Ideias para Debate

Wednesday, July 27, 2005

Resposta longa

O Sérgio Gomes continua o diálogo com o Elisio Macamo, com o texto que se segue:

O Que o Ocidente pode Fazer – Resposta ao Elísio Macamo

Tem sido bastante excitante trocar ideas com o Elisio Macamo. Cada vez que vejo uma reação dele ignoro todo o resto só pra tentar perceber o alcance das suas frases que confesso terem um sentido profundo de quem sabe o que diz. Não tem sido tarefa fácil mas tenho procurado dar o meu melhor tentando assumir um posicionamento imparcial e tentando evitar que as minhas paixões e os meus ódios influenciem o resultado da abstração. Julgo ter dito muito sobre este tema neste blog (o único sitio pra onde escrevo), mas o Elisio foi levantando algumas questões que exigem que eu alongue mais esta reação (comaprativamente aos comentários no fundo do texto) na expectativa de cobrir o essencial do debate.

O Elisio tem insistido na necessidade de nós não termos que racionalizar demasiado sobre o Terrorismo e as suas motivações. Contrariamente, acho que o nosso papel deve ser também o de procurar encontrar racionalidade mesmo em situações aparentemente irracionais. Só assim se podem encontrar e sugerir soluções sustentáveis.

Segundo, O Elisio diz não perceber que responsabilidades nós temos (resto do mundo) sobre a incoerência do mundo Árabe. Eu acho que temos responsbilidades perante nós mesmos e perante as sociedades que esperam algo de nós. Recordo-me agora de um seu pronunciamento, perante uma audiência formada por uma maioria aspirante a diplomata Moçambicano, no qual ao te referires ao Ocidentes dizias que deviamos criar um pensamento Moçambicano que vise potenciar-nos de um conhecimento crítico sobre as instituições ou entidades estatais ocidentais. Isso serve também em relação aos terroristas e às sociedades que lhes produzem. E mais, temos de facto que perceber como funcionam e como definem os seus interesses porque só isso nos poderá dotar da capacidade de antecipação dos seus actos. Por enquanto, o Ocidente é alvo mas nada impede que esses actos se possam alastrar. É minha convicção que a compreensão do fenomeno do Terrorismo não pode ser feita por simplificação mas sim a partir de uma abordagem holistica do assunto.

Diz o Elisio que não sabe o que se deve esperar do Ocidente para evitar conotações de conivência. Ora, receio que seja dos poucos que não querem ver a questão. Há muito que o Ocidente pode fazer mas duma forma resumida:

  • Espera-se que o Ocidente representado e liderado por Bush e Blair se demita da auto-mandatada missão de impor o modelo político ocidental nestes países. Até que os valores ocidentais podem ser merecedores de admiração nestes cantos mas, a imposição não é a melhor forma de os fazer presentes. Eles devem ser vendidos não por via da sua dimensão negativa (conflito) mas sim pelas suas qualidades que são tantas e talvez nem precisassem de um trabalho profundo de marketing;

  • Espera-se não que o Ocidente se demita de criticar mas que o faça com o mesmo peso e medida. Que critique também os actos que Israel comete sobre os Palestinianos de igual forma que o faz em relação à incapacidade da Autoridade Palestiniana exercer controle sobre os grupos armados. É mportate referir que os palestinianos (com poucos recursos) têm recebido demasiada pressão do Ocidente enquanto que o Israel (com mais recursos) tem apenas recebido carinhos. Talvez isso seja uma dádiva para compensar o que os Judeus passaram nas mãos do Ocidente durante o holocausto (a propósito, onde estava a razão Ocidental?);

  • Espera-se que a politica do Ocidente em relação a esta região seja de facto guiada pela promoção dos valores supremos da humanidade como seja o respeito pela dignidade humana, não porque as pessoas, grupos e insttituções desta região não respeitam os valores humanos mas simplesmente porque o pacote das liberdades fundamentais do Ocidente é mais alargado do que aquilo que se promove e defende nesta região. O que acontece, porem, é que o Ocidente tem se guiado sob a bandeira da promoção desses valores mas que na verdade tem dado primasia aos interesses económicos e político estratégicos às vezes chocando com os princípios que mais defende. O acesso aos campos petrolíferos do Golfo assume saliência nesse aspecto;

