A Galinha
Aqui há uns anos o jornalista inglês Joe Hanlon, profundo conhecedor da realidade moçambicana, publicou no jornal METICAL uma série de arigos sobre o que foi o roubo desenfreado praticado por uma camada da nossa sociedade e de que resultaram, directa ou indirectamente, as mortes de Carlos Cardoso e Siba Siba Macuácua.
Como se trata de casos longe de estarem encerrados e por o METICAL não ter sido de acesso facil a muita gente, resolvi ir publicando essa série de textos, que foram traduzidos pela jornalista Maria de Lurdes Torcato.
O título geral da série é Matando a Galinha dos Ovos de Ouro. Aí vai o primeiro:
MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Mais de 400 milhões de dólares desapareceram do sistema bancário na década de 90 em Moçambique. Carlos Cardoso e António Siba-Siba Macuácua foram provavelmente assassinados para impedir a verdade sobre isto e sobre a maneira como os roubos foram efectuados.
Todos os países usam os bancos para fins políticos. Em Moçambique, os bancos foram usados para construir o socialismo, para manter o país a funcionar durante a guerra e depois, na nova era capitalista, para promover empresários locais e manter a economia livre de mãos estrangeiras.
Porém, banqueiros e homens de negócios, nacionais e estrangeiros, apropriaram-se simplesmente de muito dinheiro e foram muitas as mãos que foram ao saco.
Talvez haja uma diferença entre roubar dinheiro e promover uma nova elite. Mas os que mataram Cardoso e Siba-Siba tinham perfeitamente a noção de que nunca poderiam tirar dinheiro e justificá-lo publicamente - e que tinha sido tirado dinheiro suficiente para justificar duas mortes pelo menos.
Talvez tenham conseguido garantir que os pormenores nunca venham a ser conhecidos. Mas isso faz com que ainda seja mais importante passar em revista aquilo que se sabe e colocá-lo em contexto. Este estudo baseia-se em entrevistas com banqueiros e pessoas que conhecem o cenário da banca moçambicana mas que deixaram de estar envolvidos quer com o BCM, quer com o Banco Austral. O Banco de Moçambique recusou falar connosco.
Numa série de 11 artigos tentaremos mostrar:
. como a criação do sistema bancário criou condições para a fraude e a corrupção;
. como a nova elite conseguiu pilhar a banca antes da privatização;
. como o FMI e o Banco Mundial "de facto" levaram o governo a aceitar a corrupção;
. como as privatizações tiveram um cunho político e envolveram famílias importantes e ligadas a altas entidades do partido e do Estado;
. como as duas privatizações de bancos foram dúbias e usadas por moçambicanos e seus associados estrangeiros para roubar ainda mais.
Lamento ter de dividir este ensaio em pedaços curtos, mas, no final, as 11 partes terão coberto o seguinte:
Banca socialista
A era pós-Samora
Privatização forçada dos bancos estatais
Privatização do BCM
Privatização do BPD
Colapso dos dois bancos
Quem ia ficar com o Banco Austral?
Uso da contabilidade para roubar
Lavagem de dinheiro
Roubando de contas no estrangeiro
Reflexões Finais
Não haverá revelações e poucas coisas são realmente novas. Mas juntando aquilo que já é conhecido, espero mostrar que a ganância crescente acabou por matar a galinha dos ovos de ouro. Ao fim e ao cabo a elite política perdeu o controlo dos bancos. E em vez de ter servido para reforçar o poder económico dos moçambicanos, o resultado foi o controlo estrangeiro sobre a banca moçambicana.
Como se trata de casos longe de estarem encerrados e por o METICAL não ter sido de acesso facil a muita gente, resolvi ir publicando essa série de textos, que foram traduzidos pela jornalista Maria de Lurdes Torcato.
O título geral da série é Matando a Galinha dos Ovos de Ouro. Aí vai o primeiro:
MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Mais de 400 milhões de dólares desapareceram do sistema bancário na década de 90 em Moçambique. Carlos Cardoso e António Siba-Siba Macuácua foram provavelmente assassinados para impedir a verdade sobre isto e sobre a maneira como os roubos foram efectuados.
Todos os países usam os bancos para fins políticos. Em Moçambique, os bancos foram usados para construir o socialismo, para manter o país a funcionar durante a guerra e depois, na nova era capitalista, para promover empresários locais e manter a economia livre de mãos estrangeiras.
Porém, banqueiros e homens de negócios, nacionais e estrangeiros, apropriaram-se simplesmente de muito dinheiro e foram muitas as mãos que foram ao saco.
Talvez haja uma diferença entre roubar dinheiro e promover uma nova elite. Mas os que mataram Cardoso e Siba-Siba tinham perfeitamente a noção de que nunca poderiam tirar dinheiro e justificá-lo publicamente - e que tinha sido tirado dinheiro suficiente para justificar duas mortes pelo menos.
Talvez tenham conseguido garantir que os pormenores nunca venham a ser conhecidos. Mas isso faz com que ainda seja mais importante passar em revista aquilo que se sabe e colocá-lo em contexto. Este estudo baseia-se em entrevistas com banqueiros e pessoas que conhecem o cenário da banca moçambicana mas que deixaram de estar envolvidos quer com o BCM, quer com o Banco Austral. O Banco de Moçambique recusou falar connosco.
Numa série de 11 artigos tentaremos mostrar:
. como a criação do sistema bancário criou condições para a fraude e a corrupção;
. como a nova elite conseguiu pilhar a banca antes da privatização;
. como o FMI e o Banco Mundial "de facto" levaram o governo a aceitar a corrupção;
. como as privatizações tiveram um cunho político e envolveram famílias importantes e ligadas a altas entidades do partido e do Estado;
. como as duas privatizações de bancos foram dúbias e usadas por moçambicanos e seus associados estrangeiros para roubar ainda mais.
Lamento ter de dividir este ensaio em pedaços curtos, mas, no final, as 11 partes terão coberto o seguinte:
Banca socialista
A era pós-Samora
Privatização forçada dos bancos estatais
Privatização do BCM
Privatização do BPD
Colapso dos dois bancos
Quem ia ficar com o Banco Austral?
Uso da contabilidade para roubar
Lavagem de dinheiro
Roubando de contas no estrangeiro
Reflexões Finais
Não haverá revelações e poucas coisas são realmente novas. Mas juntando aquilo que já é conhecido, espero mostrar que a ganância crescente acabou por matar a galinha dos ovos de ouro. Ao fim e ao cabo a elite política perdeu o controlo dos bancos. E em vez de ter servido para reforçar o poder económico dos moçambicanos, o resultado foi o controlo estrangeiro sobre a banca moçambicana.
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