30 ANOS
Da Otília Aquino recebi este texto, que acho lindíssimo:
Já passam 30
Tão poucos...mas tão pesados
Mais ou menos atentos ás questões de soberania, mais ou menos interessados até essa data , a verdade é que fomos tomados há 30 e poucos anos por esta febre a que posso chamar de entrega, envolvimento, participação. Foi construir o sentido e o orgulho de uma nacionalidade.
Escrever sobre os 30 anos, deve ser feito por quem o sabe fazer. Espero ler de outros aquilo que eu gostaria de ter tido capacidade de escrever. Anseio ouvir de outros, resumos que me possam fazer sentir incluída nesses textos. Penso que muitos de nós já o fizeram ou estão para o fazer.
A minha intenção é somente debruçar-me sobre a minha muito pessoal forma de ver, sentir e reagir aos anos, aos caminhos, ás alegrias e tristezas, aos momentos e ás épocas, a tudo o que foi este caminhar de 30 e poucos anos.
30 anos se passaram. A febre já não é tão alta. Mas mantém-se. Continua. É como que vital para se prosseguir. Não há maneira de se viver sem a entrega. Muitas vezes mais adulta, mais capaz de analisar e equilibrar, o envolvimento tantas vezes questionado por se querer só ver uma forma deste acontecer, a participação tão importante e necessária, mas tão vista como um apêndice que pode ser ou não utilizado.
Muito do que eram os nossos hábitos se desgastaram, alteraram e outros morreram. Alguns são hoje somente uma penosa saudade.
Sei que as mudanças têm que acontecer. São parte da vida. Mas o degradar só acontece porque deixamos que aconteça. Porque além de se deixar se planificou o degradar. Não há explicação credível para o estado actual de coisas.
Como se pode aceitar afirmações de necessidade de desenvolvimento e participação quando se deixou chegar o nível da educação e de desenvolvimento individual, ao mais baixo?
Como ensinar uma criança sobre o que é um jardim, se os que temos ainda com um pouquinho de verde servem de grandes latrinas, caixas de lixo e albergues para malfeitores?
Como exemplificar o que é uma escola com casa de banho, água corrente, luz, carteiras, pátio para descanso, jardim e sobretudo professores (não sanguessugas pedindo todos os dias lanche ás crianças, obrigando os pais a pagar por cada nota, abusando sexualmente dos alunos), se elas só existem para alguns, para aqueles que tentam ainda educar os seus filhos em lugares limpos e agradáveis, e que podem suportar o valor altíssimo desse “ luxo”.
Como explicar que pão não se vende na rua? Que investir na sua saúde individual, no asseio e na educação é investir numa vida melhor? Como explicar...fazendo?
Quando se deixará o discurso para se começar a agir? Quando começaremos a agir?
Quando se começará a dar a impressão que é possível haver um futuro. Que a vida não acaba agora. Que o individuo tem direito a sonhar com um amanhã?
Por vezes a desesperança assalta-nos de forma abrupta e faz-nos pensar na idade, nas doenças, na necessidade de pensarmos um pouco mais em nós próprios e na urgência de prepararmos o nosso futuro. Este assalto vem acontecendo mais assiduamente do que há uns anos atrás, e o seu tempo de “estadia” tem-se estendido por mais e mais dias. Não sei como fazer um combate real aos assaltos, para que esse combate traga resultados e que minem a vitalidade e capacidade de infiltração da desesperança.
O mau gosto, a falta de ética, a incultura é uma das componentes mais vívidos no nosso dia a dia. Para além destes o pisar, a finta e o golpe baixo constam do manual de vida de muitos dos nossos colegas, vizinhos, conhecidos e governantes. Felizmente ainda não corroeram o grupo de amigos.
O principio de dois pesos duas medidas entrou em nós com uma facilidade vertiginosa. É também praticado por quem de outras zonas geográficas é oriundo e consoante o local em que vive altera também a forma de actuação. Instalou-se e por aqui ficou. Parece a mataquenha. Aquela que já é tão difícil de tirar que nos vai corroendo e infectando o dedo, depois o pé...e por aí acima.
