Carta de Patricio Langa
Na sequência dos textos sobre cultura e identidade, recebi a seguinte carta de Patricio Langa:
NA FRONTEIRA DO ANONIMATO – CARTA AOS BLOGUISTAS
Caro Machado da Graça
Antes de mais, permita-me felicitar-lhe pelo espaço do blog que nos proporciona uma rica experiência de debate intelectual. Em segundo lugar, agradeço-lhe a publicação da minha réplica aos "sete sapatos sujos" do escritor Mia Couto.Sinto-me, de alguma maneira despido, exposto ao olhar do público. Pelo menos daquele que tem acesso a espaço virtual da NET por meio do seu blog. Confesso! Não esperava que aquilo que não passava de mero atrevimento, em replicar o consagrado Mia, se transformasse num espaço alargado de debate sobre a nossa identidade moçambicana. Sinto-me lisonjeado pelo impacto 'positivo' que está a surtir o artigo que escrevi. Mas pesa-me, agora, nas costas a responsabilidade de corresponder a uma certa expectativa que se começa criar em torno da minha escrita e que não fazia parte dos meus planos iniciais. Na verdade já vinha publicando, não com regularidade, ideias minhas sempre que achasse oportuno fazê-lo. Faço publicidade de borla para a revista Mais que conta com uns 3 ou 4 artigos de minha autoria. Mas dessa escrita modesta nunca havia recebido algum tipo de palmadinhas. O refúgio no anonimato continua a ser um lugar confortável para mim. Por isso,pretendo continuar no mesmo ritmo. Perdoem-me os que esperavam mais de mim.A réplica ao Mia, e o seu impacto, criou em mim a sensação de que estou chegando ao limite da fronteira do anonimato. Já me explico. Sem falsa modéstia de minha parte entendo o tipo de reacção ao meu artigo não somente como resultado do provável mérito da minha escrita e do argumento nela exposto, mas pela dimensão de Mia no campo da escrita. Se o título do artigo fosse: " Os alienados do Patrício" com certeza não lhe teriam prestado tanta atenção quanto o prestaram ao "Os alienados do Mia". Por isso, ainda acho que o mérito deve ser devolvido ao Mia, a quem desde já agradeço pela sua reacção. Estamos em sintonia Mia.
À Maria de Lurdes Torcato posso também endereçar algumas palavrinhas.Primeiro, como não podia deixar se ser, o abrigado pela reacção à réplica. Segundo, um pequeno esclarecimento. Não pretendi ao citar a valsa, o véu e as grinaldas sugerir que esses devem ser, no sentido normativo, os modelos culturais a seguir pela nossa juventude. O meu argumento tenta ir além disso. A pergunta colocada a seguir no seu texto"que sentido fazem esses ingredientes hoje?" pode, metodologicamente,captar parte do que tentei defender, mas com alguns reparos. Essa pergunta não tem como resposta prévia: - nenhum! Ou " Mas há verdadesque têm que ser ditas. Vivemos mesmo à mercê de uma geração alienada" que Torcato adestra.Essa pergunta merece ser feita aos jovens, antes que dela tiremos alguma conclusão, precipitada. Não me quero arriscar a dar uma resposta sem base empírica, mas também me recuso a aceitar sem evidências que o melhor é achar que a geração de jovens a que pertenço está alienada. Não me conforta a excepção que Torcato faz da minha pessoa. Não sinto orgulho algum em ser o jovem não alienado duma geração alienada.Preferia, antes pelo contrário, ser o jovem alienado duma geração não alienada. Aproximemo-nos dos jovens e procuremos compreender as suas opções sem julgá-las a priori. Sem julgarmos que os 'mais velhos' são o"padrão" e os mais novos o "desvio padrão". Como diz um dos comentaristas ao seu texto: "o alienado é (sempre) o outro". Essa é a minha sugestão. Quanto as supra-identidades, preciso estudá-las ainda.Aos restantes blogistas que comentaram a minha réplica fica aquele abraço.
