Riqueza Absoluta
O Afonso dos Santos publicou no Savana um texto em quwe nos chama a atenção para o relacionamento que existe entra a tão falada pobrza absoluta a e muito menos falada riqueza absoluta. Aqui vai:
O combate à riqueza absoluta
Será que já alguém pensou que a riqueza absoluta pode ser exactamente a causa da pobreza absoluta? Se assim for, a única forma de acabar com a pobreza absoluta será o combate à riqueza absoluta.Convém reparar no seguinte: o discurso repetitivo, monótono e já insuportável da luta contra a pobreza absoluta não existiu desde sempre. Ele teve o seu início em algum momento.
Para melhor compreender qualquer fenómeno, situação ou acontecimento, a melhor maneira é observar a sua existência dentro do tempo em movimento: quando é que começou, quanto tempo durará, como é que se transformará.
O mesmo se aplica ao surgimento de qualquer tipo de linguagem.Ora, o discurso da luta contra a pobreza absoluta aparece na sequência do aumento dos sinais de riqueza absoluta: carros de luxo em contraste com o asfalto esburacado, construção de palacetes pessoais, obtenção de gigantescos empréstimos bancários, apropriação de grandes extensões de terra, organização de opíparos banquetes, faustosos festejos, sumptuosos casamentos e aniversários, dispendiosos uôquechopes.
O triste espectáculo de pobreza oratória a que se assiste actualmente consiste no seguinte: entrega-se umas redes a uma associação de pescadores, é a luta contra a pobreza absoluta; abre-se uma loja de roupa de luxo, é a luta contra a pobreza absoluta; atribui-se (aloca-se!) umas máquinas de costura a uma cooperativa de alfaiates, é a luta contra a pobreza absoluta; inaugura-se um hotel de cinco estrelas, é a luta contra a pobreza absoluta; organiza-se uma corrida pedestre pelas ruas duma cidade, é a luta contra a pobreza absoluta; cria-se um novo curso numa universidade, é a luta contra a pobreza absoluta; oferece-se umas cadeiras de rodas a alguns paralíticos, é a luta contra a pobreza absoluta; apresenta-se uma peça de teatro, é a luta contra a pobreza absoluta; faz-se um jantar de gala, é a luta contra a pobreza absoluta; realiza-se uma reunião de jovens ambiciosos por ocuparem algum cargo, e logo se diz que eles devem definir o seu posicionamento (?!) na luta contra a pobreza absoluta.
Os pobres ouvidos de qualquer cidadão já não aguentam mais a luta contra a pobreza absoluta.Mas, afinal, em resultado de cada um destes eventos, em concreto, quantos pobres deixam de o ser (exceptuando os que vão morrendo de morte natural)?
Mas o mais arrepiante ainda é o seguinte: aquelas são acções que já se realizavam antes da luta contra a pobreza absoluta e que continuarão a realizar-se sempre. Ora, se aquelas são acções associadas à luta contra a pobreza absoluta, significa que essa luta também vai durar sempre, e, se essa luta vai durar sempre, isso quer dizer que a pobreza absoluta veio para ficar.
E esta é precisamente a ideologia e a propaganda da riqueza absoluta: haverá sempre pobres e ricos; haverá sempre corrupção; haverá sempre criminalidade, et caetera, et caetera. É este o futuro prometido melhor?
Melhor será então desencadear, desde já, o combate à riqueza absoluta. E para isso é preciso, em primeiro lugar, iniciar a luta contra a luta contra a pobreza absoluta. Não há engano: não é repetição. Explicando melhor: visto que a luta contra a pobreza absoluta não é mais do que uma frase publicitária para ornamentar discursos e para colocar tão em baixo as expectativas dos moçambicanos, então é preciso lutar para eliminar a luta contra a pobreza absoluta.A luta contra a pobreza absoluta é um programa de acção demasiado pobre, é uma fasquia demasiado baixa, que apenas aponta como perspectiva que tudo continue mais ou menos como está, apenas mais suavizado.
Mas o único objectivo que pode interessar efectivamente ao povo moçambicano é "a construção de um Moçambique desenvolvido, moderno, próspero e forte" (Estatutos da Frente de Libertação de Moçambique, 1968), "um Moçambique independente, desenvolvido e próspero" (Programa da Frente de Libertação de Moçambique, 1968), "um Moçambique evoluído, próspero e democrático" (idem).Porque é que os objectivos tais como desenvolvimento, modernidade e prosperidade foram substituídos por um mísero objectivo de luta contra a pobreza absoluta? Será que é porque esses objectivos são incompatíveis com a exageração da riqueza absoluta?
Tudo isto até dá para pensar que está vago o lugar para o surgimento duma força política ou duma nova geração - já que se fala tanto de gerações - que esteja interessada em dar continuidade ao programa político da Frente de Libertação de Moçambique.
Há, em torno de tudo isto, um outro fenómeno exótico: é que o país sofreu, dentro das suas fronteiras, após a Independência Nacional, uma guerra que durou dezasseis anos, e quantos mais anos passam após o fim da guerra, mais se intensifica o discurso sobre a pobreza absoluta, como se a situação de paz fosse favorável ao florescimento da tal pobreza absoluta. Ou será porque essa paz é favorável ao avolumar da riqueza absoluta?Estes são ásperos tempos, os que agora estão a ser vividos, e constituem motivo de grande desesperança, porque enquanto este folclore da luta contra a pobreza absoluta continuar a avançar, ele não vai deixar andar o combate à riqueza absoluta.
