Londres
Estou com problemas no computador e por isso está a ser irregular a colocação de textos. Neste momento estou a conseguir trabalhar e aproveito para colocar um texto do Sergio Gomes:
Sobre o Ataque da Al-Qaeda a Londres
Os argumentos do Sérgio Mathe sobre a escolha de Londres e mesmo do timing para a execução dos ataques são aliciantes, sendo um mais lógico que o outro mas que na globalidade tenho algumas dificuldades em compra-los. Reduzir as justificações sobre a escolha do local à agenda da recente cimeira dos G8 é, julgo, perder a visão global da nova estratégia da al-Qaeda e localizar os fins pretendidos com este tipo de actos. Embora seja obrigado a buscar explicações especificas e convincentes sobre o sucedido (o Sérgio Mathe fê-lo), não vejo senão uma simples coincidência (a oportunidade faz o ladrão) e continuação dos objectivos globais da al-Qaeda que se resumem na necessidade de se ‘ferir o centro do capitalismo mundial’.
O cartaz ou a bandeira da reivindicação da al-Qaeda na sua luta movida contra o Ocidente não tem necessariamente a ver com a situação da pobreza (material) no mundo mas sim com a “corrupcao espiritual” provocada, segundo a sua interpretação das escrituras, pelos valores ocidentais nos povos do Médio Oriente. É importante sublinhar que existe uma forte controvérsia nesta região sobre a sede da verdadeira interpretação ou da interpretação correcta do complexo sagrado da religião Islâmica – os ditos do Profeta, os feitos do Profeta e o Corão (Hadith, Sunna e Qura’n). Devido a essa controvérsia, as mesmas escrituras são utilizadas tanto para legitimar os actos de terrorismo como para condenar os mesmos actos, tanto para exercer o poder como para desafiar o poder estabelecido.
Podemos resumir as causas desta violência em 1. Exclusão social: ja que muitos dos que optam em seguir a via do terrorismo sentem-se excluidos no novo modus vivendi do tipo ocidental que se pretende implatar nas suas sociedades; 2.Exclusão politica (regimes autoritários na região): feita com a cumplicidade dos paises ocidentais como os EUA e a Inglaterra; e, 3. A violência ocidental ou com cumplicidade do Ocidente contra inocentes em Baghdad, Jenin, Ramalah ou Kabul. Ora, algumas destas justificações até podem parecer contraditórias se considerarmos, por exemplo, que a agenda norte americana na região é exactamente libertar os povos da tal exclusão politica e, portanto algo que deveria ser pacificamente aceite. Contudo, o modelo que os Americanos e Britânicos pretendem implantar na região irá, segundo estes terroristas, perpetuar cada vez mais a exclusão social. Mais ainda, o facto dos EUA assumirem dualidade de critérios para os mesmos problemas - apadrinhamento ao Egypto e Arabia Saudita e diabolização do Iraque e do Irão - levanta disconfiança nos segmentos mais extremistas da região sendo importante referir o facto de grande parte dos terroristas serem provenientes de paises cujos governos (autoritários) têm o apadrinhamento norte americano.
As implicações politicas de se assumirem as presentes causas como reais motivações do terrorismo não são do agrado do Ocidente pois isso exigiria que o Ocidente tivesse que repensar a ideia de transferir o seu modelo politico economico para a região, o Ocidente teria igualmente que condenar com vemência regimes de Riad e Cairo que actualmente gozam de imunidades dado o seu estatuto de parceiros estratégicos dos Americanos e, finalmente teriam que repensar a sua agenda no Afeganistao e Iraque. Fazer estas reconsiderações seria uma autêntica derrota para o Ocidente daí que, seja estratégico assumirem-se razões que estejam de acordo com os seus interesses e que, acima de tudo, legitimem o papel que o Ocidente pretende jogar nesta região.