  • Espera-se que o Ocidente seja consistente na sua luta contra os “inimigos da liberdade” ( a nova disignação da “luta contra o Terrorismo”, aparentemente para lhe dar mais expansão). Neste particular questiona-se as razões para a diabolização do Iraque e do Irão por um lado, e por outro, o apadrinhamento do Egipto e da Arábia Saudida. Será que que Sadam Hussein era mais Autoritário que Mubarak? Ou porque Sadam tinha cortado o cordão umbilical com os EUA e disposto a abraçar projectos que ameaçavam os interesses estratégicos Americanos?(recordar que Sadam até ja havia iniciado com o uso do Euro como moeda pra compra do petróleo Iraquiano). É verdade que havia atropelos de direitos humanos no Iraque, mas só por essa consideração Mubarak não fica atrás e a consistencia implicaria que o mesmo que foi feito com Sadam fosse feito com Mubarak. Mas assim não foi porque consideraram-se outras variantes superiores à questão dos direito humanos – os interesses economicos e politico-estratégicos;

  • Espera-se que os Americanos expliquem o excepcionalismo do Israel. Questiona-se, aqui, o porquê de Israel ser permitido desenvolver um sistema nuclear para fins civís e ao Irão ser-lhe negado o mesmo direito?

Tratam-se de questões macro que o Ocidente avalia sempre em prejuízo dos povos desta região. Uma abordagem equilibrada destes assuntos pode promover simpatias em beneficio do Ocidente. É importante dizer que as únicas simpatias que o Ocidente (Bush Blair) goza são por parte das lideranças comprometidas com a vontade de se manter cada vez mais tempo no poder mesmo que isso seja em prejuízo da satisfação de seus povos. Grande parte de populares nesta região estão “pouco se lixando” com a agenda que o o Ocidente pretende promover nesta região. Este desinteresse acompanhado pela rejeição, não se deve necessariamente pela inqualidade dos valores mas principalmente pelo método selectivo que se está usando para a sua promoção. É assim que o Ocidente, sem o pretender, acaba criando condições férteis para o surgimento e desenvolvimento do ódio contra as suas Instituições e os seus valores. É isso que motiva o surgimento de redes de grupos que acham que a única forma de demonstrar o seu despreso pelo Ocidente e seus aliados regionais é o fatalismo.

Os valores, ou seja a razão ocidental é de utilidade incontestável quando a questão é a escolha entre esses valores e o caos. É por isso que grande parte de África os consome, embora com deficiências mas com pouco questionamento. Já o Médio Oriente e particularmente as sociedades Árabe-Islamicas têem uma civilização, que já foi das maiores do mundo, a preservar. Têem referências alternativas sobre como gerir eficientemente a sociedade, como manter a ordem, que são totalmente ignoradas pelo Ocidente na sua cruzada pela universalização dos seus valores. Isso provoca ressentimentos e faz com que alguns grupos mais radicais se mobilizem para defender aquilo que percebem estar a ser atacado e destruído. Reparo que esta luta não é recente, ela é secular só que tomou nos últimos tempos contornos alarmantes também pela intrasigência do Ocidente em reconhecer o óbvio – que a sua política nesta região aumenta o ódio contra si.

A abordagem do Ocidente em relação a esta região não deve ser do tipo soma zero mas sim uma abordagem que reconheça a possibilidade do melhoramento do que existe conforme os tempos em que vivemos. Isto nunca pode ser feito a partir de Washington e Londres por pessoas que transportam subjectividades em relação a esta região e aos povos (de referir que Daniel Pipe é um dos conselheiros da Administração Bush para a região). É preciso vender o bom do Ocidente buscando-se alianças com os povos e não com as lideranças, através da adopção de políticas coerentes e consistentes para a região como um todo. Nada de dois pesos e duas medidas.

