Ideias para Debate

Saturday, July 09, 2005

Terrorismo e pobreza absoluta

O Sergio Math3e mandou o seguinte texto:



Combate à pobreza, ameaça ao Al Qaeda?

Enquanto escrevemos, as notícias ainda estão chegando sobre a quantidade de vítimas das bombas nos transportes públicos de Londres. A última informação da Associated Press é de que 40 foram mortos e mil feridos. Não há justificação para tal ataque, que precisa ser condenado e seus responsáveis levados à justiça britânica. Aliás, foi unânime a condenação internacional, em particular no mundo árabe e islâmico.

Neste momento,é imperativo que a narrativa que emerge da devastação em Londres não jogue tudo nas mãos da Al Qaeda ou dos sectores que promovem a luta cega contra o terrorismo sem consideração para a dimensão das suas raízes, sem pretendermos, obviamente justificar o terrorismo. Tal foi a tendência e a direcção tomada pela adminsitração norte-americana depois de 11 de Setembro de 2001.

Aprendendo com os erros do passado recente

O discurso pós 11/9 era de que a América for a atacada porque “eles odeiam nossas liberdades”. Isto veio a se tornar a primeira de muitas imprecisões ou visões parciais e preconceituosas que abriram o caminho para o actual impasse ou dilema estratégico com que se depara os EUA e aliados. Lendo a história e as reiteradas reinvidicações dos extremistas islâmicos, simbolizados no Al-Qaeda, os EUA foram atacados porque a Al Qaeda pretendia mostrar seu repúdio às políticas para o Oriente Médio e, dada sua relativa inabilidade para atacar efectivamente os governos Saudita ou Israelense – seus principais inimigos - eles atacaram o principal patrocinador daqueles governos, os EUA.

Aquele mesmo discurso simples, “porque eles odeiam nossas liberdades”, construido cuidadosamente pela equipa de comunicação e ideólogos espirituais da Casa Branca, lançou as bases para a guerra no Iraque e a expansão da guerra contra o terrorismo e proporcionou a retaliação ao regime do Taliban no Afeganistão. Os americanos acreditavam que a Al Qaeda estivesse mirando os EUA porque «nós vivemos em democracia».

Desta vez, com o discurso já consolidado, o trabalho de interpretar os atentados contra os transportes públicos de Lontres por meio da visão de mundo de Bush é muito mais simples. Lamentavelmnete, Tony Blair já começou a usá-lo em sua declaração em Gleneagles:

"É importante, de qualquer forma, que aqueles envolvidos com o terrorismo percebam que nossa determinação em defender nossos valores e nosso modo de vida é maior que a sua determinação de causar mortes e destruição de pessoas inocentes no seu desejo de impor o extremismo ao mundo”
Nós precisamos lembrar que o medo é o primeiro objectivo dos ataques terroristas. A violência é apenas um meio – e ela funciona. Na melhor das circunstâncias, é difícil para os representantes eleitos responder ao medo de eleitores aterrorizados e produzir políticas efectivas. Isto porque, quando o povo está inseguro, quer ver acção, e o contra-terrorismo requer um incremento estratégico de cobertura dos serviços de inteligência e um reforço no trabalho legislativo que cerca as células terroristas, combinados com estratégicas de desenvolvimento político e econômico que drenem a insfra-estrutura e super-estrutura em que se apoiam as redes terroristas. Este é um trabalho vagaroso e subterrâneo.

Também é difícil porque a maioria das pessoas entende apenas a operação militar tradicional, desenhada para destruir ou controlar um dado objectivo. Um ataque terrorista em uma democracia é muito mais complexo: utiliza o medo para distorcer o debate e o processo de decisão. Vejamos os EUA: depois de 11/9 : Os americanos aceitaram como inevitável a guerra contra o Iraque sem questionar o presidente. Para tornar as coisas ainda piores, a administração Bush tentou inflacionar com sucesso a ameaça de guerra fria nuclear e a guerra ao terrorismo de modo a criar um medo existencial que, até agora, resulta em um cheque em branco do Congresso.

