer aceita, o terrorismo. Pelo contrário, condena-o.
Se a décima parte do dinheiro gasto na guerra do Iraque tivesse sido gasto a imprimir publicações e a fazer filmes com esta mensagem, muito provavelmente os resultados teriam sido dez vezes melhores.
Mas é verdade que os Estados Unidos não estariam agora a controlar o petróleo do Iraque e as suas empresas não estariam a ganhar fortunas com a reconstrução do que os seus soldados destruiram.

Porque não acredito que a maior parte dos terroristas mate e morra por dinheiro. O desgraçado que se faz explodir junto das suas vítimas tem que acreditar em alguma outra coisa. E essa outra coisa só pode ser uma recompensa depois da morte. Ele mata-se "sabendo" que no momento a seguir irá entrar no Paraíso, cheio de coisas apeteciveis.
E é essa convicção que tem que ser combatida. Os teólogos islâmicos têm que lhes explicar que não, não vão para o Paraíso, por esse caminho. Que, muito pelo contrário, ao morrerrem matando inocentes estão a seguir mesmo o caminho que leva, rapidinho, ao Inferno.

Depois há os terroristas mais evoluidos, aqueles que matam e morrem como qualquer soldado que está convencido que deve sacrificar-se para vencer o seu inimigo. Assim como há quem se sacrifique pela pátria e por outros valores.
E, em relação a esses, a luta tem que ser mesmo política e económica. Com uma componente cultural muito forte para evitar que ideias de desenvolvimento económico que resultaram em alguns sitios sejam aproveitadas noutros sítios onde provoquem reacções negativas. A título de exemplo caricatural não seria boa ideia tentar desenvolver a economia de um país islâmico através da criação de porcos e uma industria de salsicharia.

Mas é por esses caminhos, acabando com as razões e os estímulos dos terroristas, que se pode combater o terrorismo. Não é com mísseis, canhões e soldados, por um lado, e polícias e abolição dos direitos dos cidadãos pelo outro.

George Bush, para mim o maior terrorista do mundo actual, disse que, com a sua política, o mundo ía ficar mais seguro.
Depois disso houve Madrid, Bali, Londres, Sharm el Sheik e tantos outros sítios. E continua a haver as matanças diárias no Iraque e as torturas fascistas nas suas prisões e em Guantanamo e nos barcos-prisões e nas masmorras dos aliados a quem os americanos entregam presos para serem torturados.

Estará o mundo mais seguro?


Machado

Saturday, July 23, 2005

Terrorismo no Egipto

O Ideias Para Debate tem um " enviado especial" no Egipto. É o nosso amigo Abdul Mutualo, que nos manda um texto que ajuda a compreender as explosões que abalaram estâncias turisticas daquele país.
Uma tentativa de explicação bem mais completa do que as habituais acusações à Al Qaeda que nos serve a imprensa internacional.
Aqui vai:


Luto no dia da Revolução

Eram três da manhã do dia de “Eid Thaurat” ou “Festa da Revolução” e o som de mensagem do meu telemóvel me desperta para uma realidade de medo e terror que tem estado a varrer o mundo desde os ataques ao World Trade Center em Setembro de 2001. Ligo o televisor e as cadeias internacionais confirmam o que a mensagem me dizia, pois um número elevado de explosões acabava de semear luto em muitas nações já que a instância turística de Sharm el-Shaikh é um lugar que muitos europeus, árabes, incluindo egípcios privilegiam para as suas férias, principalmente nesta época de verão; a partir daquele momento comecei a pensar numa possível análise para tão hediondo acto, sendo que a data e o local do ataque me levam a aferir um conjunto de lucubrações que a seguir partilho consigo.

