Terrorismo
O Elisio Macamo colocou um comentário ao texto do Abdul Mutualo em que contesta a utilidade de se procurarem razões para o terrorismo, dizendo que a principal razão é que ele é hoje uma forma de vida para muita gente. E que mesmo os que se deixam matar junto com as suas vítimas o fazem para garantir quantias significativas que os seus familiares irão receber.
Segundo Macamo " o terrorismo deixou de ser um assunto que poderia ter solução política há vários anos".
Ora eu discordo destas posições do Macamo e tenho medo que elas nos remetam para as de George Bush, segundo o qual a solução é meramente militar e de segurança e se resolve invadindo países e matando e torturando pessoas.
A morte, há poucos dias, de um pobre brasileiro, no metro de Londres, assassinado por um polícia demasiado nervoso, mostra onde se pode chegar por esse caminho.
Ao contrário do meu amigo Macamo eu acho que textos como o do Abdul nos ajudam a entender o que se passa na cabeça dos terroristas. E acho também que é precisamente dentro da cabeça dos terroristas que o combate deve ser feito.
E, nesse combate, penso que as mesquitas e madraças devem ter um papel fundamental.
Recordo que, quando dos atentados de Madrid, o sheik Aminudin publicou um texto em que, com base em argumentos islâmicos, condenava o terrorismo. Não sendo eu um conhecedor dos textos islamicos, pareceu-me, no entanto, argumentação sólida e, além do mais, cheia de bom senso.
Ora eu creio que esse é um dos caminhos a seguir: explicar aos jovens que o Islão não impõe, nem sequer aceita, o terrorismo. Pelo contrário, condena-o.
Se a décima parte do dinheiro gasto na guerra do Iraque tivesse sido gasto a imprimir publicações e a fazer filmes com esta mensagem, muito provavelmente os resultados teriam sido dez vezes melhores.
Mas é verdade que os Estados Unidos não estariam agora a controlar o petróleo do Iraque e as suas empresas não estariam a ganhar fortunas com a reconstrução do que os seus soldados destruiram.
Porque não acredito que a maior parte dos terroristas mate e morra por dinheiro. O desgraçado que se faz explodir junto das suas vítimas tem que acreditar em alguma outra coisa. E essa outra coisa só pode ser uma recompensa depois da morte. Ele mata-se "sabendo" que no momento a seguir irá entrar no Paraíso, cheio de coisas apeteciveis.
E é essa convicção que tem que ser combatida. Os teólogos islâmicos têm que lhes explicar que não, não vão para o Paraíso, por esse caminho. Que, muito pelo contrário, ao morrerrem matando inocentes estão a seguir mesmo o caminho que leva, rapidinho, ao Inferno.
Depois há os terroristas mais evoluidos, aqueles que matam e morrem como qualquer soldado que está convencido que deve sacrificar-se para vencer o seu inimigo. Assim como há quem se sacrifique pela pátria e por outros valores.
E, em relação a esses, a luta tem que ser mesmo política e económica. Com uma componente cultural muito forte para evitar que ideias de desenvolvimento económico que resultaram em alguns sitios sejam aproveitadas noutros sítios onde provoquem reacções negativas. A título de exemplo caricatural não seria boa ideia tentar desenvolver a economia de um país islâmico através da criação de porcos e uma industria de salsicharia.
Mas é por esses caminhos, acabando com as razões e os estímulos dos terroristas, que se pode combater o terrorismo. Não é com mísseis, canhões e soldados, por um lado, e polícias e abolição dos direitos dos cidadãos pelo outro.
George Bush, para mim o maior terrorista do mundo actual, disse que, com a sua política, o mundo ía ficar mais seguro.
Depois disso houve Madrid, Bali, Londres, Sharm el Sheik e tantos outros sítios. E continua a haver as matanças diárias no Iraque e as torturas fascistas nas suas prisões e em Guantanamo e nos barcos-prisões e nas masmorras dos aliados a quem os americanos entregam presos para serem torturados.
Estará o mundo mais seguro?
Machado
Segundo Macamo " o terrorismo deixou de ser um assunto que poderia ter solução política há vários anos".
Ora eu discordo destas posições do Macamo e tenho medo que elas nos remetam para as de George Bush, segundo o qual a solução é meramente militar e de segurança e se resolve invadindo países e matando e torturando pessoas.
A morte, há poucos dias, de um pobre brasileiro, no metro de Londres, assassinado por um polícia demasiado nervoso, mostra onde se pode chegar por esse caminho.
Ao contrário do meu amigo Macamo eu acho que textos como o do Abdul nos ajudam a entender o que se passa na cabeça dos terroristas. E acho também que é precisamente dentro da cabeça dos terroristas que o combate deve ser feito.
E, nesse combate, penso que as mesquitas e madraças devem ter um papel fundamental.
Recordo que, quando dos atentados de Madrid, o sheik Aminudin publicou um texto em que, com base em argumentos islâmicos, condenava o terrorismo. Não sendo eu um conhecedor dos textos islamicos, pareceu-me, no entanto, argumentação sólida e, além do mais, cheia de bom senso.
Ora eu creio que esse é um dos caminhos a seguir: explicar aos jovens que o Islão não impõe, nem sequer aceita, o terrorismo. Pelo contrário, condena-o.