Felizmente, os americanos estão mais informados sobre o terrorismo, os terroristas e seus casos internacionais. Isto abre o espaço que precisamos para desactivar a bomba do medo. Mas a questão é como produzir uma resposta alternativa.

Por que Londres?

Por enquanto, as autoridades governamentais e de inteligência insitem na tese de que os autores dos atentados são do Al Qaeda ou sesu associados. Aliùas, tem sido dada como credível a reivindicação do da chamada célula secreta do Al Qaeda na Europa.
Se for o caso, o momento do ataque é significativo. A cúpula do G8 tem como focos primeiros duas questões que poderiam atacar o coração do extremismo islâmico: mudança climática e pobreza.

A ameaça do respeito pelo Protocolo de Kyoto: Confrontar as mudanças climáticas requer melhorar radicalmente a eficiência energética dos transportes e deixar o combustível fóssil, leia-se o petróleo, como fonte primordial e quase única de energia. Se os Estados Unidos e o resto do mundo adoptarem políticas sensíveis à mudança climática, na linha do previsto no protocolo de Kyoto, a importância estratégica do Golfo Pérsico diminuirá e a América terá mais espaço para promover reformas democráticas e econômicas reais naquela região. A estratégia da Al Qaeda, em qualquer caso, requer uma dependência energética americana do Golfo Pérsico, para assegurar que os EUA continuem a fazer guerra para proteger seu fornecimento de energia. É uma relação de dependência esquizofrénica entre o Al Qaeda e os EUA.

Só para mostrar quão terrível é a situação energética global, a Arábia Saudita anunciou que a OPEP não será capaz de atender a demanda ocidental por petróleo em 2015, apenas daqui a 10 anos. Dado esse timing, o que a Arábia Saudita está efectivamente a dizer é que chegou a hora de rumar para um uso mais eficiente do petróleo, o que é também um dos principais meios de lidar com a mudança climática. A Arábia Saudita apenas enfraquece a posição do governo Bush em Gleneagles. Deveria ter sido o maior golpe para os EUA, mas será agora esvaziado pelos atentados em Londres.

A ameaça da luta contra a pobreza: Enfrentar a miséria no mundo em desenvolvimento, particularmente na África, também fere a Al Qaeda. Na medida em que os EUA são vistos como agressor imperial, criando cordões de bases militares para proteger o acesso aos recursos econômicos, a propaganda da Al Qaeda é reforçada. Progresso significativo no combate à pobreza global, de qualquer forma, também coloca freios à capacidade de obter recrutas, recursos, territórios e cooperação que esses grupos extremistas precisam para operar.

Estranhamente, os actos parecem ser atrasados no tempo uma vez que as decisões sobre o que poderia vir de Gleneagles foram feitas bem antes da Cimeira. Mudar as decisões será diplomaticamente muito difícil. Os autores dos atentados estavam conscientes disso.
Acreditamos, então, que os ataques foram, portanto, para mudar os rumos, destruir o discurso do desenvolvimento e a esperança que a ocasião o G8 produziu (para os norte-americanos)

Os autores dos atentados pretendem desviar o foco da agenda das mudanças climáticas e da pobreza na comunidade internacional e levá-lo de volta ao terrorismo. Em última análise, Al Qaeda quer manter o Ocidente longe de avançar em políticas que podem representar um pesado golpe contra o extremismo islâmico.
Infelizmente, com Bush ainda resistindo a qualquer avanço na mudança climática, essa tarefa não será muito difícil. Tristemente, com os discursos belicistas de radicais norte-americanos em direcção ao Irã e à Síria, a Al Qaeda vai encontrar aliados em sua fábrica de medo nos estrategistas da direita norte-americana.

Como prosseguir?

ATRAVÉS de políticas agressivas e inovadoras para enfrentar a mudança climática e a miséria são duas das mais poderosas formas de conseguir isso. Assim como uma estratégia inteligente de saída do Iraque e um entendimento final entre israelenses e palestinos.
Irá Tony Blair manter a serenidade e o foco nas questões que realmente constribuirão para um maior equilíbrio e segurança no mundo?

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