Desacordo
A Maria de Lurdes Torcato está em desacordo com o Manuel Tivane. E diz-nos aqui porquê:
“Há sinceridade nisso?”
Um contribuinte neste blog - Manuel Tivane – tem uma curiosa forma de se apresentar a debate e foi essa forma que me provocou a vontade irresistivel de lhe responder. Começa por fazer elogios a dois colunistas “da nossa mídia”, um deles o Machado, do qual diz “que não se acomoda perante injustiças e graves contradições, sobretudo por parte dos poderes políticos”. Estou absolutamente de acordo, se Tivane inclui como eu, as críticas ao desleixo e à corrupção, aos privilégios e benefícios ilícitos e imorais, ainda mais tendo em conta a pobreza do estado moçambicano.
Depois faz um elogio mesclado de crítica ao Mia Couto, com uma implícita censura “aquele seu jeito de deixar sempre um mandamento, uma lição”. Não tem mal nenhum nós gostarmos de umas coisas e não gostarmos de outras, na mesma pessoa. Só que exactamente aquilo que Tivana não aprecia no Mia, foi uma “lição” que veio a aplicar na sua própria vida pessoal. Será que está a ser sincero, ou o intróito é apenas um justificativo para a severidade com que discorda do ministro da Saúde, discordância que alarga a outros incluindo a vice-ministra da Agricultura? Afinal, as coisas não estavam tão mal assim antes destes ministros, e o Machado não estava certo nas suas críticas “aos poderes políticos”?
M Tivana não é o único que nos últimos tempos, para grande surpresa minha, aparece a escrever contra estes e outros ministros que se empenham em endireitar aquilo que pensam que pode e deve ser endireitado, nos postos para onde foram nomeados. Digo com surpresa minha, porque estava convencida que neste país se havia um consenso quase unânime, era na condenação da corrupção, da falta de escrúpulos morais, quase todos associados aos cargos do estado. Afinal, a luta contra isso está a cair mal em alguns quadrantes. Tivana procura levar-nos a crer que não está contra as intenções, mas contra os métodos. Mas demora-se muito mais a dizer, por exemplo, que o Dr Ivo tem mau feitio, é carrancudo, não cumprimenta as pessoas, é mal humorado...do que a falar nos “hospitais que andam visivelmente melhor”. Vai mesmo avisando contra “os ressentimentos” que o ministro está a causar, em vez de chamar a atenção dos malavisados que alimentam ressentimentos. Diz que a má-criação do Dr. Ivo já foi vista na TV. Eu não a vi nas várias reportagens das visitas a hospitais em funcionamento, e a “paredes de blocos” levantadas há vários anos para virem a ser a futuros hospitais...mas por lá ficaram esquecidas.
O Dr Ivo Garrido é em primeiro lugar um médico e o autor não baseia certamente as suas críticas em opiniões de doentes que foram vistos ou tratados por ele. Aliás eu já tinha ouvido uma pessoa da minha família censurar o Dr. Ivo, muito antes de ele ser ministro, com uma frase mais ou menos assim: “É um chato com o pessoal. Só os doentes é que gostam dele”. É porque ele tem um alto sentido profissional, em termos científicos e em termos deontológicos, que muitos na profissão de atender doentes o detestam. Porque ele próprio detesta os que abandalham a sua profissão, quer o enfermeiro que recebe dinheiro por baixo da mesa de um pai desesperado com uma filha doente nos braços, quer o director de enfermaria que convive indiferente com a sujidade, sabendo que a falta de assépsia pode matar um doente internado (ou mesmo vários...). A sua farda imaculadamente branca, é só por si uma lição de medicina. E a sua postura de aproximação física ao doente é outra lição, e ele não a exibe por acaso.