O Ministro Tony Blair dizia no seu discurso de abertura da reunião do G8 que “a pobreza é a causa do terrorismo” e por isso, resolvendo-se as situações de pobreza resolve-se, igualmente, a questão do terrorismo. Sim, é verdade. A redução dos níveis de pobreza pode reduzir os focos de violência no mundo mas não necessariamente do tipo conduzido pela al-Qaeda contra o Ocidente. De facto, com um pouco mais de atenção, verificamos que o recrutamento dos seguidores do movimento não é, como se tenta transmitir, feito junto das camadas pobres, mas sim, junto das classes média/alta e alta burguesia, ou seja, dentre aqueles segmentos populacionais que estão materialmente bem estabelecidos e que encontram um vazio espiritual quando convidados a viver segundo a sua interpretação do Corão e confrontados com a presença dum modus vivendi ocidental nas suas sociedades. Portanto, ja não se trata necessariamente dos antigos mujahidins (soldados de Deus) que, muitos deles sendo pobres nos seus países, publicamente manifestaram o seu desejo de lutar contra o invasor Soviético no Afeganistão, durante a década 80, em realização de um dever espiritual (jihad) mas também em troca de beneficios materiais (dinehiro e casamentos aranjados no seio da irmanidade no regresso). Isto para dizer que, os terroristas que seguem e agem em nome da al-Qaeda não são necessariamente pessoas pobres ou afectadas pela pobreza mas sim, ricas ou materialmente satisfeitas (basta ver a proveniência e as condições materiais dos 5 terroristas intervenientes nos aviões do célebre 9/11) porque os actos de violência praticados pelo al-Qaeda assim o exigem. Não se trata de um terrorismo desenfreado e de pobres, mas sim, de ricos e inteligentes principalmente quanto visa alvos ocidentais no Ocidente.
É tentador o convite que o Sérgio Mathe nos faz a associarmos as explosoes em Londres com a agenda da recente cimeira do G8. Contudo, cá entre nós, o ataque a Londres poderia ter acontecido ou viria a contecer findo os preparativos para o efeito independentemente da agenda do encontro dos G8 e mesmo independentemente do local onde a tal reunião do G8 tivesse lugar ou, como um supersticioso diria, tava escrito que seria Londres depois de Madrid. Este tipo de ataques da nova al-Qaeda (celulas descentralizadas, com autonomia de decisão e finaceira, sem ou com pouca ligação ao lider e agindo a luz dos princípios do movimento) são preparados duma forma minunciosa e levam muito tempo a prepará-los devido aos altos níveis de alerta nos países potenciais alvos. Teria sido extremamente difícil ou praticamente impossível que a preparação deste ataque tivesse sido iniciada a partir do momento em que se divulgou a agenda do encontro – todo o cuidado é pouco. O argumento sobre a necessidade de dissuadir qualquer pacto ocidental em volta de questões ambientais que pudesse reduzir a importância politico estrategica do Médio Oriente, sugere a existência duma concertação entre os governos (produtores e exportadores de petróleo) na região e as células da al-Qaeda que actuam em Londres, o que é praticamente impensavel. Na verdade, os governos (os ditos rentier states) são os que têm maior interesse na manutenção do stastus quo actual por ser dele onde provêm as rendas que os capacitam a respoder às necessidades sociais dos mais pobres, ou seja, a comprar a lealdade dos seus constituíntes evitando deste modo descontentamentos generalizados a nivel populacional. Por seu turno, a al-Qaeda daria tudo para que tal aliança fosse alcançada e que os governos actuais na região vissem os seus rendimentos reduzidos. Isso iria descobrir a situação de corrupção e expôr a má gestão que reina actualmente em quase todos paises produtores e exportadores de petróleo nesta região. Esta situação seria, também, benefica para a al-Qaeda que, eventualmente, poderia alargar a sua base social pelo recrutamento de novos membros, em segmentos de pobres que perderiam os subsidios do Estado. Portanto, a meu ver, a al-Qaeda nunca pretenderia impedir um possivel pacto que pudesse resultar, a médio e longo prazos, na retirada do Ocidente da região bem como na exposição das contradições e fragilidades dos actuais governantes – afinal o fim é a expulsão dos intrusos e a purificação da sociedade Islâmica (Umma).
Seja como for, se a intenção dos bombardeamentos era (e como é) de chamar atenção para que o Ocidente não se intrometa nos assuntos da região, então teve efeitos contraproducentes porque, sem que estivesse anteriormente previsto e portanto, estimulado pelo ataque, o comunicado final do encontro do G8 anuncia a doação de cerca de US$3 bilioes anuais à Autoridade Nacional Palestiniana durante os proximos tres anos bem como o apoio à “solução de dois Estados” para o conflito Israelo/Palestiniano. Mais uma vez (e isto é importante pra Africa e Moçambique em particular), o combate ao terrorismo voltou a sobrepôr‑se ao combate a pobreza. Mais recursos, que muito bem fariam à causa dos pobres, serão desviados para o combate ao terrorrismo, seja por aplicação directa nas frentes de combate como pelo melhoramento dos sitemas internos de segurança (veja o caso da introdução do BI na Inglaterra) o que duma forma poderá pôr em causa os desembolsos prometidos a África. Isto revela que esta confrontação está pra durar e que os serviços de segurança ocidentais precisam de re-adaptar os seus sistemas de vigilância e alerta para que possam dissuadir actos desta natureza que são idealizados, planificados e implementados dentro das suas próprias fronteiras.
