Um dia cheio
Hoje o dia foi óptimo aqui no Ideias Para Debate. Além dos textos dos irmãos Langa chegou esta contribuição do Rui Tembe:
Caro Machado
Tem Razão quando diz que este processo não começou com o Patrício Langa e nem vai terminar tão já. O que acontece é que nós fomos educados pelo sistema para não discordar em voz alta. Mas fazemo-lo em bares e nos cafés, sempre que nos reunimos, longe das paredes fofoqueiras do sistema. Discutimos sobre Pobreza, desenvolvimento ou moçambicanidade, sempre acompanhados por uma bebida alcoólica, para não nos lembrarmos no dia seguinte, e continuarmos a ter fé e a ir às faculdades, acreditando no futuro, e continuarmos a ligar a televisão para ver os deputados dançarem a música dos batuques dos seus símbolos, e a ouvirmos o ensurdecedor barulho dos apitos ruidosos, chamando-os para a refeição, de cada vez que se abate uma perdiz e se assa, e se serve com molho importado, livre de taxas, sempre acompanhado por uma maçaroca cozida em água mineral, arrancada das machambas do povo muito antes de estar pronta para ser consumida e adorada na bandeira. Pertenço a uma minoria que frequentou escolas muito caras. Lembro-me, em 93 ou 94, estudei numa escola onde se pagava 300 dólares por mês, com transporte e actividades extracurriculares. Hoje, sonho em ter um emprego que me dê um salário para alugar uma casa de 300 dólares. Mas sonho calado, pra não ficar rouco. E dizem também que, tecnicamente, há um limite para a duracção de cada sonho. Então vou mudando de sonhos, sempre que acordo e me deparo com o pesadelo da realidade sonhada.
Rui Tembe
Maputo
Caro Machado
Tem Razão quando diz que este processo não começou com o Patrício Langa e nem vai terminar tão já. O que acontece é que nós fomos educados pelo sistema para não discordar em voz alta. Mas fazemo-lo em bares e nos cafés, sempre que nos reunimos, longe das paredes fofoqueiras do sistema. Discutimos sobre Pobreza, desenvolvimento ou moçambicanidade, sempre acompanhados por uma bebida alcoólica, para não nos lembrarmos no dia seguinte, e continuarmos a ter fé e a ir às faculdades, acreditando no futuro, e continuarmos a ligar a televisão para ver os deputados dançarem a música dos batuques dos seus símbolos, e a ouvirmos o ensurdecedor barulho dos apitos ruidosos, chamando-os para a refeição, de cada vez que se abate uma perdiz e se assa, e se serve com molho importado, livre de taxas, sempre acompanhado por uma maçaroca cozida em água mineral, arrancada das machambas do povo muito antes de estar pronta para ser consumida e adorada na bandeira. Pertenço a uma minoria que frequentou escolas muito caras. Lembro-me, em 93 ou 94, estudei numa escola onde se pagava 300 dólares por mês, com transporte e actividades extracurriculares. Hoje, sonho em ter um emprego que me dê um salário para alugar uma casa de 300 dólares. Mas sonho calado, pra não ficar rouco. E dizem também que, tecnicamente, há um limite para a duracção de cada sonho. Então vou mudando de sonhos, sempre que acordo e me deparo com o pesadelo da realidade sonhada.
Rui Tembe
Maputo
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