Começando por olhar para o calendário, nota-se de que hoje, 23 de Julho de 2005, é feriado no Egipto por ter sido neste dia em que 1952 Gamal Abd Nasser liderou os “Oficiais Livres” para um golpe de estado contra a monarquia para a subsequente instalação da república que se esperava poder abarcar todas as sensibilidades do mosaico cultural, religioso e ideológico da sociedade egípcia. Na realidade, Nazih Ayubi assume que “a revolução de 1952 (…) representou em muitos aspectos a mistura [de ideias populistas e estatistas sem ser hostil às ideias islamitas]. Assim a revolução de 1952 “cruzou” o seguimento de várias classes e orientações.”[1] Deste modo, pode-se ver um país pacificado em termos de entendimento destas orientações, contudo quando Nasser torna-se presidente dois anos depois este estado de graça deixa de existir já que este adopta um sistema de governação assente no nacionalismo árabe e no secularismo, ou seja, numa assumpção simplista, a separação da “mesquita” da política, coisa que desagradou os Islamitas. Permitam-me abrir um parênteses para clarificar a diferença entre um muçulmano e um Islamita: o primeiro é simplesmente crente em Allah e no Profeta Muhammad (S.A.W.)[2], assumindo Islam apenas como religião, enquanto que os Islamitas assumem as mesmas convicções que um muçulmano, todavia interpretam o Islam como um código de vida e esperam ver seus estados geridos segundo os preceitos da mesma religião, ou seja, advogam o “Islamismo Político” (Political Islam em inglês) e para a consecução do mesmo recorrem ao jihad (ou Guerra Santa) contra os infiéis que estão barrando o surgimento do citado “Estado Islâmico”, pois o mundo, para estes, está dividido entre o Dar as-Salam (Mundo da Paz e dos Fiéis ou Islamizados) e o Dar al-Harb (ou o Mundo em Guerra ou dos Infiéis); portanto, esta é a ideologia seguida pelos chamados grupos radicais islâmicos. Regressando a data de hoje em que os ataques aconteceram em Sharm el-Shaikh, acabo assumindo que os Islamitas estão enviando uma mensagem ao Hosni Mubarak e às estruturas políticas do Estado egípcio para que as prometidas reformas políticas possam encaminhar este país à uma “nova” revolução que seja conducente, julgo eu, ao esperado “Estado Islâmico” porque esperam-se eleições para o dia 07 de Setembro do corrente ano e assumido que os Islamitas já disseram “Laa Mubarak, Kefeya!”, ou seja: “Não à Mubarak, Chega!”, aliás “Kefeya” é um movimento que tem estado a liderar manifestacoes contra o presidente que está no poder desde o assassinato de Anuar Sadat em 1981.

Depois da data, importa olhar o local onde as explosões aconteceram. Como se sabe, as mesmas tiveram lugar em Sharm el-Shaikh, um paraíso turístico onde Mubarak costuma receber estadistas do mundo inteiro e onde, geralmente, se realizam conferências de vária índole, por exemplo, a última do NEPAD foi lá realizada em Fevereiro do ano corrente. Na verdade, é sabido que, em grande escala, os alimentadores do PIB egípcio reduzem-se as receitas feitas pela autorização da navegação do Canal de Suez e do turismo, daí que os Islamitas sabem que ferindo o turismo, estarão ferindo o Governo de Mubarak que tanto questionamento tem recebido, interna e externamente. Contudo, esta ideia de ferir as estruturas económicas do Estado egípcio podem ser enquadradas na máxima do “feitiço virar contra o feiticeiro”, pois numa situação similar quando o Gamaat al-Islamiya perpetrou um ataque bombista contra turistas em Luxor, um dos pontos turísticos do país dos faraós, em 1997 o que fez com que o turismo caísse para níveis não antes vistos, o desemprego que assola(va) o país acabou fazendo com que os egípcios não culpar o governo, mas sim aos próprios Islamitas o que levou à uma assinatura do cessar-fogo entre as partes, contudo, assumo que pelo estilo do ataque o Gamaat al-Islamiya possa ser possível suspeito, pois apesar do citado cessar-fogo assinado em 1999 não tirou a ameaça que este grupo traz à Mubarak. Aliás, é preciso também lembrar que os Islamitas acreditam que os turistas vêem espalhar a “corrupção” e o pecado em Dar al-Islam por isso os combatem, só para se ter uma ideia, quando estive em Sharm el-Shaikh em Abril do ano transacto, me surpreendi vendo senhoras fazendo “topless”; não me surpreendi pelo acto em si, mas pelo país em que o mesmo estava a acontecer, por assim dizer, imagine-se o que um Islamita teria ou tem pensado sobre o assunto...

Portanto, os acontecimentos do “Eid Thaurat” em Sharm el-Shaikh podem ser contextualizados em muitas vertentes, mas a data e o local onde os mesmos tiveram lugar me levam a pensar em atribuir a necessidade duma nova revolução que leve ao “Estado Islâmico” bem como a necessidade de ferir uma das principais receitas do estado, como forma de protesto contra Mubarak, serem, para já, o “móbil” de 23 de Julho em Sharm el-Shaikh.

Estas são ideias que convidam-lhe à uma reflexão, pois esteja à vontade!

Abdul Manafi Mutualo

Cairo, 23 de Julho de 2005.



[1] Citado por, Nazih N. Ayubi (1999), Over-stating the Arab State: Politics and Society in the Middle East, I.B. Tauris Pub, London & New York, p.107.

[2]Swalaluahu Alaihi wa Salam”, ou seja, que a paz esteja sobre Ele e isto deve ser sempre pronunciado quando o nome do Profeta é mencionado.

