Tudo é Nada 2
Aqui vai o segundo dos 3 textos que o Quitério Langa me mandou:
TUDO É NADA
Sobre a sexualidade:
De um modo geral todas as pessoas matêm relações sexuais. Esta é uma proposição geral da qual podem decorrer várias conclusões, mas não pretendo discutir quem terá ou não aptidão para esse acto. Quero é discutir algumas questões mais particulares como seja a forma como é concebida a sexualidade, e por via dela como é construida a identidade social. Para melhor desenvolver esta análise vou-me orientar por duas questões: O que é manter uma relação sexual, e que tipo de práticas envolvem uma relação sexual?
Para responder a estas questões temos de considerar que uma relação do ponto de vista sociológico envolve sempre a presença no mínimo de duas pessoas em interação e comunicação. Ora duas pessoas implica apenas duas pessoas, independentemente do género a que elas pertencem. Esta ideia pode ser perturbadora atendendo a que nos referimos a uma relação sexual, mas não retira a validade da afirmação. Nestes termos, manter uma relação sexual seria o acto de pelo menos duas pessoas envolverem-se na prática do acto sexual.
Parece que com esta simples ideia explicamos tudo, mas se formos um pouco mais cuidadosos perceberemos que continuamos sem explicar nada, porque é redundante que uma resposta se explique a sí mesma, ou seja, manter uma relação sexual não pode por si significar envolver-se na prática do acto sexual, porque as ideias são equivalentes. O que seria então essa prática? Que elementos a envolvem?
Uma forma de explicar estas questões seria com base numa descrição do conjunto de elementos que constituem a prática da relação sexual, mas esse exercicio seria penoso, pelo que não seguiremos por essa via e também devería ser precedido da apresentação das diferentes e diversas formas de conceber e exercitar a prática da relação sexual, de acordo com os diferentes contextos de pertença e de valores, o que se torna praticamente impossível de aqui ser realizado.
Assim, só nos resta uma via de explicação, e é através daquilo a que iremos considerar como sendo o aspecto geral que orienta a definição da relação sexual. Seguindo este princípio, provavelmente o único aspecto geral que se pode considerar nessa explicação, é o facto de nela se fazer referência ao uso dos orgãos genitais, ou seja, tudo o que explica a prióri a prática da relação sexual é que nela estiveram em contacto orgãos genitais de duas pessoas. Esta ideia é problemática porque os orgãos genitais servem apenas de referência desta prática, porque muita das vezes estes nunca efectivamente se cruzam, servem apenas como referencial dessa prática.
Porque esta confusão sobre algo que nos parece óbvio demais para ser analizado e explicado? Não se trata de fazer confusão, muito pelo contrário, trata-se apenas de fazer uma incursão sobre um dos campos de segredo das nossas vidas, da qual temos tanta certeza de que as conhecemos. Será?
De um modo geral a sexualidade é entendida de um ponto de vista biológico e moral como sendo a heterosexualidade, e nela a relação sexual é tida como sendo o produto do cruzamento de duas pessoas de sexos opostos através do coito vaginal.
O que faz dos heterosexuais, heterosexuais, senão o único facto de terem na sua definição o acto de escolherem como preferência um parceiro do sexo oposto e fazerem referência ao cruzamento dos seus orgãos genitais mediante o coito? Sim, porque a prática da relação sexual entre os heterosexuais nem sempre obedece a esse princípio, ou seja a regra na relação sexual entre os heterosexuais não é o coito vaginal, ele é apenas uma referência. E ainda que essa fosse uma regra, é um facto e temos de admitir que existem excepções e isso por sí coloca em questão a ideia do coito vaginal como definidora da orientação sexual dos heterosexuais.
A práttica sexual dos heterosexuais nunca obedeceu os seus ideais naturalistas e moralistas, estes serviram e servem apenas para exprimir o medo de encarar a vida sexual na sua plena liberdade, através da repressão e descriminação das diferentes formas de busca do prazer sexual que é o que domina o campo da sexualidade. Serão os heterosexuais, heterosexuais na prática das suas relações sexuais, ou o são apenas na escolha preferêncial de um parceiro de sexo oposto?