“What About”
Misr
Sobre o Ataque da Al-Qaeda a Londres
Os argumentos do Sérgio Mathe sobre a escolha de Londres e mesmo do timing para a execução dos ataques são aliciantes, sendo um mais lógico que o outro mas que na globalidade tenho algumas dificuldades em compra-los. Reduzir as justificações sobre a escolha do local à agenda da recente cimeira dos G8 é, julgo, perder a visão global da nova estratégia da al-Qaeda e localizar os fins pretendidos com este tipo de actos. Embora seja obrigado a buscar explicações especificas e convincentes sobre o sucedido (o Sérgio Mathe fê-lo), não vejo senão uma simples coincidência (a oportunidade faz o ladrão) e continuação dos objectivos globais da al-Qaeda que se resumem na necessidade de se ‘ferir o centro do capitalismo mundial’.
O cartaz ou a bandeira da reivindicação da al-Qaeda na sua luta movida contra o Ocidente não tem necessariamente a ver com a situação da pobreza (material) no mundo mas sim com a “corrupcao espiritual” provocada, segundo a sua interpretação das escrituras, pelos valores ocidentais nos povos do Médio Oriente. É importante sublinhar que existe uma forte controvérsia nesta região sobre a sede da verdadeira interpretação ou da interpretação correcta do complexo sagrado da religião Islâmica – os ditos do Profeta, os feitos do Profeta e o Corão (Hadith, Sunna e Qura’n). Devido a essa controvérsia, as mesmas escrituras são utilizadas tanto para legitimar os actos de terrorismo como para condenar os mesmos actos, tanto para exercer o poder como para desafiar o poder estabelecido.
Podemos resumir as causas desta violência em 1. Exclusão social: ja que muitos dos que optam em seguir a via do terrorismo sentem-se excluidos no novo modus vivendi do tipo ocidental que se pretende implatar nas suas sociedades; 2.Exclusão politica (regimes autoritários na região): feita com a cumplicidade dos paises ocidentais como os EUA e a Inglaterra; e, 3. A violência ocidental ou com cumplicidade do Ocidente contra inocentes em Baghdad, Jenin, Ramalah ou Kabul. Ora, algumas destas justificações até podem parecer contraditórias se considerarmos, por exemplo, que a agenda norte americana na região é exactamente libertar os povos da tal exclusão politica e, portanto algo que deveria ser pacificamente aceite. Contudo, o modelo que os Americanos e Britânicos pretendem implantar na região irá, segundo estes terroristas, perpetuar cada vez mais a exclusão social. Mais ainda, o facto dos EUA assumirem dualidade de critérios para os mesmos problemas - apadrinhamento ao Egypto e Arabia Saudita e diabolização do Iraque e do Irão - levanta disconfiança nos segmentos mais extremistas da região sendo importante referir o facto de grande parte dos terroristas serem provenientes de paises cujos governos (autoritários) têm o apadrinhamento norte americano.
As implicações politicas de se assumirem as presentes causas como reais motivações do terrorismo não são do agrado do Ocidente pois isso exigiria que o Ocidente tivesse que repensar a ideia de transferir o seu modelo politico economico para a região, o Ocidente teria igualmente que condenar com vemência regimes de Riad e Cairo que actualmente gozam de imunidades dado o seu estatuto de parceiros estratégicos dos Americanos e, finalmente teriam que repensar a sua agenda no Afeganistao e Iraque. Fazer estas reconsiderações seria uma autêntica derrota para o Ocidente daí que, seja estratégico assumirem-se razões que estejam de acordo com os seus interesses e que, acima de tudo, legitimem o papel que o Ocidente pretende jogar nesta região.
O Ministro Tony Blair dizia no seu discurso de abertura da reunião do G8 que “a pobreza é a causa do terrorismo” e por isso, resolvendo-se as situações de pobreza resolve-se, igualmente, a questão do terrorismo. Sim, é verdade. A redução dos níveis de pobreza pode reduzir os focos de violência no mundo mas não necessariamente do tipo conduzido pela al-Qaeda contra o Ocidente. De facto, com um pouco mais de atenção, verificamos que o recrutamento dos seguidores do movimento não é, como se tenta transmitir, feito junto das camadas pobres, mas sim, junto das classes média/alta e alta burguesia, ou seja, dentre aqueles segmentos populacionais que estão materialmente bem estabelecidos e que encontram um vazio espiritual quando convidados a viver segundo a sua interpretação do Corão e confrontados com a presença dum modus vivendi ocidental nas suas sociedades. Portanto, ja não se trata necessariamente dos antigos mujahidins (soldados de Deus) que, muitos deles sendo pobres nos seus países, publicamente manifestaram o seu desejo de lutar contra o invasor Soviético no Afeganistão, durante a década 80, em realização de um dever espiritual (jihad) mas também em troca de beneficios materiais (dinehiro e casamentos aranjados no seio da irmanidade no regresso). Isto para dizer que, os terroristas que seguem e agem em nome da al-Qaeda não são necessariamente pessoas pobres ou afectadas pela pobreza mas sim, ricas ou materialmente satisfeitas (basta ver a proveniência e as condições materiais dos 5 terroristas intervenientes nos aviões do célebre 9/11) porque os actos de violência praticados pelo al-Qaeda assim o exigem. Não se trata de um terrorismo desenfreado e de pobres, mas sim, de ricos e inteligentes principalmente quanto visa alvos ocidentais no Ocidente.
