Exotismos
Recebi o texto de Quitério Langa em que responde a Patricio Langa, Vai aqui abaixo.
Mas queria pedir aos "hóspedes" do blog para fazerem um esforço para utilizar uma linguagem mais acessivel ao leitor comum. Tenho medo que uma linguagem demasiado académica afaste o leitor comum.
SOBRE O FANTASMA DO EXÓTICO
Foi com muito respeito às premissas macamianas de interpretação da série de textos sobre os presentes envenenados que tomei a liberdade de não as respeitar por achar que elas me obrigariam a limitar-me e provavelmente a estabelecer-me na fronteira disciplinar da sua argumentação. Foi algo propositado, e sinto que o Patricio de certa maneira se deixou aprisionar embora se antecipe em dizer que não.
Não acho que seja salutar que o nosso debate procure fazer renascer disputas disciplinares enfermadas de pobres e velhos preconceitos. Suponho que em nehum momento da apresentação crítica dos meus argumentos tenha feito qualquer referência a esse facto. A consideração que faço ao facto de ver nos argumentos do Elisio Macamo um ressuscitar da figura do exótico, em nada se afigura com uma disputa disciplinar, muito menos num desconforto da minha orientação disciplinar. Se acha que o meu argumento é fraco, limite a sua crítica aos argumentos, como uma vez recomendou ao autor da “Voz Divergente”.
Como texto crítico, achei os seus argumentos muito interessantes e elucidativos para uma melhor compreenção de dois conceitos fundamentais, “lógica situacional” e “processo civilizacional”. Apenas achei que provavelmente o Patricio tenha estado mais preocupado em discutir a questão do exótico, do que em responder aos meus argumentos ao texto de Macamo.
Para tornar mais produtivo o nosso debate, tomemos os argumentos macamianos que orientaram a minha crítica e vejamos quais os elementos nos quais temos visões diferentes. Fora da abordagem introdutória, começo o meu texto por discutir a seguinte citação:
“A escola é uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e, possivelmente hóstil”
Se bem que concorde com o seu argumento de que o que preocupa ao Elisio é o ensaio do conceito de “lógica situacional”, articulado com o conceito de “processo civilizacional”, para dar conta de alguns fenómenos da vida quotidiana da nossa sociedade, não deixa de ser verídico que o argumento macamiano no texto em questão está em volta da relação entre a cultura científica “ocidental” e a cultura tradicional africana. Nesta relação, Macamo di-lo e passo a citar:
“...temos uma maneira de estar no mundo que torna dificil a relação entre a cultura tradicional e a cultura científica”
Se concordarmos e assumirmos este pressuposto de base como o argumento central da análise macamiana, teremos condições de evoluir satisfatoriamente no nosso debate, mas adianto que a minha intenção não é contudo de forçar consenços.
Se o problema do meu argumento na interpretação da questão da escola como uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e possivelmente hóstil no entender do Patricio são os binómios de oposição que sugiro estarem a eles subjacentes, o Patricio nada mais faz do que inverter os binómios. Para o Patricio a questão resolve-se criando binómios de oposição para analisar situações endógenas de grupos sociais nos mesmos contextos de acção, e prefere ignorar a ideia central apresentada por Macamo.
A lógica situacional que o Patricio tanto evoca no caso em apreço não explica a acção dos individuos, ela simplesmente vem a demonstrar a grande dificuldade que temos em engendrar um modelo de explicação para fenómenos sociais moçambianos. É que a acção dos individuos não pode ser explicada como uma acção com falta de sentido ou cujo sentido seja a nossos olhos perversa quando confrontada com o ideal do processo civilizacional.
Sinto com todo o respeito que tenho pelo seu elevado potencial intelectual, que de certa maneira é como se tivessemos chegado ao fim da teoria, é como se a realidade se impuse-se de tal forma que não nos resta senão o direito de capitularmos. Se o sentido da realidade é aprioristicamente definido pela lógica situacional, então o sentido da acção dos individuos realmente só pode ser perverso, e com isso chegamos ao fim da teoria. A minha sugestão é que procuremos resgatar a teoria, não como um processo de definição apriorística da realidade, mas como um processo de construção racional da realidade.
Outro argumento apresentado por Macamo é que não vê a cultura tradicional africana que se opõe a uma cultura ciêntifica ocidental, mas uma relação dificil que termina vezes sem conta na instrumentalização da diferença. Sobre este ponto em específico não encontro nehum argumento seu de contestação aos meus, provavelmente pelo que antes me referí, o Patricio preocupou-se muito em realçar o exótico como se esse fosse o meu argumento central e acabou desviando-se do essencial, discutirmos o texto do Elisio.
Ainda assim tomarei uma citação que o Patricio faz do Elisio para reforçar os seus recorrentes argumentos:
“Na verdade, os nossos problemas com a modernidade revelam graves dificuldades no nosso processo civilizacional. Encontramo-nos numa situação forçada de interacção com um número infinito de pessoas e não conseguimos estabelecer regras básicas de intercâmbio”
Sob o prisma dos conceitos de lógica situacional e de processo civilizacional, o Elisio e o Patricio ao invés de procurarem entender a lógica e o sentido subjecente à acção dos moçambianos, partem para a idealização de uma lógica estranha ao fenómeno que procuram explicar e desenbocam na conclusão de que tudo isto se explica por uma certa falha no processo civilizacional da nossa sociedade.
Quero finalizar dizendo apenas que a reabilitação da velha figura do exótico é uma consequência lógica e necessária dos argumentos apresentados tanto pelo Elisio como pelo Patricio, produto da insistência em ver os conceitos que operacionalizam a ter efeito positivo sobre os fenómenos que pretendem explicar.
