Carta da Olava Bri
Da amiga Olava Bri recebi mais um texto para o debate:
O que está em discussão é (penso eu) saber lidar com todos os que connosco vivem, com quem temos que partilhar este espaço comum.
Não vamos querer generalizar pois não conseguiremos. Dou este exemplo como o mais do dia a dia que possamos ter:
Apesar de não ser muçulmana quando recebo em minha casa um muçulmano não sirvo porco. Isto não quer dizer que eu concorde com o não comer porco, é só que devo saber estar com todo o tipo de pessoas, com todos os hábitos que tenham. Também não vou calar algumas coisas. Não vou deixar de exprimir as minhas ideias e por elas lutar. No entanto continuo a pensar que devo saber levar a água ao meu moinho e muitas vezes é melhor calar, apesar de não consentir.
Por isso advogo que deveremos ter calma neste assunto das caricaturas. Por estarmos a lidar com um grupo que pode usar esse argumento para fazer o que bem entende.
O Savana publicou as caricaturas e estava no seu direito faze-lo. Não foi no entanto um passo que os enobreça. Deveriam ter balançado melhor.
No entanto e logo de seguida os “ manifestantes” demonstraram que de pacíficos e ordeiros não têm nada e vão daí e manifestam-se com violência...
O Savana pede desculpas... mas o sheik vem dizer que ainda estão a pensar se devem ou não aceitar o pedido de desculpas e o que farão de seguida.
Mais tarde informam que não chegam as desculpas pedidas que querem mais, e chega-se ao absurdo de querer interferir na gestão do jornal.
Verifica que desse sector da sociedade moçambicana não se tem uma postura constante e séria de democracia e aceitação dos direitos e liberdades dos outros.
Estamos a verificar que mesmo aqueles que durante algum tempo podem usar uma face de abertura e pragmatismo quando lhes toca no seu terreiro, viram conservadores e pouco capazes de conviver com meios de abertura, debate de ideias e posicionamentos diferentes.
A exemplo de muitas outras pessoas, gostaría de ter visto este sector da sociedade vir a público e fortemente – mas ordeiramente – manifestar-se contra acções cometidas em nome do Islão. Infelizmente aí o silêncio é quase total. Só quando entrevistados, se posicionam...muito levemente na critica a acções de violência contra pessoas e bens.
Não sei em que vai dar este rol de acontecimentos, o que tenho a certeza é de que com este assunto se leva a debate questões como as diferenças, a aceitação na diferença e que não se pode deixar que um jornal como o Savana, seja demasiado prejudicado.
Olava Bri
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