Ideias para Debate

Sunday, July 17, 2005

Coisas dos Espíritos

A Maria de Lurdes Torcato ( não Teresa, como já lhe chamaram) não vai muito com esta coisa dos Espíritos. Ela explica porquê:

“Deixa andar” é só um Espírito!

Estou preocupada com esta viragem do blog para o domínio do sobrenatural! É que o debate deixa-me desse modo completamente de fora e provavelmente este texto é a minha despedida. É que para dialogar temos de comunicar – neste caso pela palavra - e quando estas têm para cada um dos interlocutores sentidos diferentes, a comunicação é um quebra-cabeças.

Na opinião do Sérgio Gomes, a preguiça, a ganância, o interesse mesquinho e a falta de escrúpulos - além da incompetência - que tem caracterizado muito do nosso aparelho estatal, não passa afinal duma(s) alma(s) do outro mundo que se apoderam desses, ou dessas, indesejáveis pessoas, que são afinal vítimas e não culpados.

Quando pela primeira vez ouvi o PR Armando Guebuza falar do combate ao “espírito do deixa andar” percebi que ele se referia à tendência, atitude ou mania de certas pessoas de não assumirem as responsabilidades que lhe foram dadas ou lhe são inerentes, tratando dos seus interesses pessoais e, o país e o povo “que se lixem”, se me perdoam o calão.

Mas o Sérgio Gomes foi buscar, provávelmente ao mesmo jornal onde eu também a li, uma definição dada pelo PR numa reunião pública e que definia o espírito do deixa andar como “falta de humanismo e consideração sobre o sofrimento do próximo”. Isto é o que vem escrito pelo repórter e em princípio devia ser a exacta citação do PR. Mas quem lê a nossa imprensa com espírito crítico sabe que há mais de 50% de probabilidades de ser aquilo que o repórter “percebeu” do que disse o PR e não exactamente o que o PR disse.

E como se depreende lendo o Sérgio Gomes, se é só isso, não há lugar nem para despedimentos, punições, ou processos disciplinares, mas tão só um exercício de reeducação para corrigir e “humanizar as relações sociais e, sobretudo, aquelas que se desenvolvem entre o funcionário público e o utente dos serviços públicos”. O funcionário público foi ao bolso do cidadão e extorquiu-lhe tudo o que ele tinha para a refeição diária da família ou para pagar o transporte para voltar a casa, em troca do serviço que é suposto dar-lhe? Apenas uma “demonstração de falta de humanismo e consideração sobre o sofrimento do próximo” de que afinal nem tem culpa pois está possuído pelo “Espírito do deixa andar” (tal como Sérgio Gomes, escrevo Espírito com maiúscula para mostrar que estou a falar de uma entidade real e única, e uso a palavra como substantivo próprio). Portanto se ele está certo, eu estou errada, embora a nossa divergência possa ser apenas a respeito da natureza do substantivo. Para mim trata-se dum substantivo comum: espírito, no sentido de tendência, atitude ou mania. (Desculpem se sou confusa, quem é bom nisto é um cronista do Savana chamado Afonso dos Santos).

Voltei a ler o escrito de Álvaro Mabunda para saber se ele falava de Espírito com maiúscula ou com minúscula, mas achei difícil tirar conclusões pois se a palavra der início à frase, vai com letra grande mesmo que no “espírito” do autor se trate de um substantivo comum. A propósito: estará o Álvaro Mabunda possuido dum espírito, (perdão, Espírito) que é de mulher? É que o texto está escrito no feminino desde o início ao fim.

Em conclusão, com estas interpretação de que o mal que aflige este país tem origem num Espírito maligno (vade retro!) trata-se de mobilizar os curandeiros para procederem aos banhos colectivos e assim finda o combate iniciado pelo nosso novo PR e daí em diante vamos ser felizes para sempre! Ou então não percebi nada do que escreveram os últimos articulistas deste blog e sendo assim, espero que me perdoem porque ignorância não é crime.

Maria de Lourdes Torcato