Thursday, July 21, 2005

Espírito de Mudança

O blog anda muito " espiritual". Depois do Espírito do Deixa Andar e do Espíreito da Preguiça aparece agora o Espírito da Mudança, pela mão do Nelson Maximiano:



O espirito de mudança

Tenho lido quando posso e com bastante interesse as intervenções nesse blog que
você criou caro e respeitavel Machado da Graça. Desde intervenções que advogam
um ambiente de mudanças, os vícios até aos espíritos e suas respectivas
interpretações.

De todo este processo pensado e reproduzido pelos meus compatriotas em forma de
escrita (por sinal bem afinada) retiro uma deixa para o argumento de fundo
desta curta intervenção. Para o bem ou para o mal estamos perante um ambiente
de mudanças, ou, se quisermos, um espírito de mudanças.
Um espírito de mudanças não num sentido sobrenatural mas sim originário de uma mudança na estrutura e forma de governação em Moçambique.
Se fizermos uma observação atenta verificaremos que há um esforço de mudança.
Esta palavra mudança recordemo-nos foi introduzida pela direcção da própria estrutura ou organismo político que vigora actualmente. Dentro deste organismo se comoeçou a falar em mudança,dentro do mesmo se começou a propalar a ideia de mudança que rapidamente se espalhou durante o processo democrático que levou a eleição do actual Presidente da República que, repisando na tecla da mudança, estruturou um governo algo inesperado.
Mas por ventura mais inesperado ainda tem sido o vendaval de
mudanças que estes novos líderes (e não necessariamente líderes novos) tem
implementado. E digo vendaval porque em vários momentos têm sido mudanças
bruscas.

Mas o mais interessante de olhar e discutir é o não necessário sucesso que um
processo de mudanças pode trazer, e se olharmos com atenção em vários países
sub-desenvolvidos a ideia de mudança ou os esforços no sentido de efectivar um
conjunto de mudanças tem fracassado. Não quer isto dizer que vá fracassar o
ainda emergente processo de mudanças em Moçambique. Mas o ponto que pretendo
levantar é que o fracasso ou sucesso do processo de mudanças que implementamos
depende da gestão que fazemos dessas mudanças. Mudanças bem geridas são
mudanças bem sucedidas. Há uma extrema complexidade ligada à logística, aos
recursos e ao desgaste que traz este processo de mudanças (que quase sempre é
doloroso).

Em palavras simples “mudar dói”.

O problema da mudança não está em geral na planificação da mudança, o grande
problema é garantir uma boa execução da mudança. Quanto melhor gerida a mudança
maior o controle sobre esta e maior a capacidade de ir corrigindo e melhorando o
processo de execução desta mudança.

Apoiemo-nos na história, processos de mudança bem sucedidos como o exemplo dos
tigres asiáticos, etc foram em geral processos discretos, pouco propalados. O
ponto é que, quanto menos discreto for o processo de mudanças, maiores as
dificuldades de gestão dessas mudanças.

Um dos pontos básicos da mudança é o espírito. O espírito de mudança. A forma
como pretendemos mudar, os custos e benefícios dessas mudanças têm de estar
profundamente claras para todos os agentes sociais. Porque temos de mudar? O
que a gente ganha?

O espírito de mudança está profundamente ligado com a divulgação, não no sentido de popularização ou até mesmo temorização mas no sentido de busca de união. Porquê divulgar? A ideia aqui tem a ver com o contacto com a base. Se reparamos com atenção veroficaremos que a ideia de contacto com a base está profundamente patente no processo de mudanças que ocorre em Moçambique. O povo quer mudanças.
Mas o facto de o povo querer mudanças não significa que as mesmas devam ser popularizadas, isto é não se revela necessário tornar popular qualquer medida tomada para mostrar que existe um processo de mudanças.
E é aqui que engrandece o problema da execução.
O desafio que se apresenta aos proponentes do espírito de mudança, com os quais
me identifico e me junto, é melhorar a gestão deste processo de mudanças
actuando basicamente sobre a fase de execução e controle destas mudanças.

Acredito na aposta na divulgação da ideia e necessidade de mudanças assim como
suas causas, custos e benefícios. Não acredito na ideia da popularização das
mudanças no sentido a que acima me referi. Um ponto importante é a aliança com
o povo. Esta apenas pode ser feita (como bem foi pensado) com a diminuição da
distância (burocracia) entre quem decide, quem gere e executa e quem
operacionaliza a mudança que se pretende.
É importante ter líderes reconhecidos e aceites pelo povo, mas também é importante que os responsáveis a nível nacional, provincial ou local por estas mudanças tenham alianças entre si e tenham também alianças com quem gere este processo a um nível mais baixo.

E VIVA O ESPÍRITO DE MUDANÇA!

