Ideias para Debate

Friday, April 13, 2007

COMENTÁRIO

Recebi da O. Brian o seguinte comentário sobre o texto anterior:


Tenho-me mantido quieta a tentar digerir mais uma peça do puzzle da desgraça, da falta de ordem, da falta de hábitos e normas. As explosões do paiol são a desgraça que indica outras desgraças. Isto porque se não conseguimos em tempos de paz, organizar sequer um paiol, se não temos após “ os avisos” das anteriores explosões o sentido de normas de conduta de regras que têm que ser seguidas, que regem um exército e as diversas componentes do mesmo, dizia, que se não conseguimos em paz fazer isso, então o que estamos a fazer? A inaugurar estátuas e praças, a Eduardo Mondlane e a Samora Machel? Eu vi-os a todos, fardados de novo, com carros de alto luxo, também estes novos, em Pemba para inaugurar a praça a Samora Machel. Quanto nos custam estes luxos, que só teriam sentido se tivéssemos a casa arrumada? Se já tivéssemos feito tudo o resto, se tivéssemos investido numa Defesa, capaz de enobrecer o país?

Tudo tem normas, tudo está regrado para que não aconteçam desgraças como estas. Se tivéssemos um exército. Se tivéssemos um Ministério da Defesa, mas não temos. Nós somos incapazes de trabalhar para a constituição de algo que siga normas básicas, internacionalmente aceites como funcionais.

Nós moçambicanos temos a sorte de ter um ministro que nos manda placar sempre que comecem as explosões.

Temos a sorte de ter um Governo que prende jovens por se estarem a manifestar contra uma atrocidade de que ninguém se quer responsabilizar. Temos a sorte de ter as famílias atingidas, debaixo de tendas, quando o inverno está aqui á nossa porta, quando a chuva cai de noite. Temos essa sorte, e temos o ministro a dormir descansado na sua casa.

O grito, a impotência, a zanga, a desesperança, que se sente na carta do embaixador Ferrão, está em muitos de nós. Uns como eu, se refugiam na tristeza. Na vergonha. Porque senhores, envergonha-me. Envergonham-me estas desgraças. Esta incapacidade de se lidar com as ocupações que temos, com os cargos que ocupamos, com sentido de honra, de tentar o nosso melhor, de tentar trabalhar para fazer que na verdade as coisas mudem. E envergonha-me mais ainda que estas pessoas sejam mantidas nos seus lugares, que recebam beneces, que sejam paparicadas, quando deviam pagar pela irresponsabilidade. São esses que deviam pagar pela irresponsabilidade, não jovens que se manifestam.

O. Brian