Presentes envenenados
O nosso amigo Elisio Macamo publicou, recentemente, no Notícias mais uma série de textos sobre a nossa realidade. Chamou-lhe Presentes Envenenados. Na sua lista de presdentes envenenados incluiu o relógio, o automóvel, a medicina, as armas de fogo, a democracia, a ciência, etc. Nesses artigos, Macamo analisa como é que a sociedade moçambicana lida com estes presentes que a modernidade nos trouxe.
Recebi hoje um texto de Quitério Langa que entra em diálogo com Elisio Macamo, a propósito daq ciência. Aqui vai:
SOBRE A CIÊNCIA COMO PRESENTE ENVENENADO
Era ainda estudante quando assisti a uma palestra proferida pelo Elisio Macamo, na qual uma das teses por ele defendidas era que África entrou para a Modernidade e para a História com o processo das “descobertas” europeia, ou seja, a chegada dos europeus foi usada por Macamo para estabelecer o marco que separa duas épocas, uma anterior e outra posterior às “descobertas”.
Esta ideia permite-nos considerar que a primeira época é de uma inexistência de África como uma realidade cognitiva ou de conhecimento, não podendo por isso tecer-se qualquer tipo de referência objectiva sobre a mesma. Todas as referências relativas ao período anterior às “descobertas” pertencem ao campo da especulação ou à produção de uma realidade histórica imprecisa e mítica.
A segunda época tem o seu marco objectivamente marcado e ciêntificamente reconhecido. As “descobertas” são um marco que define o início de uma nova realidade, a realidade de conhecimento existencial e histórico, donde pela primeira vez o conceito de África passa a figurar da história, mas não só, como também, produto do contacto cultural é o marco do surgimento de uma nova cultura, a cultura moderna africana.
Com a transversalidade cultural, as culturas em contacto criam uma nova realidade cultural, as fronteiras fisico-geográficas que antes as separavam perdem significado e capacidade de as aprisionar nos seus espaços de origem. Esta nova realidade cultural é produto de uma simbióse de valores tanto africanos como europeus, e o mais interessante é que torna-se ainda mais dificil traçar os centros de produção das culturas quando se reclama pela pertença de valores originários, dado que perde-se até de memória os contactos antes existidos com outras culturas.
Nos primeiros contactos africano-europeu, um dos elementos da cultura que perdeu a sua suposta pátria de origem e se estendeu à cultura africana é a ciência, melhor dito, a ciência é um dos elementos da cultura moderna que chegou a África através dos europeus. Esta correção é pelo facto de ser comúm considrar-se que a ciência é um elemento de originalidade da cultura europeia. Aceitar esta ideia é problemático, porque rompe-se em definitivo com os conceitos de cultura num processo dinámico e de contacto, é pretender que a ideia de cultura siga aprisionada aos preceitos fisico-geográficos, é pretender delimitar os centros de produção cultural, e com isso acaba-se caindo num excesso de relativismo e no mito de origem, por isso dizer que a ciência é de originalidade europeia é muito arriscado, reconhece-se sim o grande contributo que a Europa deu no seu desenvolvimento.
Poderemos então dizer que recebemos a ciência como um presente envenenado?
A ideia macamiana da ciência como um presente envenenado é por isso problemática, mas interessante de se analizar. É problemática porque ela coloca-nos na situação de um excesso de relativismo, como se cada cultura se tivesse desenvolvido num total isolamento das outras. Levi-strauss ainda nos ajuda a entender com o que a seguir passo a citar:
“É indubitável que os homens elaboraram culturas diferentes em virtude do seu afastamento geográfico, das particularidades do meio e da ignorância em que se encontravam em relação ao resto da humanidade, mas isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura ou cada sociedade estivesse ligada e se tivesse desenvolvido no isolamento de todas as outras” (Levi-strauss. 1980: 17).
Sinto um desconforto quando Macamo nos diz: “A escola é uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e, possivelmente hóstil”, porque vejo que acaba reabilitando uma velha figura antropológica, o exótico. A ideia da escola como porta de entrada para um mundo diferente, resulta da dicotomia que opõe o moderno ao tradicional, e como porta de entrada para um mundo distante, resulta da distância histórica traçada em que a tradição se encontra da modernidade, e como porta de entrada para um mundo hóstil, resulta dos desafios de uma modernidade cujo projecto não se enquadra na cultura tradicional “africana”.
A cultura moderna segundo Macamo criou referências por isso os que a ela pertencem reconhecem-se nas suas origens históricas e historicizadas, mas quem a ela aderiu pela violência da expansão capitalista sobrevivirá à risca.