Nelson Maximiano
UCT, Cape Town


Monday, July 18, 2005

Mais espíritos

A Lurdes Torcato mandou uma curtíssima mensagem em que reconhece ter interpretado mal a questão do "espírito".

Entretanto o Abdul Manafi Mutualo parece estar possuido por outro tipo de espírito. Mas deixemos que ele próprio se explique:

Que o Espírito seja mesmo Acompanhado…

Das coisas mais académicas que tenho feito nestas férias é entrar no Blog do Machado porque, devo confessar, sou preguiçoso para fazer leituras não necessariamente obrigatórias. E há vezes em que mesmo sendo obrigatórias as deixo para a última hora. Contudo, dou graças a Allah por não deixar de as fazer e dar uma desculpa esfarrapada aos que me “obrigam” a ler para que eu depois vire o esperado “Mestre em Estudos do Médio Oriente”. Enfim, começo a pensar que tenho algum espírito que se me está apossado e esse tem nome: PREGUIÇA. Vence-se pela necessidade de se ter que cumprir metas no final de cada semestre e a responsabilidade individual em conseguí-las. E assim comecei a perceber a excelente analogia que o Gomes faz no seu artigo em que procura entender o tão propalado e cansativo Espírito de Deixa Andar e me surpreendo pela interpretação diferente que a senhora, ocorre-me chamar assim pela educação que recebi e não por conotação de idade, Maria de Lurdes Torcato tenha feito. Parece que sempre terei razão: “é tudo uma questão de interpretação!” Daqui pode-se depreender que o debate entre os dois me “obrigou” a vencer a minha preguiça e procurar intervir e espero que seja feliz com a mesma.

Começo por agradecer ao Gomes o facto de ele advogar, como melhor forma de acompanhamento do citado e malfadado espírito, a melhoria salarial do funcionário público e, como eu pertenço à classe, entende-se o meu agradecimento. Isto me faz lembrar as enormes batucadas que eu costumava ouvir na minha vizinha curandeira e a consequente debandada nas primeiras horas do dia lá no Xipamanine para um destino muitas vezes longe dali e minha mãe, devido à minha inquisição, acabou me explicando que aquele era o processo de “Ku Lhampfa”, ou seja, “de lavagem” e posterior acompanhamento à origem do citado (não vou repetir o nome por mera prequiça). Ora, é esta analogia que o Gomes faz em relação ao citado, mas a felicidade da analogia do mesmo está no facto de as soluções para o combate do citado serem racionais e não virem, necessariamente, do mundo transcendental, esta que foi a interpretação da senhora Lurdes.

Eu acredito que o ritual do acompanhamento do citado seja feito dentro daquilo que o Gomes defende e não vou repeti-lo, Contudo, acredito que deve ser feito um exercício no sentido de questionar ao funcionário público:

. O que o motiva a que todo o santo dia abandone a doce quentura da sua cama para ir para uma instituição onde ele necessariamente não trabalha?

. Qual é o projecto que ele assume como sendo o melhor para que o país progrida e ou se desenvolva?

Acredito que teríamos respostas muito interessantes e eventualmente não estariam longe daquilo que podemos estar a adivinhar:

  1. O funcionário público (FP) não trabalha por motivação, mas sim por sobrevivência.
  2. Ao FP não lhe é ensinado a trabalhar, mas sim a executar tarefas.
  3. Ao FP não é dado o devido valor de opinião que é dado aos consultores. Lembro-me dum exemplo que um colega meu me passara referente a um conselho coordenador ou consultivo, acredito que estas palavras ainda não estavam na moda, por alturas da ministra Graça Machel. No mesmo discutia-se a necessidade de se introduzir melhorias na pedagogia, isto que era uma sugestão dum consultor. Entretanto um professor, que vinha lá do Niassa, levanta-se e diz “o que eu preciso é giz e quadro para dar as minhas aulas...” e talvez, acrescento eu, poder-se-ia implementar as sugeridas pedagogias. Na verdade, o mesmo professor não foi levado em conta e sabe-se qual é o estádio da educação no interior do país.
  4. O FP não sabe para onde o país vai e muito menos se revê no projecto de desenvolvimento do país.

Assim sendo, julgo que é preciso motivar – via melhoria de salário e ou condições de trabalhos – bem como dar o “ownership” ao FP do projecto daquilo que se espera Moçambique poder vir a ser dentro de cinco ou dez anos e fazê-lo perceber que ele é uma das peças-chave para a consecução do mesmo. E finalmente, ensinar-se aos nossos chefes que prepotência e arrogância não são sinónimos de satisfação para aqueles que estão sob a sua alçada, ou seja, a face mais visível de onde o citado deve ser lavado e acompanhado: o normal FP!