Só para terminar gostaria de chamar atenção para o facto de os próprios actores que pretendem exportar o modelo democrático liberal para esta região reconhecerem que ele não é funcional para os seus interesses porque na verdade existe alternativa que é permanentemente bloqueada em alguns países desta região. Se se acredita tanto na possibilidade de triunfo do modelo porque não foi permitida a realização da segunda volta das eleições Argelinas de 1991 que já estavam praticamente ganhas por um grupo com legitimidade popular? Porque os militares na Turquia estão sempre em alerta como guardiões do secularismo? (precisa de guardas?) Porque é que se faz vista grossa à falta de liberdade em processos eleitorais no Egipto? Porque é que não pedem que a Arabia Saudita se liberalize? Como explicam que perante um moderado, que pudesse estar disponivel para liberalizar, e um radical, que não fará nenhum compromisso, os Iranianos tivessem preferido o radical? (note que as eleições foram consideradas justas no Irão). Pretendo dizer que a exportação do modelo liberal para esta região e consequente realização de eleições livres e justas traria Islamitas para o poder na Argélia, no Egypto, na Arábia Saudita (ja estão lá, mas poderia trazer não amigos do Ocidente) e em toda a região não teriamos um governo defensor do secularismo no poder. Bush e Blair pelo menos têem conhecimento disto; não é, como se deve imaginar, do seu interesse que isso aconteça, daí que fazem vista grossa já que isso permite que governos amigos continuem no poder. Onde está a razão ocidental nisto?

“What About”

Misr

3 Comments:

  • Caro Sérgio Gomes,
    Infelizmente estou em correria por aqui e não disponho de muito tempo para me alongar. Li o seu texto por alto e receio não ter acesso regular à internet nos próximos tempos. Por essa razão, deixo apenas registadas algumas inquietações na esperança de um dia me debruçar com mais calma e atenção sobre o assunto.
    Não percebo porque é que a sugestão segundo a qual não devemos racionalizar demasiado implica necessariamente que o que estamos a observar é irracional. Também sou de opinião que os terroristas são perfeitamente racionais - senão não faziam o que fazem - mas o facto de nós entendermos isso não nos obriga nem a concordar com o que o fazem, nem a procurar outro tipo de soluções.
    Não percebo porque a necessidade de percebermos o que os terroristas estão a fazer implica necessariamente que estejamos a adoptar uma posição "holística" e não simplificada. Depois de percebermos as motivações o que fazemos? Um argumento é correcto quando apela à força? Se depois de percebermos e acharmos que a melhor solução continua a ser a via militar o que dirá? Que ainda não percebemos, temos que continuar a perceber? Não percebo a ideia de que a compreensão do problema do terrorismo só é válida quando a única solução é a lista de coisas que o Sérgio Gomes enumera no seu texto.
    Não percebo porque a solução para os problemas árabes tem sempre que passar pelo Ocidente. Que eu saiba, o Ocidente não anda a impôr o modelo islâmico dessa forma missionária, embora eu próprio seja de opinião que o mundo seria muito melhor se houvesse mais países a emular o modelo político ocidental. Suspeito que o Sérgio Gomes também. O relativismo que empresta às suas observações arrepia-me.
    Não percebo porque o apoio a Israel constitui uma compensação pelo holocausto. Os americanos, juntamente com os russos, libertaram a Alemanha do nazismo. Não percebo porque o holocausto constitui uma refutação da razão, nem porque insiste em adjectivar a razão dessa maneira. A razão é universal, tudo quanto tento dizer é que o sistema político desenvolvido no Ocidente dá mais espaço à razão. Não vejo a utilidade de falar duma razão ocidental, africana, árabe, etc.
    Não percebo que mal há em ter interesses económicos e políticos estratégicos a defender. Para documentar a sua boa vontade o Ocidente deve ser altruísta, não ter interesses próprios a defender, fazer apenas o que é do interesse daqueles que os analistas "holistas" identificam como sendo o mais correcto? Não percebo porque devemos pensar que o petróleo está em mãos mais seguras quando controlado por Saddam Hussein do que por Bush ou Blair.
    Não percebo porque Mubarak e a família real saudita são piores do que Osama Bin Laden, muito menos porque o facto de serem apoiados pelo Ocidente implica que eles estejam contra o seu próprio povo.
    Não percebo porque a questão da posse de armas nucleares só pode ser vista no prisma de se um tem, outro também tem que ter. De resto, confesso me sentir menos ameaçado sabendo que fanáticos religiosos não estão em posse de armas nucleares do que quando é israel.
    Finalmente, não percebo a insistência em "valores ocidentais" em detrimento de valores universais. Não percebo este relativismo, nem onde ele nos pretende conduzir. Os árabes têm os seus valores, os africanos não têm nenhuns porque não têm grande civilização, por isso consomem os ocidentais, os asiáticos têm os seus, etc. Que tipo de argumentação é esta? Se fosse realmente assim porque é que o Ocidente devia se coibir de tentar impôr os seus valores sobre os outros? Se de facto, a imposição de valores é um valor em si, que base existe para o entendimento entre os povos?
    Não percebo nada disto.