Entendo que a facilidade de agenciamento da ciência independe da origem geográfica e cultural das pessoas. A ciência como qualquer artefacto cultural incorpora-se e aprende-se como resultado da socialização, e se a socialização é um processo de violência para com o seu objecto, ela não é agravada por se tratar de valores de caris científica. Além desse facto, um fenómeno interessante que sinto que Macamo não prestou atenção é relativo a manifestação do desejo de oposição, ou seja, manifestar a diferença para com outra cultura como mecanismo de distinção, de ser a cultura ela própria. Este fenómeno é por vezes entendido como uma dificuldade de relacionamento e de incorporação de valores, principalmente quando se trata de valores da ciência.
Um argumento interessante e difícil usado por Macamo, é que não vê uma cultura tradicional africana que se opõe a uma cultura ciêntifica ocidental, mas uma relação difícil que termina vezes sem conta, na instrumentalização da diferença. Concordamos apenas no primeiro aspecto, pois também não vejo a cultura tradicional africana em oposição à cultura ocidental, retirando apenas a questão científica, porque como antes me referí a questão da origem é problemática. No segundo aspecto é que divergimos porque a questão da instrumentalização da diferença coloca-nos no debate da relação com o outro.
Para melhor explicar este fenómeno, partirei da ideia webberiana da relação social. Entendo que Webber explica-a como uma acção que é movida por interesse. Já li interpretações a esta noção webberiana de interesse que entendem que o seu sentido se realiza na instrumentalização do outro. Não atribuo a sí este entendimento, mas como disse, o seu argumento é difícil e preciso explicá-lo com cuidado. Eu entendo a ideia webberiana de interesse como um processo de envolvimento do outro numa relação desejada, o outro é um meio necessário de relacionamento, é como uma fuga do isolamento, e assim é necessário que esta relação seja conseguida a todo o custo.
A nossa relação com a ciência segue os mesmos trilhos, ela é um processo de envolvimento com a ciência numa relação desejada, a ciência é um meio necessário de relacionamento com os seus procedimentos de produção e dos resultados desse conhecimento, é como uma fuga do senso comúm e das crenças populares, é necessário que esta relação seja conseguida a todo o custo. Neste processo de envolvimento com a ciência, a descoberta da alteridade de valores é a descoberta de uma relação, não de uma barreira.
Macamo enfatiza ainda considerando os seguintes elementos: “Em África está-se ainda num impasse, com ligeira vantagem para a cultura tradicional” e acrescenta, “A ciência torna-se numa maneira obscura, impenetrável e irrelevante de falar do próprio mundo em que habitam” e termina considerando, “...temos uma maneira de estar no mundo que torna dificil a relação entre a cultura tradicional e a cultura científica”
Devo dizer que estes são os argumentos que menos concordo na ideia macamiana do relacionamento entre a cultura tradicional africana com a cultura científica. Primeiro porque sinto que ao traçar o marco de entrada de África para a modernidade na palestra em que proferiu, já se antecipava a intenção de inscrever as culturas tradicionais na etapa anterior à modernidade, é como se estas culturas por agenciarem formas diferentes de interpretação do mundo em relação a ciência, agenciassem uma racionalidade inferior.
Acho que a modernidade e a ciência não retiraram o direito de existência das tradições, e das crenças, sejam elas culturais, religiosas, entre outras. O que a ciência trouxe é apenas um modelo de explicação dos fenómenos que obedece a outros procedimentos que ganharam relevência e valor na vida humana. Mesmo nos contextos de maior actividade, desenvolvimento e difusão da ciência, encontramos culturas tradicionais que resistem aos modelos de explicação cietífica, e provavelmente de forma mais radical que as culturas africanas por sentirem de forma mais directa a acção invasora dos resultados da ciência nos diversos espaços de crença que orientam o seu modos de vida.
O agenciamento dos modelos de explicação diferentes do modelo cientifico não implicam necessariamente que a ciência seja irrelevante para a explicação dos fenómenos, e muito menos que exista uma barreira cultural que dificulta a compreenção e agenciamento da racionalidade científica, vários factores podem concorrer para a explicação deste fenómeno, e acho que neste espaço não conseguiriamos explorar de forma exaustiva as várias correntes analíticas que se interessaram não só do estudo como da sua análise.
Penso que aceitar esse pressuposto é arriscado porque de entre várias outras implicações, desvaloriza todo o contributo que grandes figuras africanas deram e continuam a dar ao conhecimento cientifico nos diferentes espaços e quadrantes em que se encontram envolvidos. A contribuição que o Elisio dá à ciência é prova disso. O brinde que nos tem ofertado com a sua rica contribuição nos espaços intelectuais da nossa sociedade envolve um processo de agenciamento comunicativo da cultura científica, onde a cultura tradicional que agenciamos não constitui uma barreira.
É um debate em aberto.
Quitério Langa.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
LEVI-STRAUSS, C 1980 Raça e História. Lisboa: Editorial Presença
LYOTARD, J. F 1989 A Condição Pós-Moderna. Lisboa: Gradiva.