Se a décima parte do dinheiro gasto na guerra do Iraque tivesse sido gasto a imprimir publicações e a fazer filmes com esta mensagem, muito provavelmente os resultados teriam sido dez vezes melhores.
Mas é verdade que os Estados Unidos não estariam agora a controlar o petróleo do Iraque e as suas empresas não estariam a ganhar fortunas com a reconstrução do que os seus soldados destruiram.
Porque não acredito que a maior parte dos terroristas mate e morra por dinheiro. O desgraçado que se faz explodir junto das suas vítimas tem que acreditar em alguma outra coisa. E essa outra coisa só pode ser uma recompensa depois da morte. Ele mata-se "sabendo" que no momento a seguir irá entrar no Paraíso, cheio de coisas apeteciveis.
E é essa convicção que tem que ser combatida. Os teólogos islâmicos têm que lhes explicar que não, não vão para o Paraíso, por esse caminho. Que, muito pelo contrário, ao morrerrem matando inocentes estão a seguir mesmo o caminho que leva, rapidinho, ao Inferno.
Depois há os terroristas mais evoluidos, aqueles que matam e morrem como qualquer soldado que está convencido que deve sacrificar-se para vencer o seu inimigo. Assim como há quem se sacrifique pela pátria e por outros valores.
E, em relação a esses, a luta tem que ser mesmo política e económica. Com uma componente cultural muito forte para evitar que ideias de desenvolvimento económico que resultaram em alguns sitios sejam aproveitadas noutros sítios onde provoquem reacções negativas. A título de exemplo caricatural não seria boa ideia tentar desenvolver a economia de um país islâmico através da criação de porcos e uma industria de salsicharia.
Mas é por esses caminhos, acabando com as razões e os estímulos dos terroristas, que se pode combater o terrorismo. Não é com mísseis, canhões e soldados, por um lado, e polícias e abolição dos direitos dos cidadãos pelo outro.
George Bush, para mim o maior terrorista do mundo actual, disse que, com a sua política, o mundo ía ficar mais seguro.
Depois disso houve Madrid, Bali, Londres, Sharm el Sheik e tantos outros sítios. E continua a haver as matanças diárias no Iraque e as torturas fascistas nas suas prisões e em Guantanamo e nos barcos-prisões e nas masmorras dos aliados a quem os americanos entregam presos para serem torturados.
Estará o mundo mais seguro?
Machado
1 Comments:
Caro Machado,
O teu comentário, é como sempre, bastante perceptivo. Peca, infelizmente como quase sempre, por caricaturar a minha posicao e depois criticar a caricatura. A passagem que citas está incompleta. Eu escrevi que o terrorismo deixou de ter solucao política há vários anos, em parte por causa da intransigência do Ocidente e em parte por causa da própria incoerência do integrismo. A última parte da citacao é central. Se o Ocidente tivesse reagido da melhor maneira há muito tempo, da maneira como tu por exemplo sugeres no teu comentário, talvez hoje o terrorismo tivesse solucao política. Infelizmente, sem ter que assumir as razoes de Bush, sou de opiniao que neste momento a única solucao é realmente militar. Nao sei se isso significa invadir países, mas muitos de nós que fomos seduzidos pelo anti-americanismo dos terroristas só havemos de comecar a perceber isto quando os nossos países também forem vítimas do terrorismo. Já tentaram em Mombasa e Dar Es Salaam. Um dia vai ser Maputo e Beira e, sinceramente, por mais injusto que seja o mundo, nao gostaria que vidas mocambicanas fossem sacrificadas no altar do integrismo islâmico. Espero que tu também nao.
Mesmo no nosso País foi assim. A Renamo andou a matar indiscriminadamente, os soldados do exército portaram-se mal, nao porque estivessem a combater ou defender o comunismo, mas porque a guerra se tinha tornado num modo de vida. Os Acordos de Roma foram um negócio bem lucrativo para os que nele estiveram envolvidos.
Chamei atencao aos intelectuais para nao racionalizarem em demasia o terrorismo, mas nao disse que essas análises nao fossem úteis. Mas se o próprio Abdul Mutualo nos diz que os integristas viram que da última vez que fizeram atentados alienaram a opiniao pública contra si próprios que utilidade tem, entao, a análise que ele faz? Neste ponto alinho mais com o escritor libano-francês Amin Maalouf que mostra no seu livro "identidades assassinas" até que ponto o problema do integrismo é um problema de modernizacao difícil. A sociedade árabe ou islâmica tem um problema interno sério que nao se vai resolver atirando as culpas para o resto do mundo, por mais injusto que este seja. Nao sei se precisa dum islao mais secular, mas a solucao passa pelo triunfo do secularismo sobre a fé.
Sei, contudo, que a ideia de "solucao política" é bastante vaga tanto mais que a opcao militar é também, de certa maneira, uma decisao política, sobretudo nos países ocidentais onde, apesar de tudo, continua a haver o mínimo de respeito pelos processos políticos. Sinto-me muito envergonhado por estar mais perto de Bush e de Blair neste assunto, mas a incoerência do integrismo nao me deixa outra alternativa.
By Elísio Macamo, at 2:20 AM
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