Naturalmente, que a responsabilização para o cumprimento de metas e o mostrar-se os benefícios e custos do não cumprimento de objectivos é também algo que pode ser pensado. Afinal não é assim que venço o meu próprio espírito da preguiça?

É assim que interpreto o “ku Lhampfa” do Espírito do Deixa Andar dentro do contexto sabiamente trazido pelo Gomes.

Abdul Manafi Mutualo

Cairo, 19 de Julho de 2005.

Sunday, July 17, 2005

Esclarecimento

O Sérgio Gomes mandou um esclarecimento à Lurdes Torcato e um apelo. Aqui vão:

Maria de Lurdes Torcado!

Obrigado por ter levantado questões que me permitem esclarecer o sentido das minhas palavras (confesso ser iniciante nisto de escrever para os outros). Alguns lêem, não percebem e "deixam andar", perdendo-se desta forma uma grande oportunidade para o debate. A Lurdes (se me permite) é diferente procura perceber e não se inibe de questionar inconsistências. Agradeço-a por isso. Não me agrada a ideia de estar na defensiva, mas as circunstâncias assim o exigem. Ai vou Eu:

1. Primeiro dizer que não poderia ter lido o referido artigo no tal jornal por estar há mais de 6 (seis) meses fora de Mocambique. A definição do Presidente, que avanço, foi retirada dum discurso dele que pude ver na televisao (pelo menos dá para ver TVM donde estou - Misr) a não ser que tal programa ja tivesse sido editado/manipulado e o que percebi ser do próprio Presidente não fosse.

2. Longe de mim ter tido a intenção de ‘sobrenaturalizar’ o debate. A comparação (analogia) que faço entre o espirito tradicional e o Espirito de deixa andar não tem por finalidade demonstrar a semelhança entre ambos. Pelo contrario, visa demonstrar a diferença entre estas duas realidades desde a sua natureza, a forma de agir, o alvo que sofre com a sua acção e a forma de combate. Posso não ter sido feliz mas, diferenciar as duas realidades era minha intenção.

3. Na minha opinião, e diferentemente do que a Lurdes percebeu, “a preguiça, a ganância, o interesse mesquinho e a falta de escrúpulos - além da incompetência - que tem caracterizado muito do nosso aparelho estatal” não têm nada a ver com o sobrenatural. Como digo naquele texto, o “Espirito de deixa andar é humano, ou pelo menos, dominado por seu hospedeiro e age sobre a atitude e o comportamento deste em relação a segundos e terceiros na sua actividade laboral”.

4. A minha preocupação naquele texto é fundamentalmente com as formas de combate desse Espirito de deixa andar e reconhecendo a natureza humana do Espirito de deixa andar sublinho que o seu combate deve incidir sobre o indivíduo e as redes que permitem a sua propagação. Contudo, chamo atenção para que tal combate não signifique o resgate das formas de gestão que vigoravam no periodo antes do desleixo ter tomado conta do sector publico Moçambicano.

5. Pelo contrário do que a Lurdes terá percebido, no meu escrito há lugar para despedimentos, punições, ou processos disciplinares. Contudo, ressalvo que tal não deve ser a primeira forma de combate. Para mim, é preciso que se identifiquem as causas e o combate deve começar por lá sob pena de se tratar superficialmente algo que está profundamente enraizado. É preciso que a estratégia de combate (que não tem nada a ver com curandeiros) seja sustentável de modo a não permitir que surjam no futuro comportamentos semelhantes. Aqui é onde muitos de nós divergimos porque há quem julgue que a “terapia de choque” é o mais aconselhável. Eu não acho.

6. Finalmente, não me perdoaria se tivesse escrito algo que fosse motivar o abandono de uma das vozes promotoras do debate neste sitio e não só. Por favor Lurdes, não permita que o pensamento livre dum iniciante (EU) venha a privar o Blog das suas sábias contribuções. Sinceramente espero ver-lhe mais por aqui. Só assim a minha consciência ficará tranquila.

“What About”

Misr

Coisas dos Espíritos

A Maria de Lurdes Torcato ( não Teresa, como já lhe chamaram) não vai muito com esta coisa dos Espíritos. Ela explica porquê:

“Deixa andar” é só um Espírito!

Estou preocupada com esta viragem do blog para o domínio do sobrenatural! É que o debate deixa-me desse modo completamente de fora e provavelmente este texto é a minha despedida. É que para dialogar temos de comunicar – neste caso pela palavra - e quando estas têm para cada um dos interlocutores sentidos diferentes, a comunicação é um quebra-cabeças.

Na opinião do Sérgio Gomes, a preguiça, a ganância, o interesse mesquinho e a falta de escrúpulos - além da incompetência - que tem caracterizado muito do nosso aparelho estatal, não passa afinal duma(s) alma(s) do outro mundo que se apoderam desses, ou dessas, indesejáveis pessoas, que são afinal vítimas e não culpados.

