Ideias para Debate

Thursday, July 07, 2005

Simbolos nacionais - Reacção

O Sérgio Gomes reagiu ao texto sobre os símbolos nacionais:

Sou um dos que aprecia a presente bandeira nacional talvez porque a razão não me tenha proporcionado outros bens de igual valor. Contudo, Aprecio-a nao necessariamente pela sua estética mas, sobretudo, pelo significado histórico que ela traduz e reproduz. Não quero com isto rejeitar o presente processo de revisão ainda mais considerarando que poderá, deste processo, resultar uma inequivoca reconciliação entre os Moçambicanos e os simbolos nacionais. Pretendo apenas chamar atenção (mais vale tarde que nunca) para que não se defenda e se avance à revisão dos actuais simbolos partindo-se do pressuposto negativo de que eles estão fora do contexto historico mocambicano.

O companheiro Abdul tem sempre o cuidado de dizer “é uma questão de interpretação”. Contudo, se me permite, acho que há limites nessa liberdade de interpretação no sentido de que não se deve interpretar à esquerda o que de facto pertence a direita e muito menos interpretar-se por excesso o que representa de facto defeito. É a partir desse raciocínio que acho reducionismo interpretar o vermelho na actual bandeira como um simbolo do comunismo enquanto na verdade ele representa o sangue derramado pelos Moçambicanos durante a luta de libertacao nacional e ja agora, porque nao, durante os 16 anos de guerra civil. Nao vamos agora pretender interpretar o vermelho como saudosismo do comunismo (que nem existiu) senão teremos que substituir tambem a cor dos tapetes vermelhos que diplomaticamente se colocam à disposicao dos passos do V.I.Ps (Very Important Persons) mesmo no coração das instituições de soberania nacional. Segundo, acho igualmente reducionismo assumir a enxada na bandeira actual como a tradução ou um simbolo da aliança ‘operário camponesa’ (onde está o martelo?) enquanto na verdade ela representa o instrumento básico à disposicao de mais de 60% dos Moçambicanos para que possam melhorar as suas condições materiais.

A visão que tenho sobre o conteúdo da actual bandeira nacional é que ele (o conteúdo) representa não só o passado mas também o presente projectando-se pro futuro. O livro, por exemplo, representa um desafio do presente mas também do futuro não unica e necessariamente ao nivel da alfabetização, ou simples acesso a educação basica mas tambem e, principalmente, ao nível da ‘aliterácia’ que pra mim significa a capacidade de interpretar, criar e sistematizar o conhecimento cientifico. E vi a dias alguém (por acaso estrangeiro) num dos programas televisivos a atribuír o merito à bandeira de Moçambique pelo facto de ser a única no mundo que possui um livro como um dos seus conteúdos. O que pra mim quer dizer que esta bandeira é ate mais ‘moderna’ porque se só a bem pouco tempo muitos outros paises assumiram a educação como um valor básico e traduziram isso nos ‘objectivos do milénio’, Moçambique ja teve essa visao a 30 anos colocou-a num dos simbolos nacionais para que cada Moçambicano se identificasse com esse desafio e assumisse uma certa postura perante isso. Nao vejo nisso nada de partidarismo nem de menos nacional e os resultados, embora encorajadores, só não são melhores por motivos que são do conhecimento de todos nós.

É por isso dificil aceitar um revisionismo baseado na rejeição da actualidade histórica da bandeira de Moçambique. Além do mais, acho que um simbolo de soberania nao tem necessariamente que ser ‘moderno’ no sentido de actual. Basta ser histórico no sentido de traduzir algo que nos identifica e ao qual estamos todos directa ou indirectamente associados. Neste particular, duvido que alguém queira pôr em causa o facto de se ter utilizado durante a luta de libertação (evento histórico) um certo tipo de material bélico e que tenha havido deramamento de sangue. Agora podem dizer que aquele evento histórico não merece ser simbolizado então teriamos que encontrar outros eventos relevantes mas isso que não fosse feito por exclusão do que esta traduzido na actual bandeira de Moçambique.

Só pra terminar, gostaria de lembrar que rever não implica necessariamente substituir. Podemos chegar à conclusao de que tudo está conforme. Mas pra tal, temos que partir do principio de que os actuais simbolos não são discriminatórios e muito menos representações falsas da história de Moçambique e dos Moçambicanos.

“What About”
Misr

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