É um debate em aberto.
Quitério Langa
Mas queria pedir aos "hóspedes" do blog para fazerem um esforço para utilizar uma linguagem mais acessivel ao leitor comum. Tenho medo que uma linguagem demasiado académica afaste o leitor comum.
SOBRE O FANTASMA DO EXÓTICO
Foi com muito respeito às premissas macamianas de interpretação da série de textos sobre os presentes envenenados que tomei a liberdade de não as respeitar por achar que elas me obrigariam a limitar-me e provavelmente a estabelecer-me na fronteira disciplinar da sua argumentação. Foi algo propositado, e sinto que o Patricio de certa maneira se deixou aprisionar embora se antecipe em dizer que não.
Não acho que seja salutar que o nosso debate procure fazer renascer disputas disciplinares enfermadas de pobres e velhos preconceitos. Suponho que em nehum momento da apresentação crítica dos meus argumentos tenha feito qualquer referência a esse facto. A consideração que faço ao facto de ver nos argumentos do Elisio Macamo um ressuscitar da figura do exótico, em nada se afigura com uma disputa disciplinar, muito menos num desconforto da minha orientação disciplinar. Se acha que o meu argumento é fraco, limite a sua crítica aos argumentos, como uma vez recomendou ao autor da “Voz Divergente”.
Como texto crítico, achei os seus argumentos muito interessantes e elucidativos para uma melhor compreenção de dois conceitos fundamentais, “lógica situacional” e “processo civilizacional”. Apenas achei que provavelmente o Patricio tenha estado mais preocupado em discutir a questão do exótico, do que em responder aos meus argumentos ao texto de Macamo.
Para tornar mais produtivo o nosso debate, tomemos os argumentos macamianos que orientaram a minha crítica e vejamos quais os elementos nos quais temos visões diferentes. Fora da abordagem introdutória, começo o meu texto por discutir a seguinte citação:
“A escola é uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e, possivelmente hóstil”
Se bem que concorde com o seu argumento de que o que preocupa ao Elisio é o ensaio do conceito de “lógica situacional”, articulado com o conceito de “processo civilizacional”, para dar conta de alguns fenómenos da vida quotidiana da nossa sociedade, não deixa de ser verídico que o argumento macamiano no texto em questão está em volta da relação entre a cultura científica “ocidental” e a cultura tradicional africana. Nesta relação, Macamo di-lo e passo a citar:
“...temos uma maneira de estar no mundo que torna dificil a relação entre a cultura tradicional e a cultura científica”
Se concordarmos e assumirmos este pressuposto de base como o argumento central da análise macamiana, teremos condições de evoluir satisfatoriamente no nosso debate, mas adianto que a minha intenção não é contudo de forçar consenços.
Se o problema do meu argumento na interpretação da questão da escola como uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e possivelmente hóstil no entender do Patricio são os binómios de oposição que sugiro estarem a eles subjacentes, o Patricio nada mais faz do que inverter os binómios. Para o Patricio a questão resolve-se criando binómios de oposição para analisar situações endógenas de grupos sociais nos mesmos contextos de acção, e prefere ignorar a ideia central apresentada por Macamo.
A lógica situacional que o Patricio tanto evoca no caso em apreço não explica a acção dos individuos, ela simplesmente vem a demonstrar a grande dificuldade que temos em engendrar um modelo de explicação para fenómenos sociais moçambianos. É que a acção dos individuos não pode ser explicada como uma acção com falta de sentido ou cujo sentido seja a nossos olhos perversa quando confrontada com o ideal do processo civilizacional.
Sinto com todo o respeito que tenho pelo seu elevado potencial intelectual, que de certa maneira é como se tivessemos chegado ao fim da teoria, é como se a realidade se impuse-se de tal forma que não nos resta senão o direito de capitularmos. Se o sentido da realidade é aprioristicamente definido pela lógica situacional, então o sentido da acção dos individuos realmente só pode ser perverso, e com isso chegamos ao fim da teoria. A minha sugestão é que procuremos resgatar a teoria, não como um processo de definição apriorística da realidade, mas como um processo de construção racional da realidade.
Outro argumento apresentado por Macamo é que não vê a cultura tradicional africana que se opõe a uma cultura ciêntifica ocidental, mas uma relação dificil que termina vezes sem conta na instrumentalização da diferença. Sobre este ponto em específico não encontro nehum argumento seu de contestação aos meus, provavelmente pelo que antes me referí, o Patricio preocupou-se muito em realçar o exótico como se esse fosse o meu argumento central e acabou desviando-se do essencial, discutirmos o texto do Elisio.
Ainda assim tomarei uma citação que o Patricio faz do Elisio para reforçar os seus recorrentes argumentos:
“Na verdade, os nossos problemas com a modernidade revelam graves dificuldades no nosso processo civilizacional. Encontramo-nos numa situação forçada de interacção com um número infinito de pessoas e não conseguimos estabelecer regras básicas de intercâmbio”
Sob o prisma dos conceitos de lógica situacional e de processo civilizacional, o Elisio e o Patricio ao invés de procurarem entender a lógica e o sentido subjecente à acção dos moçambianos, partem para a idealização de uma lógica estranha ao fenómeno que procuram explicar e desenbocam na conclusão de que tudo isto se explica por uma certa falha no processo civilizacional da nossa sociedade.
Quero finalizar dizendo apenas que a reabilitação da velha figura do exótico é uma consequência lógica e necessária dos argumentos apresentados tanto pelo Elisio como pelo Patricio, produto da insistência em ver os conceitos que operacionalizam a ter efeito positivo sobre os fenómenos que pretendem explicar.
É um debate em aberto.
Quitério Langa
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