Quando pela primeira vez ouvi o PR Armando Guebuza falar do combate ao “espírito do deixa andar” percebi que ele se referia à tendência, atitude ou mania de certas pessoas de não assumirem as responsabilidades que lhe foram dadas ou lhe são inerentes, tratando dos seus interesses pessoais e, o país e o povo “que se lixem”, se me perdoam o calão.

Mas o Sérgio Gomes foi buscar, provávelmente ao mesmo jornal onde eu também a li, uma definição dada pelo PR numa reunião pública e que definia o espírito do deixa andar como “falta de humanismo e consideração sobre o sofrimento do próximo”. Isto é o que vem escrito pelo repórter e em princípio devia ser a exacta citação do PR. Mas quem lê a nossa imprensa com espírito crítico sabe que há mais de 50% de probabilidades de ser aquilo que o repórter “percebeu” do que disse o PR e não exactamente o que o PR disse.

E como se depreende lendo o Sérgio Gomes, se é só isso, não há lugar nem para despedimentos, punições, ou processos disciplinares, mas tão só um exercício de reeducação para corrigir e “humanizar as relações sociais e, sobretudo, aquelas que se desenvolvem entre o funcionário público e o utente dos serviços públicos”. O funcionário público foi ao bolso do cidadão e extorquiu-lhe tudo o que ele tinha para a refeição diária da família ou para pagar o transporte para voltar a casa, em troca do serviço que é suposto dar-lhe? Apenas uma “demonstração de falta de humanismo e consideração sobre o sofrimento do próximo” de que afinal nem tem culpa pois está possuído pelo “Espírito do deixa andar” (tal como Sérgio Gomes, escrevo Espírito com maiúscula para mostrar que estou a falar de uma entidade real e única, e uso a palavra como substantivo próprio). Portanto se ele está certo, eu estou errada, embora a nossa divergência possa ser apenas a respeito da natureza do substantivo. Para mim trata-se dum substantivo comum: espírito, no sentido de tendência, atitude ou mania. (Desculpem se sou confusa, quem é bom nisto é um cronista do Savana chamado Afonso dos Santos).

Voltei a ler o escrito de Álvaro Mabunda para saber se ele falava de Espírito com maiúscula ou com minúscula, mas achei difícil tirar conclusões pois se a palavra der início à frase, vai com letra grande mesmo que no “espírito” do autor se trate de um substantivo comum. A propósito: estará o Álvaro Mabunda possuido dum espírito, (perdão, Espírito) que é de mulher? É que o texto está escrito no feminino desde o início ao fim.

Em conclusão, com estas interpretação de que o mal que aflige este país tem origem num Espírito maligno (vade retro!) trata-se de mobilizar os curandeiros para procederem aos banhos colectivos e assim finda o combate iniciado pelo nosso novo PR e daí em diante vamos ser felizes para sempre! Ou então não percebi nada do que escreveram os últimos articulistas deste blog e sendo assim, espero que me perdoem porque ignorância não é crime.

Maria de Lourdes Torcato

Saturday, July 16, 2005

Espíritos

O Sergio Gomes mandou esta interpretação, pela via tradicional, do "espírito do deixa-andar":

Reflectindo Sobre o Espirito de Deixa Andar e o seu Combate

Tenho assistido à intervenção de varias personalidades de diferentes quadrantes de vida em Moçambique desde cidadãos comuns, politicos e académicos num exercício que visa perceber, esclarecer senão definir o conceito de ‘Espirito de deixa Andar’. O próprio Presidente da Republica (percursor do conceito) numa concentração em Gaza, e já apercebendo-se das contradições que o conceito criava, avançou a sua percepção sobre o conceito afirmando que se trata da “falta de humanismo e consideração sobre o sofrimento do próximo”. Visto desta forma, a implicação imediata é a necessidade de se humanizar as relações sociais e, sobretudo, aquelas que se desenvolvem entre o funcionário público e o utente dos serviços públicos. Ate aqui tudo bem estamos todos de acordo. O problema surge quando se procuram operacionalizar as implicações do proprio conceito, ou seja, que técnica, mecanismos ou etratégias devem ser aplicadas para a humanização das relações entre o funcionário e o utente dos serviços publicos? em suma, como credibilizar o sector público? Talvéz tenha sido este problema que fez com que um colega meu e amigo (William) procurasse saber a minha percepção sobre o conceito acima referido por, segundo ele, estar a provocar contradições. Ora, pelos dois textos publicados neste blog sobre o assunto, o presente do Alvaro Mabunda e um outro anterior do Tivane, e tambem pelas reações que tais textos provocaram entendo que a questão do fundo está nas formas de combate ao Espirito. Pretendo contribuir nesse aspectos trazendo primeiro a perepção que tenho sobre o conceito de Espirito de Deixa Andar.