Como conseguir ser coerente, tendo ao mesmo tempo tantas dúvidas e querer tanto ver os planos/sonhos a funcionar?
Estou convencida que apesar de me deixar assaltar, a minha desesperança não me levará para o mesmo lado dos muitos que á minha volta pululam em grandes luxos. Luxos muito pouco resultantes de trabalho e seriedade. Estou certa que a desesperança, mais ou menos infiltrada não me fará negar os principios. Que seguirei por um caminho dificil mas interiormente compensador. E também espero poder daqui a alguns anos sentir-me feliz. Feliz por ter trabalhado e tentado na minha estreita área de acção fazer o melhor. Mesmo que inexplicavelmente tentar fazer-se o melhor signifique ser-se visto como incómodo.
Parece que somos vistos como um caso especial. O que me orgulha muito. É verdade que conseguimos fazer algumas coisas bem feitas. Mas a componente do caso especial que vejo que deve ser reverenciada é sobretudo a do cidadão comum. É esse que aguenta o que mais ninguém aguenta. É ele que divide no hospital a cama com mais 2 doentes. É ele que para o seu filho ter acesso á tão propalada educação tem que pagar a um inútil que não faz mais que estragar. É o cidadão que paga 5.000 MT no chapa e ainda tem que aceitar que o cobrador viaje em cima dele.
Algo terá que ser feito. O nosso fôlego tem que ser readquirido.
São poucos os anos de actividade que me restam, no entanto penso que mais que há 30 anos atrás o nível de trabalho e de influência tem que crescer. É importante que se tente a cada passo influenciar para o melhoramento. É necessário uma atenção especial ás crianças e aos jovens. É neles que poderemos ainda semear a semente que poderá germinar no futuro.
Não esperemos por amanhã. Façamos agora, tentemos pelo menos, para que amanhã se verifique algum resultado.
Otilia Aquino
23 de Junho de 2005
Já passam 30
Tão poucos...mas tão pesados
Mais ou menos atentos ás questões de soberania, mais ou menos interessados até essa data , a verdade é que fomos tomados há 30 e poucos anos por esta febre a que posso chamar de entrega, envolvimento, participação. Foi construir o sentido e o orgulho de uma nacionalidade.
Escrever sobre os 30 anos, deve ser feito por quem o sabe fazer. Espero ler de outros aquilo que eu gostaria de ter tido capacidade de escrever. Anseio ouvir de outros, resumos que me possam fazer sentir incluída nesses textos. Penso que muitos de nós já o fizeram ou estão para o fazer.
A minha intenção é somente debruçar-me sobre a minha muito pessoal forma de ver, sentir e reagir aos anos, aos caminhos, ás alegrias e tristezas, aos momentos e ás épocas, a tudo o que foi este caminhar de 30 e poucos anos.
30 anos se passaram. A febre já não é tão alta. Mas mantém-se. Continua. É como que vital para se prosseguir. Não há maneira de se viver sem a entrega. Muitas vezes mais adulta, mais capaz de analisar e equilibrar, o envolvimento tantas vezes questionado por se querer só ver uma forma deste acontecer, a participação tão importante e necessária, mas tão vista como um apêndice que pode ser ou não utilizado.
Muito do que eram os nossos hábitos se desgastaram, alteraram e outros morreram. Alguns são hoje somente uma penosa saudade.
Sei que as mudanças têm que acontecer. São parte da vida. Mas o degradar só acontece porque deixamos que aconteça. Porque além de se deixar se planificou o degradar. Não há explicação credível para o estado actual de coisas.
Como se pode aceitar afirmações de necessidade de desenvolvimento e participação quando se deixou chegar o nível da educação e de desenvolvimento individual, ao mais baixo?
Como ensinar uma criança sobre o que é um jardim, se os que temos ainda com um pouquinho de verde servem de grandes latrinas, caixas de lixo e albergues para malfeitores?