Igualmente não consegui aperceber-me da falta de urbanidade e polidez da Vice-Ministra da Agricultura, mas admito que M Tivane sabe porque o diz. Eu vi a sua exaltação emocional, explicando a um repórter o porquê do seu despacho cortando as contas de telemóvel pagas pelo orçamento do estado, e o parque ostensivo de 4x4 no ministério quando fazem tanta falta no campo. Expôs-se tanto como o colunista Machado, ou até mais, nas críticas aos privilégios que chocam a consciência moral. Eu devo confessar que aprecio a INDIGNAÇÃO contra os males deste mundo como a injustiça, a corrupção, a ostentação da riqueza ao lado da miséria, a violência e o abuso contra os mais fracos e indefesos. O episódio do evangelho que mais me impressionou nos anos da minha educação católica, e que ainda hoje aprecio quando já me esqueci de tantos, é o de Jesus expulsando à vergastada os vendilhões do templo. Não sei concretamente o que faziam os “vendilhões” no templo, mas eles são o símbolo de todos os que desrespeitam e abandalham aquilo que para muitos outros é sagrado. Por isso não compreendo nem partilho as opiniões do contribuinte para o Blog, Manuel Tivane.
PS – Antes que se levantem suspeitas por causa dos meus elogios aos dois ministros – nunca fui “puxa-saco de estruturas” - quero esclarecer as minhas relações com eles. A Sra vice-ministra, vi-a pela primeira vez na TV. Quanto ao Dr Ivo, fiz-lhe uma entrevista em 1971, de que ele provavelmente nem se lembra, quando ele era estudante universitário e dirigente associativo, já muito mal visto pelas autoridades e pelas chamadas “cabeças bem pensantes” da época. Quando o voltei a ver, há meia dúzia de anos, passei a ser sua doente, até o Presidente lhe ter dado mais altas funções. Perdi por isso o médico, mas consola-me a ideia de que milhões de pessoas que precisam de hospitais, de médicos e de enfermeiros, podem beneficiar das suas “intenções”, mesmo que os “métodos” inspirem ressentimentos.
Por último, penso que o Blog tem sido rico em ideias mas pobre debate. Os dados já foram lançados, as regras do jogo também, mas o debate, a discussão, aquele pôr e contrapôr de argumentos que resulta em consensos tácitos que, mesmo pequeninos, são passos para conquistar mais uns metros de caminho, esse debate parece-me que ainda não arrancou a sério.
“Há sinceridade nisso?”
Um contribuinte neste blog - Manuel Tivane – tem uma curiosa forma de se apresentar a debate e foi essa forma que me provocou a vontade irresistivel de lhe responder. Começa por fazer elogios a dois colunistas “da nossa mídia”, um deles o Machado, do qual diz “que não se acomoda perante injustiças e graves contradições, sobretudo por parte dos poderes políticos”. Estou absolutamente de acordo, se Tivane inclui como eu, as críticas ao desleixo e à corrupção, aos privilégios e benefícios ilícitos e imorais, ainda mais tendo em conta a pobreza do estado moçambicano.
Depois faz um elogio mesclado de crítica ao Mia Couto, com uma implícita censura “aquele seu jeito de deixar sempre um mandamento, uma lição”. Não tem mal nenhum nós gostarmos de umas coisas e não gostarmos de outras, na mesma pessoa. Só que exactamente aquilo que Tivana não aprecia no Mia, foi uma “lição” que veio a aplicar na sua própria vida pessoal. Será que está a ser sincero, ou o intróito é apenas um justificativo para a severidade com que discorda do ministro da Saúde, discordância que alarga a outros incluindo a vice-ministra da Agricultura? Afinal, as coisas não estavam tão mal assim antes destes ministros, e o Machado não estava certo nas suas críticas “aos poderes políticos”?