Sobre a Origem do Espírito

Uma das formas mais fáceis, que encontro, para explicar o conceito de ‘Espirito de Deixa Andar’ é fazendo uma analogia (resumida) com as práticas tradicionais de certos povos do Sul de Moçambique e porque também acredito que foi de lá onde o percursor do conceito buscou a ideia do ‘Espírito’. Tradicionalmente um Espirito pode ser benigno quando ajuda e protege; e malígno quando prejudica a vida do seu portador. Nesta segunda dimensão, o Espirito encarna numa determinada pessoa muitas vezes exigindo uma divida incumprida ou porque a pessoa em causa tenha sido prometida ao espirito no passado. Como forma de se livrar do tal espirito, o portador deve ser submetido a um banho ou a um processo de lavagem para a remocao do espirito que é seguidamente acompanhado ao seu legitimo proprietario[1]. Portanto, o Espírito aqui tem dono que o recebe de volta livrando desta forma a vida do seu antigo hospedeiro e permitindo que esta pessoa passe a ter uma vida mais tranquila.

Como podemos ver, neste caso, o espirito encarna e prejudica apenas ao portador e seus próximos e a ele pertence a iniciativa para se livrar do tal Espirito. Diferentemente, o Espirito no sector público encarna no servidor publico, multiplica-se no ambiente do trabalho mas, preijudica não necessariamente o seu portador mas sim o utente do servicos publicos que é tratado duma forma desumana. O servidor publico afectado pelo Espírito fica insensivel aos problemas de quem o procura provocando danos por vezes iRreparáveis neste último. Este Espírito não tem sua origem em algo sobrenatural mas sim no proprio indivíduo que o acomoda. Há quem diga que este Espírito tem a sua natureza nas politicas de liberalização introduzidas a partir da segunda metade da década 80 e que foram percebidas como libertinagem por algumas pessoas no sector público. Ele encontrou mais espaço para reprodução e consolidação numa altura em que as pessoas passaram a olhar mais para si do que para os outros, quando o individualismo exacerbado venceu sobre o colectivismo, em fim, quando o Lobo venceu ao ser social.

Sobre o deixa Andar

O efeito imediato do espirito, na sua dimensão tradicional maligna, é de ‘não deixar andar’. Portanto, a pessoa afectada pelo espírito, fica quase bloqueada, tudo no que mexe dá errado, o azar e a má sorte passam a ser-lhe visitantes assíduos. Já na dimensão actual das relações servente/utente público, o Espírito provoca o deixa andar percebido como a indiferença perante as preocupações de quem procura o serviço publico bem como a demissão do funcionário das suas responsabilidades como servidor público. O Espírito provoca ainda o burrocratismo visto como excesso de formalidades e de procedimentos burocráticos que facilmente poderiam ser simplificados sem o prejuizo de processos administrativos ou da coisa pública.

Se aquele espirito tradicional é algo sobrenatural fora do controle de quem o hospeda, já o Espirito de deixa andar é humano, ou pelo menos, dominado por seu hospedeiro e age sobre a atitude e o comportamento deste em relação a segundos e terceiros na sua actividade laboral. Desta forma, definiriamos o Espirito de deixa Andar como “a predisposição do funcionário público para perturbar o decurso normal dos processos (administrativo, jurídico etc) bloqueando desta forma o fornecimento dum serviço publico de qualidade aos utentes”.

O Espirito de deixa andar é diferente da Corrupção. Contudo, uma pessoa afectada pelo Espírito de deixa andar é mais propensa a cair em actos de corrupção devido ao desespero dos utentes e à urgência que eles têm em ver tramitados os sus processos. É, no entanto dificil alinhar a relação causa efeito porque seria o mesmo que procurar saber o que veio primeiro entre a galinha e o ovo. É no entanto para reter o facto de ambos serem desvios que se alimentam e retroalimentam. O combate de um pode levar à liquidação do outro aspecto.

Como Combater?