É tentador o convite que o Sérgio Mathe nos faz a associarmos as explosoes em Londres com a agenda da recente cimeira do G8. Contudo, cá entre nós, o ataque a Londres poderia ter acontecido ou viria a contecer findo os preparativos para o efeito independentemente da agenda do encontro dos G8 e mesmo independentemente do local onde a tal reunião do G8 tivesse lugar ou, como um supersticioso diria, tava escrito que seria Londres depois de Madrid. Este tipo de ataques da nova al-Qaeda (celulas descentralizadas, com autonomia de decisão e finaceira, sem ou com pouca ligação ao lider e agindo a luz dos princípios do movimento) são preparados duma forma minunciosa e levam muito tempo a prepará-los devido aos altos níveis de alerta nos países potenciais alvos. Teria sido extremamente difícil ou praticamente impossível que a preparação deste ataque tivesse sido iniciada a partir do momento em que se divulgou a agenda do encontro – todo o cuidado é pouco. O argumento sobre a necessidade de dissuadir qualquer pacto ocidental em volta de questões ambientais que pudesse reduzir a importância politico estrategica do Médio Oriente, sugere a existência duma concertação entre os governos (produtores e exportadores de petróleo) na região e as células da al-Qaeda que actuam em Londres, o que é praticamente impensavel. Na verdade, os governos (os ditos rentier states) são os que têm maior interesse na manutenção do stastus quo actual por ser dele onde provêm as rendas que os capacitam a respoder às necessidades sociais dos mais pobres, ou seja, a comprar a lealdade dos seus constituíntes evitando deste modo descontentamentos generalizados a nivel populacional. Por seu turno, a al-Qaeda daria tudo para que tal aliança fosse alcançada e que os governos actuais na região vissem os seus rendimentos reduzidos. Isso iria descobrir a situação de corrupção e expôr a má gestão que reina actualmente em quase todos paises produtores e exportadores de petróleo nesta região. Esta situação seria, também, benefica para a al-Qaeda que, eventualmente, poderia alargar a sua base social pelo recrutamento de novos membros, em segmentos de pobres que perderiam os subsidios do Estado. Portanto, a meu ver, a al-Qaeda nunca pretenderia impedir um possivel pacto que pudesse resultar, a médio e longo prazos, na retirada do Ocidente da região bem como na exposição das contradições e fragilidades dos actuais governantes – afinal o fim é a expulsão dos intrusos e a purificação da sociedade Islâmica (Umma).
Seja como for, se a intenção dos bombardeamentos era (e como é) de chamar atenção para que o Ocidente não se intrometa nos assuntos da região, então teve efeitos contraproducentes porque, sem que estivesse anteriormente previsto e portanto, estimulado pelo ataque, o comunicado final do encontro do G8 anuncia a doação de cerca de US$3 bilioes anuais à Autoridade Nacional Palestiniana durante os proximos tres anos bem como o apoio à “solução de dois Estados” para o conflito Israelo/Palestiniano. Mais uma vez (e isto é importante pra Africa e Moçambique em particular), o combate ao terrorismo voltou a sobrepôr‑se ao combate a pobreza. Mais recursos, que muito bem fariam à causa dos pobres, serão desviados para o combate ao terrorrismo, seja por aplicação directa nas frentes de combate como pelo melhoramento dos sitemas internos de segurança (veja o caso da introdução do BI na Inglaterra) o que duma forma poderá pôr em causa os desembolsos prometidos a África. Isto revela que esta confrontação está pra durar e que os serviços de segurança ocidentais precisam de re-adaptar os seus sistemas de vigilância e alerta para que possam dissuadir actos desta natureza que são idealizados, planificados e implementados dentro das suas próprias fronteiras.
“What About”
Misr
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