PINA CABRAL, J 2000 A difusão do limiar: Margens, hegemonias e contradições. In: Análise Social. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais.
Recebi hoje um texto de Quitério Langa que entra em diálogo com Elisio Macamo, a propósito daq ciência. Aqui vai:
SOBRE A CIÊNCIA COMO PRESENTE ENVENENADO
Era ainda estudante quando assisti a uma palestra proferida pelo Elisio Macamo, na qual uma das teses por ele defendidas era que África entrou para a Modernidade e para a História com o processo das “descobertas” europeia, ou seja, a chegada dos europeus foi usada por Macamo para estabelecer o marco que separa duas épocas, uma anterior e outra posterior às “descobertas”.
Esta ideia permite-nos considerar que a primeira época é de uma inexistência de África como uma realidade cognitiva ou de conhecimento, não podendo por isso tecer-se qualquer tipo de referência objectiva sobre a mesma. Todas as referências relativas ao período anterior às “descobertas” pertencem ao campo da especulação ou à produção de uma realidade histórica imprecisa e mítica.
A segunda época tem o seu marco objectivamente marcado e ciêntificamente reconhecido. As “descobertas” são um marco que define o início de uma nova realidade, a realidade de conhecimento existencial e histórico, donde pela primeira vez o conceito de África passa a figurar da história, mas não só, como também, produto do contacto cultural é o marco do surgimento de uma nova cultura, a cultura moderna africana.
Com a transversalidade cultural, as culturas em contacto criam uma nova realidade cultural, as fronteiras fisico-geográficas que antes as separavam perdem significado e capacidade de as aprisionar nos seus espaços de origem. Esta nova realidade cultural é produto de uma simbióse de valores tanto africanos como europeus, e o mais interessante é que torna-se ainda mais dificil traçar os centros de produção das culturas quando se reclama pela pertença de valores originários, dado que perde-se até de memória os contactos antes existidos com outras culturas.
Nos primeiros contactos africano-europeu, um dos elementos da cultura que perdeu a sua suposta pátria de origem e se estendeu à cultura africana é a ciência, melhor dito, a ciência é um dos elementos da cultura moderna que chegou a África através dos europeus. Esta correção é pelo facto de ser comúm considrar-se que a ciência é um elemento de originalidade da cultura europeia. Aceitar esta ideia é problemático, porque rompe-se em definitivo com os conceitos de cultura num processo dinámico e de contacto, é pretender que a ideia de cultura siga aprisionada aos preceitos fisico-geográficos, é pretender delimitar os centros de produção cultural, e com isso acaba-se caindo num excesso de relativismo e no mito de origem, por isso dizer que a ciência é de originalidade europeia é muito arriscado, reconhece-se sim o grande contributo que a Europa deu no seu desenvolvimento.
Poderemos então dizer que recebemos a ciência como um presente envenenado?
A ideia macamiana da ciência como um presente envenenado é por isso problemática, mas interessante de se analizar. É problemática porque ela coloca-nos na situação de um excesso de relativismo, como se cada cultura se tivesse desenvolvido num total isolamento das outras. Levi-strauss ainda nos ajuda a entender com o que a seguir passo a citar:
“É indubitável que os homens elaboraram culturas diferentes em virtude do seu afastamento geográfico, das particularidades do meio e da ignorância em que se encontravam em relação ao resto da humanidade, mas isso só seria rigorosamente verdadeiro se cada cultura ou cada sociedade estivesse ligada e se tivesse desenvolvido no isolamento de todas as outras” (Levi-strauss. 1980: 17).
Sinto um desconforto quando Macamo nos diz: “A escola é uma porta de entrada para um mundo diferente, distante e, possivelmente hóstil”, porque vejo que acaba reabilitando uma velha figura antropológica, o exótico. A ideia da escola como porta de entrada para um mundo diferente, resulta da dicotomia que opõe o moderno ao tradicional, e como porta de entrada para um mundo distante, resulta da distância histórica traçada em que a tradição se encontra da modernidade, e como porta de entrada para um mundo hóstil, resulta dos desafios de uma modernidade cujo projecto não se enquadra na cultura tradicional “africana”.
A cultura moderna segundo Macamo criou referências por isso os que a ela pertencem reconhecem-se nas suas origens históricas e historicizadas, mas quem a ela aderiu pela violência da expansão capitalista sobrevivirá à risca.
Entendo que a facilidade de agenciamento da ciência independe da origem geográfica e cultural das pessoas. A ciência como qualquer artefacto cultural incorpora-se e aprende-se como resultado da socialização, e se a socialização é um processo de violência para com o seu objecto, ela não é agravada por se tratar de valores de caris científica. Além desse facto, um fenómeno interessante que sinto que Macamo não prestou atenção é relativo a manifestação do desejo de oposição, ou seja, manifestar a diferença para com outra cultura como mecanismo de distinção, de ser a cultura ela própria. Este fenómeno é por vezes entendido como uma dificuldade de relacionamento e de incorporação de valores, principalmente quando se trata de valores da ciência.