Como exemplificar o que é uma escola com casa de banho, água corrente, luz, carteiras, pátio para descanso, jardim e sobretudo professores (não sanguessugas pedindo todos os dias lanche ás crianças, obrigando os pais a pagar por cada nota, abusando sexualmente dos alunos), se elas só existem para alguns, para aqueles que tentam ainda educar os seus filhos em lugares limpos e agradáveis, e que podem suportar o valor altíssimo desse “ luxo”.
Como explicar que pão não se vende na rua? Que investir na sua saúde individual, no asseio e na educação é investir numa vida melhor? Como explicar...fazendo?
Quando se deixará o discurso para se começar a agir? Quando começaremos a agir?
Quando se começará a dar a impressão que é possível haver um futuro. Que a vida não acaba agora. Que o individuo tem direito a sonhar com um amanhã?
Por vezes a desesperança assalta-nos de forma abrupta e faz-nos pensar na idade, nas doenças, na necessidade de pensarmos um pouco mais em nós próprios e na urgência de prepararmos o nosso futuro. Este assalto vem acontecendo mais assiduamente do que há uns anos atrás, e o seu tempo de “estadia” tem-se estendido por mais e mais dias. Não sei como fazer um combate real aos assaltos, para que esse combate traga resultados e que minem a vitalidade e capacidade de infiltração da desesperança.
O mau gosto, a falta de ética, a incultura é uma das componentes mais vívidos no nosso dia a dia. Para além destes o pisar, a finta e o golpe baixo constam do manual de vida de muitos dos nossos colegas, vizinhos, conhecidos e governantes. Felizmente ainda não corroeram o grupo de amigos.
O principio de dois pesos duas medidas entrou em nós com uma facilidade vertiginosa. É também praticado por quem de outras zonas geográficas é oriundo e consoante o local em que vive altera também a forma de actuação. Instalou-se e por aqui ficou. Parece a mataquenha. Aquela que já é tão difícil de tirar que nos vai corroendo e infectando o dedo, depois o pé...e por aí acima.
Como conseguir ser coerente, tendo ao mesmo tempo tantas dúvidas e querer tanto ver os planos/sonhos a funcionar?
Estou convencida que apesar de me deixar assaltar, a minha desesperança não me levará para o mesmo lado dos muitos que á minha volta pululam em grandes luxos. Luxos muito pouco resultantes de trabalho e seriedade. Estou certa que a desesperança, mais ou menos infiltrada não me fará negar os principios. Que seguirei por um caminho dificil mas interiormente compensador. E também espero poder daqui a alguns anos sentir-me feliz. Feliz por ter trabalhado e tentado na minha estreita área de acção fazer o melhor. Mesmo que inexplicavelmente tentar fazer-se o melhor signifique ser-se visto como incómodo.
Parece que somos vistos como um caso especial. O que me orgulha muito. É verdade que conseguimos fazer algumas coisas bem feitas. Mas a componente do caso especial que vejo que deve ser reverenciada é sobretudo a do cidadão comum. É esse que aguenta o que mais ninguém aguenta. É ele que divide no hospital a cama com mais 2 doentes. É ele que para o seu filho ter acesso á tão propalada educação tem que pagar a um inútil que não faz mais que estragar. É o cidadão que paga 5.000 MT no chapa e ainda tem que aceitar que o cobrador viaje em cima dele.
Algo terá que ser feito. O nosso fôlego tem que ser readquirido.
São poucos os anos de actividade que me restam, no entanto penso que mais que há 30 anos atrás o nível de trabalho e de influência tem que crescer. É importante que se tente a cada passo influenciar para o melhoramento. É necessário uma atenção especial ás crianças e aos jovens. É neles que poderemos ainda semear a semente que poderá germinar no futuro.
Não esperemos por amanhã. Façamos agora, tentemos pelo menos, para que amanhã se verifique algum resultado.
Otilia Aquino
23 de Junho de 2005
1 Comments:
Jurei para a minha esposa (que não é moçambicana) que na continuação da av. Karl Marx (região da Malhangalene) havia uma estrada pavimentada. Até hoje estou pagando a aposta. Não tive como provar. Como provar e ... ensinar com exemplos?
By Mangue, at 8:00 AM
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