Olhando para o blog
A Maria de Lurdes Torcato escreveu fazendo um reparo à tendência que está a surgir para aparecerem textos demasiado académicos e de dificil leitura. Eu próprio já tinha apelado para um esforço de trazer aqui textos que possam ser compreendidos por um público mais alargado. Isto semm perder a sua qualidade.
De me permitem, acho que, por exemplo, os textos do Elisio Macamo são de grande clareza, sem se tornarem de dificil leitura. Pelo uso constante de exemplos e abstenção de demasiadas citações de autores que a maioria de nós desconhece, ele consegue transmitir a sua mensagem clara e transparentemente.
Aqui vai o texto da Lurdes:
Na era dos leitores com pressa
Vi a resposta da Fátima Ribeiro sobre a falta de reacção do “blog” ao problema que levantou sobre o “Ensino Bilingue”. Sem dúvida que a questão é importantíssima para Moçambique; mas o facto é que não é uma coisa que eu, por exemplo, possa discutir, porque não sou pedagoga nem linguista. Acho que, mesmo dentro destas disciplinas, é um assunto bastante especializado. Sei que a decisão de introduzir o ensino bilingue foi tomada com base em informação científica e com a preocupação de facilitar a aquisição de conceitos pelas crianças que não falam português, ao iniciarem a escolarização. Julgo saber também que, passado o período experimental, é susceptível de ser revertida se os resultados não corresponderem à expectativa. Estou enganada?
Mas este é o risco de trazer para o blog assuntos que só são acessíveis a pequenos grupos de pessoas, ou colocar esses assuntos mais especializados numa perspectiva que pode não ser a que preocupa o maior número de pessoas. Isto é: o tema do “ensino bilingue”, potencialmente é de interesse para muita gente a quem a educação dos filhos preocupa. Mas ao levantar o problema é preciso fazer com que o leitor “veja” esse interesse, colocando-o de modo acessível e na perspectiva que toca não apenas os especialistas, mas os pais e mães comuns. Infelizmente o texto saíu há muito tempo e ainda procurei lê-lo outra vez mas desconsegui de o encontrar (espero que, como professora de português, me permitas a expressão).
Entretanto achei de interesse um texto de um jurista em Nampula, criticando um secretário de partido que, numa conferência da organização da juventude, disse que os administradores distritais “deviam” ser membros do partido que está no poder. O autor cita a Constituição para provar o tremendo erro que o referido secretário cometeu, erro esse que constitui uma afronta à lei fundamental do país. Neste sentido o texto é bastante didático.
Só me preocupou o facto de o autor fazer as acusações ao secretário com base em ele ter dito que os administradores “deviam” ser membros do partido, porque assim, fora do contexto, não se pode avaliar se o “deviam” era uma sugestão, uma recomendação, ou uma obrigação. Como o autor citava o macua.blog.com, fui lá e vi a reportagem do jornal de Nampula sobre o episódio em causa. E pela leitura fica-se de facto com a impressão que o secretário achava que devia ser obrigatório que os administradores fossem membros do partido. E sendo assim, o autor está cheio de razão nas críticas que faz. Mas, nestas coisas de reprodução por escrito, de factos, o “contexto” é fundamental.
Acho que com a entrada de textos de conteudo mais concreto, o blog pode animar mais, porque argumentações entre académicos, por amor à argumentação, excluem muita gente. A mim por exemplo. Tenho pouca paciência para ler textos académicos com mais de 500 palavras, a partir daí passo a ler em diagonal, e claro, chego ao fim irritada porque não percebi. Mas já não volto atrás! Outras leituras me esperam. Por exemplo o extraordinário livro de contos de João Paulo Borges Coelho, chamado SETENTRIÃO, que é no espaço de um ano o terceiro que ele publica, e que eu leio frase a frase, com o maior prazer intelectual.
Maria de Lourdes Torcato
De me permitem, acho que, por exemplo, os textos do Elisio Macamo são de grande clareza, sem se tornarem de dificil leitura. Pelo uso constante de exemplos e abstenção de demasiadas citações de autores que a maioria de nós desconhece, ele consegue transmitir a sua mensagem clara e transparentemente.
Aqui vai o texto da Lurdes:
Na era dos leitores com pressa
Vi a resposta da Fátima Ribeiro sobre a falta de reacção do “blog” ao problema que levantou sobre o “Ensino Bilingue”. Sem dúvida que a questão é importantíssima para Moçambique; mas o facto é que não é uma coisa que eu, por exemplo, possa discutir, porque não sou pedagoga nem linguista. Acho que, mesmo dentro destas disciplinas, é um assunto bastante especializado. Sei que a decisão de introduzir o ensino bilingue foi tomada com base em informação científica e com a preocupação de facilitar a aquisição de conceitos pelas crianças que não falam português, ao iniciarem a escolarização. Julgo saber também que, passado o período experimental, é susceptível de ser revertida se os resultados não corresponderem à expectativa. Estou enganada?
Mas este é o risco de trazer para o blog assuntos que só são acessíveis a pequenos grupos de pessoas, ou colocar esses assuntos mais especializados numa perspectiva que pode não ser a que preocupa o maior número de pessoas. Isto é: o tema do “ensino bilingue”, potencialmente é de interesse para muita gente a quem a educação dos filhos preocupa. Mas ao levantar o problema é preciso fazer com que o leitor “veja” esse interesse, colocando-o de modo acessível e na perspectiva que toca não apenas os especialistas, mas os pais e mães comuns. Infelizmente o texto saíu há muito tempo e ainda procurei lê-lo outra vez mas desconsegui de o encontrar (espero que, como professora de português, me permitas a expressão).
Entretanto achei de interesse um texto de um jurista em Nampula, criticando um secretário de partido que, numa conferência da organização da juventude, disse que os administradores distritais “deviam” ser membros do partido que está no poder. O autor cita a Constituição para provar o tremendo erro que o referido secretário cometeu, erro esse que constitui uma afronta à lei fundamental do país. Neste sentido o texto é bastante didático.
Só me preocupou o facto de o autor fazer as acusações ao secretário com base em ele ter dito que os administradores “deviam” ser membros do partido, porque assim, fora do contexto, não se pode avaliar se o “deviam” era uma sugestão, uma recomendação, ou uma obrigação. Como o autor citava o macua.blog.com, fui lá e vi a reportagem do jornal de Nampula sobre o episódio em causa. E pela leitura fica-se de facto com a impressão que o secretário achava que devia ser obrigatório que os administradores fossem membros do partido. E sendo assim, o autor está cheio de razão nas críticas que faz. Mas, nestas coisas de reprodução por escrito, de factos, o “contexto” é fundamental.
Acho que com a entrada de textos de conteudo mais concreto, o blog pode animar mais, porque argumentações entre académicos, por amor à argumentação, excluem muita gente. A mim por exemplo. Tenho pouca paciência para ler textos académicos com mais de 500 palavras, a partir daí passo a ler em diagonal, e claro, chego ao fim irritada porque não percebi. Mas já não volto atrás! Outras leituras me esperam. Por exemplo o extraordinário livro de contos de João Paulo Borges Coelho, chamado SETENTRIÃO, que é no espaço de um ano o terceiro que ele publica, e que eu leio frase a frase, com o maior prazer intelectual.
Maria de Lourdes Torcato
0 Comments:
Post a Comment
<< Home