Um argumento interessante e difícil usado por Macamo, é que não vê uma cultura tradicional africana que se opõe a uma cultura ciêntifica ocidental, mas uma relação difícil que termina vezes sem conta, na instrumentalização da diferença. Concordamos apenas no primeiro aspecto, pois também não vejo a cultura tradicional africana em oposição à cultura ocidental, retirando apenas a questão científica, porque como antes me referí a questão da origem é problemática. No segundo aspecto é que divergimos porque a questão da instrumentalização da diferença coloca-nos no debate da relação com o outro.
Para melhor explicar este fenómeno, partirei da ideia webberiana da relação social. Entendo que Webber explica-a como uma acção que é movida por interesse. Já li interpretações a esta noção webberiana de interesse que entendem que o seu sentido se realiza na instrumentalização do outro. Não atribuo a sí este entendimento, mas como disse, o seu argumento é difícil e preciso explicá-lo com cuidado. Eu entendo a ideia webberiana de interesse como um processo de envolvimento do outro numa relação desejada, o outro é um meio necessário de relacionamento, é como uma fuga do isolamento, e assim é necessário que esta relação seja conseguida a todo o custo.
A nossa relação com a ciência segue os mesmos trilhos, ela é um processo de envolvimento com a ciência numa relação desejada, a ciência é um meio necessário de relacionamento com os seus procedimentos de produção e dos resultados desse conhecimento, é como uma fuga do senso comúm e das crenças populares, é necessário que esta relação seja conseguida a todo o custo. Neste processo de envolvimento com a ciência, a descoberta da alteridade de valores é a descoberta de uma relação, não de uma barreira.
Macamo enfatiza ainda considerando os seguintes elementos: “Em África está-se ainda num impasse, com ligeira vantagem para a cultura tradicional” e acrescenta, “A ciência torna-se numa maneira obscura, impenetrável e irrelevante de falar do próprio mundo em que habitam” e termina considerando, “...temos uma maneira de estar no mundo que torna dificil a relação entre a cultura tradicional e a cultura científica”
Devo dizer que estes são os argumentos que menos concordo na ideia macamiana do relacionamento entre a cultura tradicional africana com a cultura científica. Primeiro porque sinto que ao traçar o marco de entrada de África para a modernidade na palestra em que proferiu, já se antecipava a intenção de inscrever as culturas tradicionais na etapa anterior à modernidade, é como se estas culturas por agenciarem formas diferentes de interpretação do mundo em relação a ciência, agenciassem uma racionalidade inferior.
Acho que a modernidade e a ciência não retiraram o direito de existência das tradições, e das crenças, sejam elas culturais, religiosas, entre outras. O que a ciência trouxe é apenas um modelo de explicação dos fenómenos que obedece a outros procedimentos que ganharam relevência e valor na vida humana. Mesmo nos contextos de maior actividade, desenvolvimento e difusão da ciência, encontramos culturas tradicionais que resistem aos modelos de explicação cietífica, e provavelmente de forma mais radical que as culturas africanas por sentirem de forma mais directa a acção invasora dos resultados da ciência nos diversos espaços de crença que orientam o seu modos de vida.
O agenciamento dos modelos de explicação diferentes do modelo cientifico não implicam necessariamente que a ciência seja irrelevante para a explicação dos fenómenos, e muito menos que exista uma barreira cultural que dificulta a compreenção e agenciamento da racionalidade científica, vários factores podem concorrer para a explicação deste fenómeno, e acho que neste espaço não conseguiriamos explorar de forma exaustiva as várias correntes analíticas que se interessaram não só do estudo como da sua análise.
Penso que aceitar esse pressuposto é arriscado porque de entre várias outras implicações, desvaloriza todo o contributo que grandes figuras africanas deram e continuam a dar ao conhecimento cientifico nos diferentes espaços e quadrantes em que se encontram envolvidos. A contribuição que o Elisio dá à ciência é prova disso. O brinde que nos tem ofertado com a sua rica contribuição nos espaços intelectuais da nossa sociedade envolve um processo de agenciamento comunicativo da cultura científica, onde a cultura tradicional que agenciamos não constitui uma barreira.
É um debate em aberto.
Quitério Langa.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
LEVI-STRAUSS, C 1980 Raça e História. Lisboa: Editorial Presença
LYOTARD, J. F 1989 A Condição Pós-Moderna. Lisboa: Gradiva.
PINA CABRAL, J 2000 A difusão do limiar: Margens, hegemonias e contradições. In: Análise Social. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais.
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By chenlili, at 3:38 AM
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