O combate à riqueza absoluta
Será que já alguém pensou que a riqueza absoluta pode ser exactamente a causa da pobreza absoluta? Se assim for, a única forma de acabar com a pobreza absoluta será o combate à riqueza absoluta.Convém reparar no seguinte: o discurso repetitivo, monótono e já insuportável da luta contra a pobreza absoluta não existiu desde sempre. Ele teve o seu início em algum momento.
Para melhor compreender qualquer fenómeno, situação ou acontecimento, a melhor maneira é observar a sua existência dentro do tempo em movimento: quando é que começou, quanto tempo durará, como é que se transformará.
O mesmo se aplica ao surgimento de qualquer tipo de linguagem.Ora, o discurso da luta contra a pobreza absoluta aparece na sequência do aumento dos sinais de riqueza absoluta: carros de luxo em contraste com o asfalto esburacado, construção de palacetes pessoais, obtenção de gigantescos empréstimos bancários, apropriação de grandes extensões de terra, organização de opíparos banquetes, faustosos festejos, sumptuosos casamentos e aniversários, dispendiosos uôquechopes.
O triste espectáculo de pobreza oratória a que se assiste actualmente consiste no seguinte: entrega-se umas redes a uma associação de pescadores, é a luta contra a pobreza absoluta; abre-se uma loja de roupa de luxo, é a luta contra a pobreza absoluta; atribui-se (aloca-se!) umas máquinas de costura a uma cooperativa de alfaiates, é a luta contra a pobreza absoluta; inaugura-se um hotel de cinco estrelas, é a luta contra a pobreza absoluta; organiza-se uma corrida pedestre pelas ruas duma cidade, é a luta contra a pobreza absoluta; cria-se um novo curso numa universidade, é a luta contra a pobreza absoluta; oferece-se umas cadeiras de rodas a alguns paralíticos, é a luta contra a pobreza absoluta; apresenta-se uma peça de teatro, é a luta contra a pobreza absoluta; faz-se um jantar de gala, é a luta contra a pobreza absoluta; realiza-se uma reunião de jovens ambiciosos por ocuparem algum cargo, e logo se diz que eles devem definir o seu posicionamento (?!) na luta contra a pobreza absoluta.
Os pobres ouvidos de qualquer cidadão já não aguentam mais a luta contra a pobreza absoluta.Mas, afinal, em resultado de cada um destes eventos, em concreto, quantos pobres deixam de o ser (exceptuando os que vão morrendo de morte natural)?
Mas o mais arrepiante ainda é o seguinte: aquelas são acções que já se realizavam antes da luta contra a pobreza absoluta e que continuarão a realizar-se sempre. Ora, se aquelas são acções associadas à luta contra a pobreza absoluta, significa que essa luta também vai durar sempre, e, se essa luta vai durar sempre, isso quer dizer que a pobreza absoluta veio para ficar.
E esta é precisamente a ideologia e a propaganda da riqueza absoluta: haverá sempre pobres e ricos; haverá sempre corrupção; haverá sempre criminalidade, et caetera, et caetera. É este o futuro prometido melhor?
Melhor será então desencadear, desde já, o combate à riqueza absoluta. E para isso é preciso, em primeiro lugar, iniciar a luta contra a luta contra a pobreza absoluta. Não há engano: não é repetição. Explicando melhor: visto que a luta contra a pobreza absoluta não é mais do que uma frase publicitária para ornamentar discursos e para colocar tão em baixo as expectativas dos moçambicanos, então é preciso lutar para eliminar a luta contra a pobreza absoluta.A luta contra a pobreza absoluta é um programa de acção demasiado pobre, é uma fasquia demasiado baixa, que apenas aponta como perspectiva que tudo continue mais ou menos como está, apenas mais suavizado.
Mas o único objectivo que pode interessar efectivamente ao povo moçambicano é "a construção de um Moçambique desenvolvido, moderno, próspero e forte" (Estatutos da Frente de Libertação de Moçambique, 1968), "um Moçambique independente, desenvolvido e próspero" (Programa da Frente de Libertação de Moçambique, 1968), "um Moçambique evoluído, próspero e democrático" (idem).Porque é que os objectivos tais como desenvolvimento, modernidade e prosperidade foram substituídos por um mísero objectivo de luta contra a pobreza absoluta? Será que é porque esses objectivos são incompatíveis com a exageração da riqueza absoluta?
Tudo isto até dá para pensar que está vago o lugar para o surgimento duma força política ou duma nova geração - já que se fala tanto de gerações - que esteja interessada em dar continuidade ao programa político da Frente de Libertação de Moçambique.
Há, em torno de tudo isto, um outro fenómeno exótico: é que o país sofreu, dentro das suas fronteiras, após a Independência Nacional, uma guerra que durou dezasseis anos, e quantos mais anos passam após o fim da guerra, mais se intensifica o discurso sobre a pobreza absoluta, como se a situação de paz fosse favorável ao florescimento da tal pobreza absoluta. Ou será porque essa paz é favorável ao avolumar da riqueza absoluta?Estes são ásperos tempos, os que agora estão a ser vividos, e constituem motivo de grande desesperança, porque enquanto este folclore da luta contra a pobreza absoluta continuar a avançar, ele não vai deixar andar o combate à riqueza absoluta.
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