Aquele Espírito tradicional é combatido via banho, e posterior acompanhamento ao seu legitimo proprietário. Casos há em que o espirito, porque forte, não pode ser removido. Aí, ele é isolado impedindo-se, deste forma, que ele exerça alguma influencia sobre a vida do seu hospedeiro. No presente caso, podemos dizer que porque este Espírito surgiu com a introdução do liberalismo em Moçambique, então, devemos devolve-lo às fontes do liberalismo. Errado. Ele não teria acomodação porque lá (Ocidente e suas instituições) não reina o deixa andar mas sim a perfeição, pontualidade, eficiência e cultura de bem servir. Então, ele é local e acima de tudo individual devendo o seu combate incidir sobre o individuo e as redes que permitem a sua multiplicação. Contudo, é preciso sublinhar que, o seu combate não deve de forma alguma implicar necessariamente o resgate das formas de gestão da coisa publica prevalescentes no período antes da implementação das politicas liberais. Seria fomentar o cultivo do centralismo e do autoritarismo. Uma das formas mais simples seria, neste caso, a identificação das pessoas acometidas pelo Espírito e o seu consequente isolamento e/ou expulsão do aparelho do Estado. O perigo está na possibilidade de se ter que expulsar grande parte do contigente do aparelho publico. E ainda, agindo assim seria ignorar as causas que facilitam a reprodução e consolidação do Espírito. Sou da opinião de que se deve combater primeiro as causas e depois avançamos gradualmente para medidas mais radicais em casos de persistência. E como seria feito isso?

  1. Recordo assistir a um juramento profissional cujo texto era o seguinte: “Juro pela minha honra, dedicar todas as minhas forças na prestação de um serviço publico de qualidade, no combate à corrupção, ao burrocratismo e ao Espírito de deixa andar”. Bom inicio para os futuros servidores publicos. Mas é preciso que este compromisso não seja um anexo ou não represente apenas uma simples formalidade de fim do curso e seja o reflexo dum conhecimento profundo das suas responsabilidade, adquirido durante todo um processo de formação. Portanto, a educação é uma das formas de combate ao Espirito nos potenciais agentes de reprodução desse mesmo Espirito.

  1. A outra forma seria o reconhecimento do trabalho dos servidores publicos. Este reconhecimento deve ser acompanhado por uma justa recompensa. Tem sido recorrente ouvir-se que “o Estado finge que me paga e eu faço que trabalho”. Trata-se de um jogo de cá se faz e lá se paga, sendo o utente dos serviços públicos quem mais prejuizos lucra deste braço de ferro. É, portato, necessário moralizar os servidores publicos atraves de pagamento dum salário condigno e sustentável para que se evite o uso e abuzo das facilidades do sector público para buscar alternativas que possam melhorar as suas condições materiais. Se o governo pagar condignamente terá reforçada a legitimidade de exigir o máximo dos seus funcionários.

  1. A outra forma seria a racionalização de mão-de-obra no sector público. Como se deve notar, há muita gente a trabalhar no sector público sem que tenha as suas tarefas claramente definidas. Ou por outra, há pessoas que não sabem o que vão fazer no serviço (que o diga o Ministro da Educação e Cultura). Por não terem as tarefas bem definidas, chegam e assinam o livro de ponto, passam o tempo a ler o jornal e a usar o telefone para tratar de assuntos particulares senão jogarem cartas no computador, para os que têm acesso a este instrumento de trabalho. A racionalização implica a colocação dum número necessário de funcionário para a realização de tarefas passiveis de serem avaliadas numa base mensal. A fórmula seria: menos funcionários públicos, mais eficiência, melhor salário e maior responsabilização.

  1. Recriminação em público. Esta parece a forma escolhida pela maioria dos dirigentes do actual governo. É valida mas julgamos que ela não deveria ser a primeira alternativa por estar a ser aplicada ignorando-se as causas do problema. Recriminar publicamente sem criar as condições para eficiência não resulta na remoção do Espírito de deixa andar, apenas atormenta-o e obriga-o a re-adaptar-se e buscar novas formas de actuação. O uso deste mecanismo em primeira instância provoca inimizades, torna o ambiente de trabalho tenso (oque pode diminuir a produtividade) e acaba assumindo um caracter de perseguição transformando-se numa questão pessoal entre o dirigente que o aplica e os visados.

  1. Expulsão. É o mecanismo que se deve aplicar em último recurso, esgotadas todas as formas anteriores e verificada a persistência do Espirito. A expulsão da pessoa que fomenta o Expirito na função publica irá prevenir que este se volte a espalhar e volte a afectar aqueles que ja se haviam livrado dele.

Só para terminar, gostaria de afirmar que medidas populistas são muito boas para se ganhar notoriedade a curto prazo. O povo (malta nós) aplaude pela percepção de se estar a fazer justiça mas, depois se cansa porque não existe nisso nada de sustentável a médio e longo prazos. É preciso tomar medidas que de per si representem fundamentos que impeçam que determinados comportamentos de deixa andar se reproduzam no futuro. Caso contrário será perca de tempo e, portanto, uma forma de Deixa Andar.

‘What About’

Misr



[1] O Elisio Macamo, pelo que já li dele, deve conhecer muito bem este exercicio e seria uma das pessoas mais indicadas para o descrever.