Patrício Langa
Cape Town
01/04/05
NA FRONTEIRA DO ANONIMATO – CARTA AOS BLOGUISTAS
Caro Machado da Graça
Antes de mais, permita-me felicitar-lhe pelo espaço do blog que nos proporciona uma rica experiência de debate intelectual. Em segundo lugar, agradeço-lhe a publicação da minha réplica aos "sete sapatos sujos" do escritor Mia Couto.Sinto-me, de alguma maneira despido, exposto ao olhar do público. Pelo menos daquele que tem acesso a espaço virtual da NET por meio do seu blog. Confesso! Não esperava que aquilo que não passava de mero atrevimento, em replicar o consagrado Mia, se transformasse num espaço alargado de debate sobre a nossa identidade moçambicana. Sinto-me lisonjeado pelo impacto 'positivo' que está a surtir o artigo que escrevi. Mas pesa-me, agora, nas costas a responsabilidade de corresponder a uma certa expectativa que se começa criar em torno da minha escrita e que não fazia parte dos meus planos iniciais. Na verdade já vinha publicando, não com regularidade, ideias minhas sempre que achasse oportuno fazê-lo. Faço publicidade de borla para a revista Mais que conta com uns 3 ou 4 artigos de minha autoria. Mas dessa escrita modesta nunca havia recebido algum tipo de palmadinhas. O refúgio no anonimato continua a ser um lugar confortável para mim. Por isso,pretendo continuar no mesmo ritmo. Perdoem-me os que esperavam mais de mim.A réplica ao Mia, e o seu impacto, criou em mim a sensação de que estou chegando ao limite da fronteira do anonimato. Já me explico. Sem falsa modéstia de minha parte entendo o tipo de reacção ao meu artigo não somente como resultado do provável mérito da minha escrita e do argumento nela exposto, mas pela dimensão de Mia no campo da escrita. Se o título do artigo fosse: " Os alienados do Patrício" com certeza não lhe teriam prestado tanta atenção quanto o prestaram ao "Os alienados do Mia". Por isso, ainda acho que o mérito deve ser devolvido ao Mia, a quem desde já agradeço pela sua reacção. Estamos em sintonia Mia.
À Maria de Lurdes Torcato posso também endereçar algumas palavrinhas.Primeiro, como não podia deixar se ser, o abrigado pela reacção à réplica. Segundo, um pequeno esclarecimento. Não pretendi ao citar a valsa, o véu e as grinaldas sugerir que esses devem ser, no sentido normativo, os modelos culturais a seguir pela nossa juventude. O meu argumento tenta ir além disso. A pergunta colocada a seguir no seu texto"que sentido fazem esses ingredientes hoje?" pode, metodologicamente,captar parte do que tentei defender, mas com alguns reparos. Essa pergunta não tem como resposta prévia: - nenhum! Ou " Mas há verdadesque têm que ser ditas. Vivemos mesmo à mercê de uma geração alienada" que Torcato adestra.Essa pergunta merece ser feita aos jovens, antes que dela tiremos alguma conclusão, precipitada. Não me quero arriscar a dar uma resposta sem base empírica, mas também me recuso a aceitar sem evidências que o melhor é achar que a geração de jovens a que pertenço está alienada. Não me conforta a excepção que Torcato faz da minha pessoa. Não sinto orgulho algum em ser o jovem não alienado duma geração alienada.Preferia, antes pelo contrário, ser o jovem alienado duma geração não alienada. Aproximemo-nos dos jovens e procuremos compreender as suas opções sem julgá-las a priori. Sem julgarmos que os 'mais velhos' são o"padrão" e os mais novos o "desvio padrão". Como diz um dos comentaristas ao seu texto: "o alienado é (sempre) o outro". Essa é a minha sugestão. Quanto as supra-identidades, preciso estudá-las ainda.Aos restantes blogistas que comentaram a minha réplica fica aquele abraço.
Patrício Langa
Cape Town
01/04/05
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