    By Blogger Elísio Macamo, at 3:32 AM  

  • DESISTO

    Está claro que o Elisio Macamo não quer perceber a abordagem que acho que dever ser feita sobre o Terrorismo. Não sei porquê. Mas sei que Bush e Blair não iriam equacionar a possibilidade de abordar a questão conforme os pontos que apresentei texto acima porque isso seria alienar os seus interesses estratégicos. Acho, por isso, ser inútil tentar esclarecer o que o Elísio diz não perceber. O resultado seria o mesmo – continuar a não perceber. Contudo, insisto no essencial.

    1. Apresentei o que o Ocidente pode fazer para evitar ser visto como conivente não necessariamente por simpatizar com tais reivindicações, mas por reconhecer que elas existem e devem ser reconhecidas e tambem porque o próprio Elisio tinha dito não perceber o que o Ocidente podia fazer para evitar ser conivente. À partida ja estava condenado a ser relativo. Assumo que o Elisio pediu o que não queria.
    2. Não se trata de se ligar a solução dos proplemas do mundo Árabe-Islâmico ao Ocidente mas sim de se saber o que o Ocidente tem feito para provocar e agudizar parte dos problemas naquela região. A solução dessa parcela exige logicamente a ligação com o Ocidente. Trata-se de uma parcela cuja solução pode libertar o Ocidente das conotações que recebe;
    3. Claro que qualquer país tem o direito de ter interesses estratégicos. Mas quando a prossecussão desses interesses estratégicos põe em causa a preservação de outros interesses como sejam a estabilidade e seguraça dos seus próprios territórios e povos, então os decisores devem ter o discernimento necessário para rever o conteúdo desses interesses estratégicos (até que ponto são vitais) e reavaliar a forma de prossecução. Evidente que o Ocidente faz essas revisões mas tem pecado por insistir numa formula que acaba ameaçando a segurança dos seus povos.
    3.1. A pressecussão dos interesses estratégicos nem sempre deve ocorer com a criação de fantasmas e bodes espiatórios. É possivel buscar formulas sustentáveis de prossegui-los. Afinal o Golfo, incluíndo Iraque, sempre estará interessado em vender o seu petróleo e o Ocidente é um dos mercados mais preferidos.
    4. O Petróleo Iraquiano está melhor nas mãos dos Iraquianos. Nao acho que esteja melhor nas mãos de Bush nem de Blair da mesma forma que essas personalidades nao permitiriam que o Petróleo Americano estivesse nas mãos de Putin.
    5. A ideia não é tentar transmitir que Mubarak e a familia real são piores que Bin Laden. Mas chamar atenção para os actos susceptiveis de criar radicais que são cometidos por aqueles lideres nas suas sociedades. Tem se feito vista grossa a isso e assume-se um Bin Laden e seus seguidores que surgem do nada.
    6. Sim há valores universais. Contudo, insisto em valores ocidentais para descrever aqueles que são impostos duma forma parcelada sobre uns e não sobre outros nas mesmas condições.

    FINALMENTE, o Elisio apresenta muitos “não percebo”. Assumo como figura de estilo porque ja não acredito que a intenção seja de tirar um esclarecimento da minha parte. Por isso fico por aqui, reiteirando o que tenho dito. Não se pode resolver o problema do Terrorismo sem que se tenha uma abordagem geral e aquilibrada sobre as causas. Reconheço certa legitimidade no que o ocidente pretende promover mas tambem não fico cego à certa legitimidade das reivindicacões apresentadas pelos grupos e sociedades Árabe-Islâmicas. Amputar as causas de acordo com interereses obscuros não irá ajudar encontrar soluções sustentáveis.

