Ideias para Debate

Friday, January 21, 2005

Troca de Ideias

Este blog foi aberto como local para a troca de ideias. Agradeço, portanto, à Maria de Lurdes Torcato pelo texto que enviou e que se transcreve abaixo:

Caro Amigo
Acedi ao Blog mais fácilmente do que me julgava capaz. A iniciativa é
óptima e só posso lamentar o meio restrito que ela atinge.

1 - Começando pelo texto mais antigo, o do Leite de Vasconcelos, foi pena ele não lhe ter dado publicidade na altura em que o escreveu. Mas é reconfortante lê-lo mesmo só agora. Continua a impressionar pela clareza de pensamento, articulação e expressão das ideias, mas também porque não é só o texto seco e frio de um teorizador que raciocinava bem, é o sentimento de um nacionalista frustrado por as coisas se terem passado como se passaram na década de 85-95. Como êle, somos muitos a rever como mal empregues os melhores anos da nossa vida, ludibriados por quem nos fez acreditar, nos anos 70, num projecto que afinal, vêmo-lo hoje claramente, não era levado muito a sério pelo "colectivo" que tinha o poder de o pôr em prática, ou pelo menos pelo "colectivo" inteiro. De qualquer modo teria
sido bom para todos os moçambicanos o conhecimento de ideias diferentes, de ideias arrojadas e descomprometidas, de "ideias", pura e simplesmente.
Curiosamente, a Frelimo que o L V desanca com tanta virulência, ao começar a deixar-se envolver e seduzir pelo seu próprio inimigo, deixou também de produzir "ideias" mesmo sob a forma de doutrina. "A questão está em recusar a inexistência de alternativas a este colocar o país acocorado agradecendo que o pacifiquem à custa da sua venda a retalho" - escreveu LV que pensava que as classes trabalhadoras deviam organizar-se para resistir à recolonização do país. Mas se o pensou não teve a oportunidade de o dizer em voz alta e o expôr à crítica e à discussão. Todos nós, seus contemporâneos, tivémos responsabilidade nisso. Para que este estado de coisas não persista, encorajemos agora uma nova geração de pensadores a exprimirem-se e a conduzirem o debate com os seus compatriotas. Apesar do vazio de ideias de mais de uma década, o pensamento moçambicano existe e o sentimento patriótico está vivo. É altura de responder ao apelo contido no poema de Jorge Rebelo.

2 - O texto de Roberto Tibana é já uma dessas respostas. É uma
interpretação da história recente e uma denúncia ainda mais virulenta que a do LV contra os que fizeram guerra e fazem politica para benefício pessoal, usando o multipartidarismo e outras vantagens da democracia que desprezam, para correr em direcção às suas metas. O povo é deixado na berma da estrada a olhar os maratonistas. Depois de ler RT percebemos melhor os 65% de abstenção nas últimas eleições. LV e RT não aderiram ao projecto moçambicano de 75 pelas mesmas razões, o que se explica pelas diferenças de geração e de formação política; mas aquilo em que diferem, passados 30 anos e muitas mudanças no panorama internacional, já não tem
nenhum peso. Aquilo que os uniria se LV fosse vivo, seria o nacionalismo puro e desinteressado e a generosidade na entrega ao serviço do povo em detrimento do interesse pessoal. Os textos de ambos trazem o mesmo clamor por justiça, verdade e honestidade. Estes são valores humanos universais, para lá de ideologias, religiões e culturas.

3 - Também fui atraida, aliás porque me chamaram a atenção para eles, pela série do sociólogo Elísio Macamo (que tão tipicamente os editores do Notícias remeteram para a página recreativa!). Seria muito bom que o Machado da Graça trouxesse a série completa para este espaço. EM acredita na necessidade do debate de ideias para fazer avançar a sociedade. É óbvio que não só acredita no debate como na democracia (que lhe está associada desde o tempo dos Gregos que a teriam legado à chamada civilização ocidental), e não tem medo deles. É um intrépido soldado das guerrilhas libertadoras da nossa era, que se fazem com o pensamento que gera ideias, e com a palavra que as traduz e as comunica. O desafio que ele lança como perguntas podia atrair um forum em que os participantes ofereciam as suas
ideias à crítica dos outros. Divulgar essas participações seria tarefa dos meios de comunicação social. Há dias, em conversa informal, um dos intelectuais deste país, Luís Bernardo Honwana, dizia que quem tem ideias sobre os assuntos não deve necessáriamente estar a executar governação; mas um governo interessado em desempenhar a sua tarefa o melhor possível deve usar os intelectuais como se faz noutros países, como o "Think-tank" onde vai buscar beber ideias e sugestões. O mundo tal como está hoje, de unipolarizado pode passar a monolítico e totalitário se não houver
cidadãos que se unam para resistir e ocupar os espaços ainda vazios com ideias diferentes e alternativas práticas, para contrariar a uniformidade que nos querem impor.
Maria de Lourdes Torcato

PS - Às questões que EM levanta eu queria acrescentar algumas. Será que os nossos políticos se consideram hábeis e merecedores de admiração quando mentem descaradamente aos jornalistas, quando os fintam e desconcertam com respostas impossíveis de rebater sem ser grosseiro? Desgraçadamente para a ideia que eu tinha do nosso "homem de acção" vi-o fazer isso mesmo ao Jeremias Langa da STV que perguntava como se podia prevenir um presidente-empresário de confundir os seus interesses com os do Estado.
Com a Constituição - foi a resposta imediata. O jornalista não insistiu e eu senti o seu embaraço. Onde é que a Constituição prevê isso? É que se previsse, estaria a prever também que um político sem escrúpulos e ganancioso dos bens públicos chegasse ao lugar mais alto da magistratura.
Outra é a do Procurador-Geral da República que vi ser citado num semanário dizendo que só sabia das últimas do caso Anibalzinho pelos jornais.
Pretende o Senhor PGR que achemos normal não estar melhor informado do que eu, mesmo tendo acesso a dossiers que a mim são vedados?

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