Tudo o que define a heterosexualidade, não define nada, ela só pode ser vista como uma tentativa de difinir fronteiras de pertença entre pessoas que julgam comungar das mesmas ideias e práticas sobre a sexualidade, sob um fundamento naturalista e moralista. O mais interessante é que essas ideias e práticas são míticas, elas nunca existiram porquanto o seu princípio definidor nunca foi prática real.
O fantasma da heterosexualidade é a homosexualidade, e é vista pelos primeiros como uma relação desnaturada e imoral, pelo facto de seus praticantes se definirem pela escolha preferêncial de um parceiro do mesmo sexo. É interessante que na definição da homosexualidade, apenas está o facto da preferência na escolha do parceiro e, nela já não se estabelece a via que orienta a relação sexual, presumindo tratar-se de parceiros do mesmo sexo.
Nós os heterosexuais, porque quero confessar que essa por incrível que pareça é a minha orientação sexual, na verdade se realizarmos um pouco de esforço descobriremos que nada temos de heterosexuais, apenas temos como preferência um relacionamento sexual com pessoas do sexo oposto, do mesmo modo que também os homosexuais nada têm de homosexuais, tendo apenas como preferência um relacionamento sexual com pessoas do mesmo sexo.
É comúm dizer-se que as pessoas têm uma orientação sexual, agora não sei se isso é correto nem tenho condições de avaliar, mas duvido que aquilo a que se chama de orientação sexual nada tenha a ver com as práticas efectivas da vida sexual das pessoas porquanto existe no meu entender uma contradição explícita entre o seu ideal definidor e o seu real prático. Tudo o que define uma ou outra dita orientação sexual não define nada, as fronteiras desejadas são apenas vontades frustradas de uma existência fracassada.
É um debate em aberto.
Quitério Langa
TUDO É NADA
Sobre a sexualidade:
De um modo geral todas as pessoas matêm relações sexuais. Esta é uma proposição geral da qual podem decorrer várias conclusões, mas não pretendo discutir quem terá ou não aptidão para esse acto. Quero é discutir algumas questões mais particulares como seja a forma como é concebida a sexualidade, e por via dela como é construida a identidade social. Para melhor desenvolver esta análise vou-me orientar por duas questões: O que é manter uma relação sexual, e que tipo de práticas envolvem uma relação sexual?
Para responder a estas questões temos de considerar que uma relação do ponto de vista sociológico envolve sempre a presença no mínimo de duas pessoas em interação e comunicação. Ora duas pessoas implica apenas duas pessoas, independentemente do género a que elas pertencem. Esta ideia pode ser perturbadora atendendo a que nos referimos a uma relação sexual, mas não retira a validade da afirmação. Nestes termos, manter uma relação sexual seria o acto de pelo menos duas pessoas envolverem-se na prática do acto sexual.
Parece que com esta simples ideia explicamos tudo, mas se formos um pouco mais cuidadosos perceberemos que continuamos sem explicar nada, porque é redundante que uma resposta se explique a sí mesma, ou seja, manter uma relação sexual não pode por si significar envolver-se na prática do acto sexual, porque as ideias são equivalentes. O que seria então essa prática? Que elementos a envolvem?
Uma forma de explicar estas questões seria com base numa descrição do conjunto de elementos que constituem a prática da relação sexual, mas esse exercicio seria penoso, pelo que não seguiremos por essa via e também devería ser precedido da apresentação das diferentes e diversas formas de conceber e exercitar a prática da relação sexual, de acordo com os diferentes contextos de pertença e de valores, o que se torna praticamente impossível de aqui ser realizado.