    By Blogger Sérgio Gomes, at 10:05 AM  

  • Afinal sempre consegui um espaço para ver o que se continua a falar no blogg. Compreendo o desalento do Sérgio Gomes, tanto mais que se entra num debate por vezes para convencer os outros. Acho melhor, contudo, desistir do debate quando se tiver a certeza de que se fez tudo para apresentar um argumento coerente e sólido. Os meus muitos "não percebo" eram um convite ao Sérgio Gomes para fazer isso, pois, com todo o respeito, os argumentos que tem vindo a apresentar não fazem sentido, pelo menos para mim. E pioram de cada vez que insiste, pois tem a tendência de tirar ilações a partir do que escrevi e tomar isso como o meu argumento principal.
    O que me fez intervir neste assunto foi o artigo de Abdul Mutualo. Achei-o interessante, mas pedi para que não se racionalizasse demasiado algo que tinha deixado de fazer sentido. Disse que o terrorismo é um assunto que havia deixado de ter uma solução política, EM PARTE POR CAUSA DA INTRANSIGÊNCIA DO OCIDENTE, EM PARTE POR CAUSA DA PRÓPRIA INCOERÊNCIA DO INTEGRISMO ISLÂMICO. Isso não implica ignorar tudo o que o mundo árabe sofreu às mãos do Ocidente; não implica ignorar a forma como a via militar está a ser conduzida; não implica perder de vista todas as contradições que acompanham a política internacional sobre o Médio Oriente. Portanto, não vai ser por se repetir a história das relações entre o Ocidente e o Médio Oriente pela milésima vez que se vai proporcionar argumentos contra o ponto de vista que apresentei. E é precisamente neste ponto onde vejo a maior fraqueza do seu ponto de vista. Essencialmente, está a dizer que qualquer pessoa que não aceite a ideia de que existe uma solução política para este assunto é porque ainda não percebeu as causas profundas do conflito. Não me parece argumento. É uma imposição. Que tal se o Ocidente tiver de facto olhado para todas essas circunstâncias - acho que fez isso - e tenha, apesar disso, chegado à conclusão de que de facto a única via é a militar? Ainda não percebeu o problema? E depois tem o problema de sempre partir do pressuposto de que todos os líderes árabes que são pró-ocidentais são-no por razões meramente pessoais. Isto dá a ideia de que não são legítimos representantes dos seus povos, só os terroristas, aparentemente. Justamente neste ponto a insistência na compreensão das causas do terrorismo seria de muito valor. O mundo árabe tem um grande problema interno que não vai resolver externalizando. Daí que eu tenha também dito que mesmo que o Ocidente fizesse tudo quanto os integristas exigem, o terrorismo iria provavelmente continuar.
    Os restantes pontos são supérfluos à discussão. O mundo livre e civilizado tem que se defender. Muita gente no mundo árabe e islâmico partilha os valores por detrás dos sistemas políticos que colocaram "monstros" como Bush e Blair no poder. Essas pessoas não têm nenhuma afinidade com terroristas e discernem a forma como o integrismo está a instrumentalizar o seu sofrimento para fins obscuros. Acho que essas pessoas merecem o nosso respeito, que lhes podemos dar resistindo à tentação de supor que os seus legítimos representantes sejam terroristas. Os nossos argumentos não ficam nem mais fortes, nem mais fracos de acordo com o que sentimos em relação a Bush ou Blair. Ficam mais fortes com a sua coerência interna que, mais uma vez e com todo o respeito, faz ainda falta no que até aqui foi apresentado.
    Só mais uma coisa: O petróleo iraquiano fica de facto melhor nas mãos dos iraquianos. Mas lá está o problema. Eu estava a falar da opção entre Bush e Saddam Hussein. Este último não é necessariamente as "mãos iraquianas". Que esse não é o caso, o martírio do seu povo em resultado da sua insensatez demonstra todos os dias.
    São estas coisas que não percebo. Peço que me desculpe se não puder voltar a responder nos próximos dias, pois dentro de horas apanho o voo para Moçambique e lá não tenho acesso fácil à internet. Se chegar, é claro, pois não é de pôr de lado a possibilidade de ser martirizado nos ares em prol da guerra contra a hipocrisia dos valores ocidentais...

    By Blogger Elísio Macamo, at 12:03 AM  

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