Ideias para Debate

Monday, July 18, 2005

Mais espíritos

A Lurdes Torcato mandou uma curtíssima mensagem em que reconhece ter interpretado mal a questão do "espírito".

Entretanto o Abdul Manafi Mutualo parece estar possuido por outro tipo de espírito. Mas deixemos que ele próprio se explique:

Que o Espírito seja mesmo Acompanhado…

Das coisas mais académicas que tenho feito nestas férias é entrar no Blog do Machado porque, devo confessar, sou preguiçoso para fazer leituras não necessariamente obrigatórias. E há vezes em que mesmo sendo obrigatórias as deixo para a última hora. Contudo, dou graças a Allah por não deixar de as fazer e dar uma desculpa esfarrapada aos que me “obrigam” a ler para que eu depois vire o esperado “Mestre em Estudos do Médio Oriente”. Enfim, começo a pensar que tenho algum espírito que se me está apossado e esse tem nome: PREGUIÇA. Vence-se pela necessidade de se ter que cumprir metas no final de cada semestre e a responsabilidade individual em conseguí-las. E assim comecei a perceber a excelente analogia que o Gomes faz no seu artigo em que procura entender o tão propalado e cansativo Espírito de Deixa Andar e me surpreendo pela interpretação diferente que a senhora, ocorre-me chamar assim pela educação que recebi e não por conotação de idade, Maria de Lurdes Torcato tenha feito. Parece que sempre terei razão: “é tudo uma questão de interpretação!” Daqui pode-se depreender que o debate entre os dois me “obrigou” a vencer a minha preguiça e procurar intervir e espero que seja feliz com a mesma.

Começo por agradecer ao Gomes o facto de ele advogar, como melhor forma de acompanhamento do citado e malfadado espírito, a melhoria salarial do funcionário público e, como eu pertenço à classe, entende-se o meu agradecimento. Isto me faz lembrar as enormes batucadas que eu costumava ouvir na minha vizinha curandeira e a consequente debandada nas primeiras horas do dia lá no Xipamanine para um destino muitas vezes longe dali e minha mãe, devido à minha inquisição, acabou me explicando que aquele era o processo de “Ku Lhampfa”, ou seja, “de lavagem” e posterior acompanhamento à origem do citado (não vou repetir o nome por mera prequiça). Ora, é esta analogia que o Gomes faz em relação ao citado, mas a felicidade da analogia do mesmo está no facto de as soluções para o combate do citado serem racionais e não virem, necessariamente, do mundo transcendental, esta que foi a interpretação da senhora Lurdes.

Eu acredito que o ritual do acompanhamento do citado seja feito dentro daquilo que o Gomes defende e não vou repeti-lo, Contudo, acredito que deve ser feito um exercício no sentido de questionar ao funcionário público:

. O que o motiva a que todo o santo dia abandone a doce quentura da sua cama para ir para uma instituição onde ele necessariamente não trabalha?

. Qual é o projecto que ele assume como sendo o melhor para que o país progrida e ou se desenvolva?

Acredito que teríamos respostas muito interessantes e eventualmente não estariam longe daquilo que podemos estar a adivinhar:

  1. O funcionário público (FP) não trabalha por motivação, mas sim por sobrevivência.
  2. Ao FP não lhe é ensinado a trabalhar, mas sim a executar tarefas.
  3. Ao FP não é dado o devido valor de opinião que é dado aos consultores. Lembro-me dum exemplo que um colega meu me passara referente a um conselho coordenador ou consultivo, acredito que estas palavras ainda não estavam na moda, por alturas da ministra Graça Machel. No mesmo discutia-se a necessidade de se introduzir melhorias na pedagogia, isto que era uma sugestão dum consultor. Entretanto um professor, que vinha lá do Niassa, levanta-se e diz “o que eu preciso é giz e quadro para dar as minhas aulas...” e talvez, acrescento eu, poder-se-ia implementar as sugeridas pedagogias. Na verdade, o mesmo professor não foi levado em conta e sabe-se qual é o estádio da educação no interior do país.
  4. O FP não sabe para onde o país vai e muito menos se revê no projecto de desenvolvimento do país.

Assim sendo, julgo que é preciso motivar – via melhoria de salário e ou condições de trabalhos – bem como dar o “ownership” ao FP do projecto daquilo que se espera Moçambique poder vir a ser dentro de cinco ou dez anos e fazê-lo perceber que ele é uma das peças-chave para a consecução do mesmo. E finalmente, ensinar-se aos nossos chefes que prepotência e arrogância não são sinónimos de satisfação para aqueles que estão sob a sua alçada, ou seja, a face mais visível de onde o citado deve ser lavado e acompanhado: o normal FP!

Naturalmente, que a responsabilização para o cumprimento de metas e o mostrar-se os benefícios e custos do não cumprimento de objectivos é também algo que pode ser pensado. Afinal não é assim que venço o meu próprio espírito da preguiça?

É assim que interpreto o “ku Lhampfa” do Espírito do Deixa Andar dentro do contexto sabiamente trazido pelo Gomes.

Abdul Manafi Mutualo

Cairo, 19 de Julho de 2005.

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