Capital Humano
Experiência
Primeiro parágrafo: Apressio baxtante esse programa axo ele escelente purk aprendese a conheçer esperiencias de presonalidades superinterçantes e o teu programa e o maximo por isso dote nota 10 e dezejote uma grande forca e nao te esquessas k keremos ganhar o carro.
Segundo parágrafo: “Por ‘educação’, no sentido amplo da palavra, entende-se o conjunto de influências que toda a sociedade exerce no indivíduo. (...) Por meio da educação garante-se a transmissão de experiências de uma geração para outra.” (in “Pedagogía”, Trabalho colectivo de especialistas do Ministério de Educação de Cuba, Editorial Pueblo y Educación, 1981).
Será que estes dois parágrafos anteriores têm entre si alguma relação? A seguir se verá se sim ou se não ou até que ponto.
Aquele primeiro parágrafo é, mais ou menos, um exemplo de certo tipo de mensagens que alguns programas de televisão andam a exibir. Relacionando aquilo com a questão da “transmissão de experiências”, a qual constitui a essência do conceito de educação, levanta-se alguma curiosidade. Quem são as pessoas que souberam transmitir aquela experiência de escrita a quem envia aquelas mensagens? Que tipo de experiências vão ser capazes de transmitir, no futuro, aqueles que escrevem daquela maneira? E com estas experiências transmitidas por esses, como é que andará tudo isto daqui a uma curta década?
E uma pergunta tripla: (1) qual o rigor de raciocínio, (2) que tipo de conceitos científicos e técnicos, (3) que qualidade de experiência –, é possível transmitir ou adquirir com este tipo de linguagem em que cada um escreve à sua maneira?
Há bem poucos dias atrás, foi transmitida, num canal de televisão moçambicano, uma breve reportagem sobre as bibliotecas das escolas. Sobre uma dessas bibliotecas foi dito que ela tem milhares de livros, mas que estão ultrapassados no tempo, porque são da década de 80, e a tecnologia tem estado a evoluir. Ora, com este modo de pensar segundo o qual os livros da década de 80 estão ultrapassados no tempo, não espanta que quem assim pensa também ache que não é preciso saber escrever, uma vez que a escrita foi inventada algumas décadas antes da década de 80, e, por conseguinte, também já está muito ultrapassada no tempo.
Acontece que tudo isto não é uma simples questão de conhecimento da língua, e por duas razões bem simples: a primeira é que quem não sabe escrever é porque também não sabe ler, e, por consequência, muito dificilmente pode ter adquirido outros conhecimentos; a segunda é que quem demonstra tal grau de desconhecimento da língua, não pode deixar de ter igual grau de desconhecimento de outras matérias, sejam elas quais forem (história, geografia, biologia, física, matemática, informática).
Daqui resulta nova curiosidade. Essas pessoas pertencem a um grupo social que, sem ser necessariamente abastado ou privilegiado, usufrui de algum bem-estar material pois possui televisor e celular e dispõe de tempo bastante para estar a assistir aos programas e a enviar mensagens para lá. Ora, supondo que o bem-estar material resulta do exercício de alguma profissão ou da realização de alguma actividade empresarial, pode concluir-se que já se tornou possível fazer isso – exercer uma profissão razoavelmente remunerada ou realizar uma actividade empresarial rentável –, sem possuir um mínimo aceitável de conhecimentos. Como poderá ser explicado este mistério económico?
É possível imaginar que talvez seja graças a um mirabolante conceito inovador que está por aí a vir, o conceito de “capital humano”. O que interessa não é os conhecimentos que possuis, mas sim o capital que podes representar.
Vejamos: o conceito de “capital” pode ser definido como o “conjunto de bens heterogéneos complementares e reprodutíveis necessários à produção.” (Henri Tézenas du Montcel, “Dicionário de Gestão”, 1972). Quer dizer que, então, o ser humano passa a ser considerado como um desses “bens heterogéneos complementares e reprodutíveis necessários à produção”?
Este conceito de “capital humano” constitui uma refinada manobra ideológica e uma clara intenção de abolir o Homem como sujeito, como personalidade, fazendo dele um mero factor económico. Significa que o valor do ser humano passa a ser medido em função da sua utilidade como factor de produção. É um agenda política que se situa escancaradamente no extremo oposto do pensamento humanista. E de nada vale o desgastado argumento de que esse conceito é uma tendência política mundial. Porque é preciso explicar: De qual mundo? De quais países desse mundo?
Ainda cabe aqui mais uma perguntinha: Se a educação é entendida como “o conjunto de influências que toda a sociedade exerce no indivíduo”, qual é a influência que aqueles programas de televisão pretendem exercer ao disseminarem tal forma de escrever?
Com tudo isto, que experiência humanista se pretende transmitir às novas gerações? Que educação? Só podem transmitir experiência aqueles que a têm. E a verdade é que a têm tanta – até se diz que não há ingénuos na política –, que a vontade política que vêm demonstrando é a de transmitirem aos seus descendentes um tipo de experiência bem diversa daquela que receberam dos seus próprios ascendentes ou progenitores. Procurar entender porquê, é com certeza um debate que não tem qualquer interesse. Vamos lá falar de sida, de pobreza absoluta e de capital humano, que isso é que é conversa, e o resto não interessa!...