Ideias para Debate

Thursday, April 14, 2005

Regressa Elísio Macamo

Elisio Macamo andava desaparecido. Volta agora retomando o seu diálogo com Roberto Tibana. Será que este, lá no Gana, está atento? Esperemos que sim. Aqui vai o texto de Macamo:

Caro Machado da Graça

Também só muito tarde é que li a reacção de Tibana ao meu comentário. Como passou muito tempo pensei que não fosse mais pertinente responder, tanto mais que a minha resposta só iria levantar as mesmas questões. Não obstante, os últimos debates sobre o texto do Mia Couto fazem-me mudar de ideias. Aproveito, desde já, para render homenagem a Mia Couto pelo investimento que ele faz para que haja debate são de ideias. O nosso país precisa disso. Não precisamos de estar de acordo sobre o que pensamos, mas enquanto discutirmos de forma sã estaremos a contribuir para o crescimento da nossa terra.Uma discussão útil, contudo, é aquela que apela aos factos, não às emoções. O problema da qualidade do nosso debate em Moçambique, infelizmente, reside justamente aí. Muitos de nós sucumbimos aos argumentos emocionais. Sempre fizemos assim. E achamos estranho que tenhamos o tipo de problemas que temos.Não nego os roubos, as irregularidades eleitorais, e todos os outros males que cada um de nós pode facilmente apontar no nosso país. Nego, isso sim, que a constatação da existência desses males seja também a confirmação da existência duma acção concertada. Para isso, ainda não vi nenhum argumento plausível. O único que me levaria a crer nisso seria a emoção, isto é o que julgo os nossos governantes serem capazes de fazer. Acho sintomático que o Tibana faça referência ao Nkomo, com quem tive uma altercação justamente por ele insistir na ideia de que a plausibilidade dum argumento depende da forma como nós sentimos em relação a outras pessoas. Se Tibana se recordar bem do meu comentário ao livro de Nkomo vai saber que eu nunca disse que o que ele dizia não fosse verdade. Disse apenas que as razões que ele oferecia para a sua versão da nossa história não eram convincentes. Apesar disso, dizia eu a rematar, mesmo que só 1 por cento do que vinha lá escrito fosse verdade, seria razão suficiente para as pessoas visadas virem a público explicarem-se. Se a insistência em argumentos que não dependam de emoções é sinal de não se ter os pés na terra gostaria de dizer que, afinal, o problema do nosso país é de que não há pessoas suficientes com os pés no ar em Moçambique. Uma lição que devíamos ter aprendido da nossa curta história nacional é que o fervor missionário que muita gente empresta aos seus argumentos já custou a vida a muita gente, a pessoas com os pés no ar (que até é uma imagem bastante sugestiva!). As teorias de conspiração não nos levam a lado nenhum. São um beco sem saída. Um abraço

Elísio Macamo

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