Nomes
Caros apreciadores deste “blog”
Não tenho aberto muito este local por me parecer que o debate anda ausente. E muito menos tenho dado as minhas contribuições porque me sinto ultimamente tão azeda com o que me rodeia que opto por não acidular mais o ambiente. Hoje, porém, acho-me mais tolerante e bem humorada e mando esta em especial para a Fátima Ribeiro!
Há muito que reparo na facilidade com que os nossos conterrâneos mudam a grafia (ia escrever ortografia mas parei a tempo) dos seus nomes. Habitualmente é para meter pelo meio um ‘h’, substituir um ‘c’ por um ‘k’, ou um ‘ua’ por ‘wa’. O Mia Couto há uns tempos já escreveu sobre esta aparente tentativa de africanizar os nomes, como se o “k’ ou o “w’ fossem mais africanos, e portanto menos coloniais, do que as 23 letras do alfabeto que nos ensinaram na escola.
Não vou construir sobre as irónicas e sábias palavras do escritor, por que a minha preocupação é mais prática. No mundo em que vivemos – e nem é coisa muito moderna – a ordem alfabética é a base de quase tudo, desde o arquivo das fichas no hospital, a nossa identificação no arquivo de registo civil e/ou criminal, a lista telefónica, as pautas com as notas nos exames, etc. etc..
Suponhamos que o menino Aires Matavel (nome fictício naturalmente) nasceu na maternidade do HCM com uma doença que pode deixar sequelas que vão revelar-se 20 anos depois. Nessa altura o nosso Aires já começou a assinar os testes na escola como Ayres; e mais tarde optou por usar Matabele como apelido. Sentindo necessidade de ir ao médico (no Hospital onde nasceu), o clínico quer consultar a ficha para lhe conhecer os antecedentes. Mas claro, ninguém encontra a tal ficha e o médico não atina com o diagnóstico. Felizmente não era coisa de risco de morte, pelo menos para já, e uns paliativos resolveram o problema. Mais tarde, consegue fugir ao SMO porque ninguém o conhece pelo novo nome. E quando vai pedir um registo criminal para abrir um negócio – depois de ter havido grande remodelação no âmbito do UTRESP e ser mais difícil comprá-lo – vê o seu pedido complicado porque deu uma identificação que não aparece onde devia estar. O desenlace já não sei, mas é um aviso de que não se brinca impunemente com a nossa identidade.
É como os nossos jornalistas inglesados. Agora escreve-se a proposição ´de´ com ´D´ e esta passa a ser um nome, como em´Da Silva’ ou ´Dos Santos´. Ou, como está escrito nas placas verdes da autoestrada: Portagem Da Moamba. Estou a ver-me a escrever calinadas destas em inglês, zulu, sotho ou africaans, em letreiros para o público, no país vizinho. Será que também não havia reacção?
Maria de Lourdes Torcato
1 Comments:
Cá para mim esse complexo de colónia já deveria estar mais resolvido mas enfim, vcada um tem os seus tempos...
:)
By Anonymous, at 8:32 AM
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