Assim, só nos resta uma via de explicação, e é através daquilo a que iremos considerar como sendo o aspecto geral que orienta a definição da relação sexual. Seguindo este princípio, provavelmente o único aspecto geral que se pode considerar nessa explicação, é o facto de nela se fazer referência ao uso dos orgãos genitais, ou seja, tudo o que explica a prióri a prática da relação sexual é que nela estiveram em contacto orgãos genitais de duas pessoas. Esta ideia é problemática porque os orgãos genitais servem apenas de referência desta prática, porque muita das vezes estes nunca efectivamente se cruzam, servem apenas como referencial dessa prática.
Porque esta confusão sobre algo que nos parece óbvio demais para ser analizado e explicado? Não se trata de fazer confusão, muito pelo contrário, trata-se apenas de fazer uma incursão sobre um dos campos de segredo das nossas vidas, da qual temos tanta certeza de que as conhecemos. Será?
De um modo geral a sexualidade é entendida de um ponto de vista biológico e moral como sendo a heterosexualidade, e nela a relação sexual é tida como sendo o produto do cruzamento de duas pessoas de sexos opostos através do coito vaginal.
O que faz dos heterosexuais, heterosexuais, senão o único facto de terem na sua definição o acto de escolherem como preferência um parceiro do sexo oposto e fazerem referência ao cruzamento dos seus orgãos genitais mediante o coito? Sim, porque a prática da relação sexual entre os heterosexuais nem sempre obedece a esse princípio, ou seja a regra na relação sexual entre os heterosexuais não é o coito vaginal, ele é apenas uma referência. E ainda que essa fosse uma regra, é um facto e temos de admitir que existem excepções e isso por sí coloca em questão a ideia do coito vaginal como definidora da orientação sexual dos heterosexuais.
A práttica sexual dos heterosexuais nunca obedeceu os seus ideais naturalistas e moralistas, estes serviram e servem apenas para exprimir o medo de encarar a vida sexual na sua plena liberdade, através da repressão e descriminação das diferentes formas de busca do prazer sexual que é o que domina o campo da sexualidade. Serão os heterosexuais, heterosexuais na prática das suas relações sexuais, ou o são apenas na escolha preferêncial de um parceiro de sexo oposto?
Tudo o que define a heterosexualidade, não define nada, ela só pode ser vista como uma tentativa de difinir fronteiras de pertença entre pessoas que julgam comungar das mesmas ideias e práticas sobre a sexualidade, sob um fundamento naturalista e moralista. O mais interessante é que essas ideias e práticas são míticas, elas nunca existiram porquanto o seu princípio definidor nunca foi prática real.
O fantasma da heterosexualidade é a homosexualidade, e é vista pelos primeiros como uma relação desnaturada e imoral, pelo facto de seus praticantes se definirem pela escolha preferêncial de um parceiro do mesmo sexo. É interessante que na definição da homosexualidade, apenas está o facto da preferência na escolha do parceiro e, nela já não se estabelece a via que orienta a relação sexual, presumindo tratar-se de parceiros do mesmo sexo.
Nós os heterosexuais, porque quero confessar que essa por incrível que pareça é a minha orientação sexual, na verdade se realizarmos um pouco de esforço descobriremos que nada temos de heterosexuais, apenas temos como preferência um relacionamento sexual com pessoas do sexo oposto, do mesmo modo que também os homosexuais nada têm de homosexuais, tendo apenas como preferência um relacionamento sexual com pessoas do mesmo sexo.
É comúm dizer-se que as pessoas têm uma orientação sexual, agora não sei se isso é correto nem tenho condições de avaliar, mas duvido que aquilo a que se chama de orientação sexual nada tenha a ver com as práticas efectivas da vida sexual das pessoas porquanto existe no meu entender uma contradição explícita entre o seu ideal definidor e o seu real prático. Tudo o que define uma ou outra dita orientação sexual não define nada, as fronteiras desejadas são apenas vontades frustradas de uma existência fracassada.
É um debate em aberto.
Quitério Langa
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