M Tivana não é o único que nos últimos tempos, para grande surpresa minha, aparece a escrever contra estes e outros ministros que se empenham em endireitar aquilo que pensam que pode e deve ser endireitado, nos postos para onde foram nomeados. Digo com surpresa minha, porque estava convencida que neste país se havia um consenso quase unânime, era na condenação da corrupção, da falta de escrúpulos morais, quase todos associados aos cargos do estado. Afinal, a luta contra isso está a cair mal em alguns quadrantes. Tivana procura levar-nos a crer que não está contra as intenções, mas contra os métodos. Mas demora-se muito mais a dizer, por exemplo, que o Dr Ivo tem mau feitio, é carrancudo, não cumprimenta as pessoas, é mal humorado...do que a falar nos “hospitais que andam visivelmente melhor”. Vai mesmo avisando contra “os ressentimentos” que o ministro está a causar, em vez de chamar a atenção dos malavisados que alimentam ressentimentos. Diz que a má-criação do Dr. Ivo já foi vista na TV. Eu não a vi nas várias reportagens das visitas a hospitais em funcionamento, e a “paredes de blocos” levantadas há vários anos para virem a ser a futuros hospitais...mas por lá ficaram esquecidas.
O Dr Ivo Garrido é em primeiro lugar um médico e o autor não baseia certamente as suas críticas em opiniões de doentes que foram vistos ou tratados por ele. Aliás eu já tinha ouvido uma pessoa da minha família censurar o Dr. Ivo, muito antes de ele ser ministro, com uma frase mais ou menos assim: “É um chato com o pessoal. Só os doentes é que gostam dele”. É porque ele tem um alto sentido profissional, em termos científicos e em termos deontológicos, que muitos na profissão de atender doentes o detestam. Porque ele próprio detesta os que abandalham a sua profissão, quer o enfermeiro que recebe dinheiro por baixo da mesa de um pai desesperado com uma filha doente nos braços, quer o director de enfermaria que convive indiferente com a sujidade, sabendo que a falta de assépsia pode matar um doente internado (ou mesmo vários...). A sua farda imaculadamente branca, é só por si uma lição de medicina. E a sua postura de aproximação física ao doente é outra lição, e ele não a exibe por acaso.
Igualmente não consegui aperceber-me da falta de urbanidade e polidez da Vice-Ministra da Agricultura, mas admito que M Tivane sabe porque o diz. Eu vi a sua exaltação emocional, explicando a um repórter o porquê do seu despacho cortando as contas de telemóvel pagas pelo orçamento do estado, e o parque ostensivo de 4x4 no ministério quando fazem tanta falta no campo. Expôs-se tanto como o colunista Machado, ou até mais, nas críticas aos privilégios que chocam a consciência moral. Eu devo confessar que aprecio a INDIGNAÇÃO contra os males deste mundo como a injustiça, a corrupção, a ostentação da riqueza ao lado da miséria, a violência e o abuso contra os mais fracos e indefesos. O episódio do evangelho que mais me impressionou nos anos da minha educação católica, e que ainda hoje aprecio quando já me esqueci de tantos, é o de Jesus expulsando à vergastada os vendilhões do templo. Não sei concretamente o que faziam os “vendilhões” no templo, mas eles são o símbolo de todos os que desrespeitam e abandalham aquilo que para muitos outros é sagrado. Por isso não compreendo nem partilho as opiniões do contribuinte para o Blog, Manuel Tivane.
PS – Antes que se levantem suspeitas por causa dos meus elogios aos dois ministros – nunca fui “puxa-saco de estruturas” - quero esclarecer as minhas relações com eles. A Sra vice-ministra, vi-a pela primeira vez na TV. Quanto ao Dr Ivo, fiz-lhe uma entrevista em 1971, de que ele provavelmente nem se lembra, quando ele era estudante universitário e dirigente associativo, já muito mal visto pelas autoridades e pelas chamadas “cabeças bem pensantes” da época. Quando o voltei a ver, há meia dúzia de anos, passei a ser sua doente, até o Presidente lhe ter dado mais altas funções. Perdi por isso o médico, mas consola-me a ideia de que milhões de pessoas que precisam de hospitais, de médicos e de enfermeiros, podem beneficiar das suas “intenções”, mesmo que os “métodos” inspirem ressentimentos.
Por último, penso que o Blog tem sido rico em ideias mas pobre debate. Os dados já foram lançados, as regras do jogo também, mas o debate, a discussão, aquele pôr e contrapôr de argumentos que resulta em consensos tácitos que, mesmo pequeninos, são passos para conquistar mais uns metros de caminho, esse debate parece-me que ainda não arrancou a sério.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home