Ideias para Debate

Monday, May 16, 2005

Tradição e sexualidade

Os dois textos do Quitério Langa fizeram a Maria de Lurdes Torcato agarrar-se ao teclado para responder. Aqui vai:


Este Blog continua a ser uma das minhas leituras indispensáveis. Através dele conheci aspectos importantes de várias pessoas, a quem agradeço as coisas interessantes que me transmitiram. Isto apesar de poder cruzar-me com a maioria delas no caminho e nem sequer lhes dar os Bonsdias por não fazer ideia do seu aspecto físico. Talvez um dia o Machado da Graça organize um almoço de confraternização entre os colaboradores do Blog e este obstáculo a uma socialização mais satisfatória desapareça.

Podia citar muitos nomes de desconhecidos cuja leitura me deu muito prazer, mas seria alongar desnecessáriamente o texto. A única coisa que lamento é que não haja mais mulheres a participar, pois a Fátima Ribeiro desistiu no início da corrida, e tenho a certeza que teria coisas muito interessantes a dizer neste espaço. O ponto de vista de metade da humanidade com outras formas de raciocinar – parece que já está cientificamente provado que somos diferentes ao nível (também) do cérebro – é incontornável para o avanço das ideias. Enfim, as mulheres têm outras arenas para fazerem valer o que pensam, mesmo entre nós, mas aparentemente ainda não são as necessárias e suficientes para abalar e estabelecer o equilíbrio com os valores patriarcais dominantes.

O que me traz hoje aqui é congratular-me com aquilo que interpreto como sendo um esforço do Quitério Langa de lançar temas de debate, um sobre Tradição, outro sobre Sexualidade. Será que vão passar sem a réplica que merecem? Os nossos media, sejam as “opiniões” em cartas de leitores ou em colunas de jornalistas na imprensa escrita, ou o pensamento revelado nas interpretações dos factos que nos são trazidas nas notícias e reportagens, são um retrato sociológico para mim importantíssimo. E posso constatar que os dois temas do QL dominam esta nossa sociedade, mesmo quando não estão explicitamente presentes.

Tradição e sexualidade são o envólucro do drama do HIV/Sida, pelo papel da mulher
na sociedade, na família e na relação sexual; tradição e sexualidade são o principal fardo que se abate sobre as raparigas na escola (talvez com menor peso, os rapazes também) e um obstáculo à sua plena realização como indivíduos; tradição e sexualidade, podem inibir até ao aniquilimento, o florescimento intelectual e emocional inscrito no potencial genético da maioria das mulheres e jovens de ambos os sexos. No caso da sociedade moçambicana, vejo esses dois factores como responsáveis pela ausência de contestação do estabelecido, pelo deficite de originalidade e criatividade, e pela predominância da imitação, o seguidismo, a fidelidade ao magister dixit.

O Movimento Artigo 48, já citado neste Blog, tem programado um debate sobre a homosexualidade. Bravos rapazes (não sei se lá andam raparigas), temos de reconhecer. Porque o extraordinário é que este país paupérrimo, esta sociedade quase asfixiada pelo peso do subdesenvolvimento que inclui o pavor de romper com tabús, produz estas résteas de esperança no futuro. Como os que escrevem para o Blog!

Maria de Lourdes Torcato

NOTA DO EDITOR:

O movimento Artigo 48 é bastante equilibrado. É praticamente metade-metade em termos de género.

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